Simulação de Assembleia: Garantir quotas mínimas para o acolhimento de refugiados na Europa
Joana Barata Lopes
Vamos passar ao terceiro ponto. Eu pedia aos grupos para
ocuparem os lugares, sendo que o Governo é o Grupo Azul, a Oposição 1 o Grupo
Amarelo e a Oposição 2 o Grupo Verde.
Com uma rapidez maior…
Esta malta demora muito tempo a sentar-se.
Eu pedia aos grupos que se sentassem…
Vamos prosseguir com o ponto 3 da nossa Ordem de Trabalhos.
O tema é "Garantir quotas mínimas para o acolhimento de refugiados na Europa”.
Para iniciar este ponto tem a palavra, pelo Governo Azul, a senhora Primeira-ministra
Juliana Correia. Dispõe de cinco minutos, Sra. Primeira-ministra.
Juliana Mendes Correia
Sra. Presidente da Assembleia da República, caros membros
do Governo, senhoras e senhores deputados;
Atualmente deparamo-nos com a crise humanitária do
Mediterrâneo. É um fenómeno chocante, uma travessia perigosa, marcada
diariamente pela quantidade de mortes em naufrágios, relembrada em imagens de
milhares de refugiados desembarcados no Sul da Europa.
Não se trata de um simples fenómeno migratório. São
milhares de sobreviventes de conflitos bélicos, perseguições religiosas,
étnicas e culturais. Estes refugiados são provenientes de países que estão
afundados em crises que comprometem o próprio desenvolvimento e
sustentabilidade das suas sociedades. Não podemos ser passivos perante as
atrocidades infligidas, em especial às crianças, nestas zonas de guerra.
Os números são assustadores e aumentam de dia para dia.
Senão vejam: foi avançado pela agência da ONU para os refugiados que já se
registaram em 2015 quase 300 mil entradas em território europeu. Em 2014 foram
219 mil chegadas e cerca de 3.500 mortos e desaparecidos. Para os homens,
mulheres e crianças que se arriscam diariamente nesta travessia, a viagem para
a Europa tornou-se o destino final para as suas vidas. Para estas pessoas é
necessário haver alternativas a cruzar o Mediterrâneo que não sejam em
embarcações de traficantes de seres humanos.
A Europa tornou-se o único caminho de esperança, de
reconstrução e dignidade. A União Europeia tem o dever moral de auxiliar os que
mais precisam, acolhendo e integrando os refugiados. Os países que hoje recebem
esses migrantes estão a salvar vidas e a proteger essas pessoas. Por isso,
devem ser apoiados pela União Europeia – compartilhar responsabilidades é
obrigação de todos os países membros.
Este Governo defende uma resposta de proteção por parte
da União Europeia. Consideramos particularmente importante o aumento dos
recursos destinados às operações marítimas de busca e resgate, bem como o seu
acolhimento.
Mediante tudo isto, o Governo propõe a discussão e
imposição de quotas mínimas para o acolhimento de refugiados. As quotas seriam
definidas com base nos fatores que indicariam a capacidade de acolhimento e
inserção social.
Os principais fatores seriam o produto interno bruto per
capita, a taxa de desemprego e o número de refugiados já recebidos. Os países
com maior PIB per capita, por disporem de mais recursos, devem acolher o maior
número de refugiados. Por outro lado, o acolhimento de refugiados deve ter como
objetivo a sua integração na sociedade e a promoção da independência dos
indivíduos. Assim, os países com uma menor taxa de desemprego terão a
capacidade para integrar mais refugiados. Estas medidas devem ser consideradas
em conjunto para determinar o número de refugiados que podem receber.
Com estas propostas pretendemos proteger os refugiados e
integrá-los em países seguros, bem como combater a entrada clandestina dos
migrantes através do registo de identidade na base de dados europeia EURODAC.
Combater a proliferação de redes criminosas de tráfego de
migrantes e garantir o controlo da atribuição de asilo, seguindo as normas do
sistema europeu comum, bem como contribuir para mitigar o envelhecimento
populacional. O acolhimento de migrantes afigura-se uma oportunidade para a
integração de jovens adultos em países em que a pirâmide populacional está
invertida. Senhoras e senhores deputados, são vidas que flutuam no Mar Mediterrâneo.
Obrigada.
[APLAUSOS]
Joana Barata Lopes
Muito obrigada, senhora Primeira-ministra. Para
interpelar o Governo, tem a palavra o Partido Amarelo, senhor deputado João
Alves. Dispõe de três minutos.
João Alves
Muito obrigado. Gostaria de começar o meu discurso
dizendo que saúdo o facto de o Governo se preocupar com a vida humana e é um
facto que, pelo menos na oposição também é consensual que sim, é necessária uma
ação consensual europeia que vise responder a este flagelo.
No entanto, a proposta que nos é feita, terá três pontos
que eu criticarei e vou provar o facto de esta proposta não ser boa para
resolver o problema em si.
Começava por dizer que a proposta é omissa, e por ser
omissa é perigosa. E porquê que eu digo que ela é omissa? Porque são-nos dados
três critérios para definir um número de pessoas que irão entrar no país, mas
não nos falam de medidas de segurança e controlo de fronteiras, por exemplo,
para determinar que pessoas são estas. Portanto, a partir do momento em que
tenhamos o número mínimo de pessoas, não haverá qualquer controlo das pessoas
que entram no país.
Sendo omissa neste ponto, teremos uma quota cega, e sendo
a quota cega estaremos então sujeitos a um aproveitamento abusivo, por exemplo,
e num caso extremo, de grupos terroristas, o que constitui então um problema de
segurança nacional. Parece-me que o papel do Estado é defender a segurança
nacional e estamos a falhar neste mesmo ponto.
Continuando. Existe o uso chavão gourmet "inserção social
no trabalho”, no trabalho, sim, na proposta. Ele é referido várias vezes, mas
não é concretizado. Não vi qualquer medida para integrar estas pessoas na
Europa, apenas acolhê-las. E se nada for feito quanto a este problema, o que
vai acontecer é o que acontece já, por exemplo, na França. Temos conflitos
graves, um choque cultural gravíssimo, e estaremos a resolver no curto prazo o
acolhimento de imigrantes mas não resolveremos o problema da integração social
que é algo bem mais grave, e criaremos um problema de maior prazo em Portugal e
noutros países da Europa.
Por último, eu gostaria de mostrar aqui qual é o objetivo
do Governo e vou citar algo que está no Programa que diz: com esta proposta nós
visamos combater os seguintes problemas, e entre outros problemas dizem o
envelhecimento populacional. Ora, senhores deputados, isto parece-me um tanto
ou quanto um aproveitamento daquilo que é uma situação complicada, um
oportunismo, e mesmo uma grande desonestidade, porque não estão a defender
vidas nenhumas, vocês querem é resolver um problema que foram incapazes de
resolver até ao momento. Parece-me que o envelhecimento populacional não se
resolve assim e demonstra uma grande incapacidade do Governo para responder.
Uma instrumentalização da vida humana, por assim dizer.
Isto mesmo mostra a ilegitimidade do Governo para
resolver este mesmo problema e seja ele qual for. Mostra, sim, que o Governo
não poderá aplicar este mesmo programa, não resolverá o problema e é ilegítimo
para resolver o que quer que seja. Muito obrigado.
Joana Barata Lopes
Muito obrigada, senhor deputado. Para uma segunda interpelação
ao Governo pela Oposição 2, pelo Partido Verde, tem a palavra a senhora
deputada Mara Alves. Dispõe de três minutos, senhora deputada.
Mara Alexandra Alves
Exma. senhora Presidente, Exmos. membros do Governo,
senhores deputados;
Venho esclarecer o Governo de que refugiados são
diferentes de migrantes. Lamento não o saberem. [APLAUSOS] Hoje temos uma
demonstração de uma visão simplista, ingénua, de quem acredita que podemos
mudar o mundo com palavras.
Não se pode regulamentar a solidariedade, até porque
podemos estar a impor a países cuja cultura e sistema social não estão
preparados para integrar. Porque, convenhamos, não basta abrir as portas. É
preciso estas famílias - que fogem de um drama - acreditarem que cá encontrarão
a esperança. Esta proposta baseia-se em meros indicadores macroeconómicos e
nós, Portugal, bem sabemos que são redutores estes números. Não exprimem as
reais capacidades de cada um lidar com uma situação dramática quanto esta.
Impor mínimos não é sinónimo de acolhimento. Através de
recentes declarações de outros Estados-membros percebemos que apenas querem
aceitar as pessoas por critérios completamente dissociados de valores de
dignidade humana. Querem impor quotas mas já há países que só estão dispostos a
receber mediante a segregação de etnias, línguas e religiões, ironizando até:
"não temos mesquitas, não recebemos muçulmanos”. Este comportamento é xenófobo
e inaceitável e revela que a Europa se esqueceu do seu passado.
Prova disso é que já existem convenções há mais de 60
anos que provam estas situações, ou se esquecem que todos os países que
pertencem às Nações Unidas estão sujeitos a estas Convenções?
Portugal é um país historicamente muito solidário. E não
tenhamos dúvidas: somos 100% a favor do acolhimento, mas que seja responsável e
quando resulta da vontade generalizada da sociedade civil em não só acolher mas
também integrar. Só assim estaremos a contribuir para a resolução do problema.
Agora, simplesmente impor a culturas tão diferentes que
acolham refugiados sem que estejam preparados, é simplesmente empurrar com a
barriga – o tipo das vossas políticas.
A sociedade civil começa a dar exemplos de famílias que
se disponibilizam para receber, sem precisarem de impor. É este espírito de
solidariedade, sincera, genuína, que deve contagiar todos os países, porque é
de pessoas que estamos a falar e não de números.
Não precisamos de quotas, não podem ser utilizados por
países como a Alemanha, o Reino Unido e a Polónia para simplesmente varrer este
problema pela Europa.
Joana Barata Lopes
Dispõe de menos de 30 segundos, senhora deputada.
Mara Alexandra Alves
Portugal não pode estar a soldo de países que
simplesmente não querem resolver o problema. Orgulhamo-nos da nossa cultura e
os portugueses lamentam que este Governo esteja sempre um passo atrás do seu
próprio povo.
[APLAUSOS]
Joana Barata Lopes
Muito obrigada, senhora deputada. Para responder às
interpelações dos Grupos Parlamentares da Oposições tem a palavra, pelo
Governo, o Sr. Ministro Luís Ponte.
Luís Mário da Ponte
Muito boa tarde, senhora Presidente da Assembleia da
República, caros membros do Governo, senhoras e senhores deputados.
Em primeiro lugar queria agradecer ao Grupo Verde por
concordar com as nossas propostas, sendo que eu não concordo com algumas das
apreciações que foram feitas.
Xenofobia? Nós não somos um povo xenófobo, o Governo
também não é xenófobo. Nós somos um povo por natureza emigrante e que recebe
imigrantes. Veja-se, em 99, nós recebemos um dos maiores fluxos de migração de ucranianos,
recebemos cá 40 mil pessoas - legais, fora os ilegais – e todos são cá bem
recebidos.
A nossa proposta visa, essencialmente, defender a boa
integração dos migrantes – ou refugiados: semântica, preciosismo, para mim. E
neste caso nós queremos dar uma resposta solidária da Europa, uma resposta
democrática, porque neste momento, como você disse – deturpou os factos -,
estão dois ou três países a receber o fluxo migratório e há muitos países que
não querem receber migrantes. Ora, a Europa é uma comunidade democrática –
vence, em Democracia, sempre a vontade da maioria, não pode ser a vontade da
minora – e neste caso nós, ao estabelecermos quotas mínimas, com base nos
critérios previamente definidos: critérios de PIB per capita, o país tem que
ter uma solidez financeira para prestar os apoios necessários aos migrantes que
vão integrar o nosso país. Tem de ter uma taxa de desemprego que se coadune com
as quotas que vamos receber de forma a podermos absorver essas pessoas, e se
integrarem na economia mediante integração no mercado de trabalho.
O número de refugiados que já recebemos também é um fator
importante porque se nós só podemos receber, com dignidade, 30 mil pessoas e já
temos cá 20 mil, não dizemos que vamos receber mais 30 mil porque vai haver
pessoas que não vão ter uma resposta digna por parte do nosso país.
[APLAUSOS]
O Grupo Amarelo invocou a premissa da segurança, o ponto
da segurança. No meu caso, e no caso do Governo, partilhamos todos da mesma
opinião, estas definições das quotas mínimas servem exatamente – na sua génese
- para dirimir o problema da segurança. Ora vejamos, este ano já vão em quase
300 mil. Serão todos legais, passam todos pelo crivo da segurança, do direito
de asilo? De certeza há muita gente que não está a ser triada, não está a ser
verificada, se são realmente pessoas de bem que estão a entrar no país. Ora,
nós, ou damos uma resposta conjunta a nível europeu e por isso o nosso Governo
propõe à Assembleia da República…
Joana Barata Lopes
Eu peço desculpa, senhor Ministro, que não avisei em
tempo devido mas está a terminar o seu tempo.
Luís Mário da Ponte
Eu vou terminar. Para terminar, Portugal e o nosso
Governo acha que, ao definir as quotas, nós estamos a dar uma resposta ativa.
Nós não podemos continuar a enfiar a cabeça na areia, a fazer de conta que não
existe um problema no Mediterrâneo, e temos que tomar medidas concretas,
eficazes e…
[APLAUSOS]
Joana Barata Lopes
Já terminou o seu tempo, senhor Ministro, muito obrigada.
Muito obrigada a todos. Vamos passar para as perguntas
relativas ao debate, peço aos grupos que não participaram neste debate para
responderem à questão: quem ganhou o debate?
Aqueles que entendem que o debate foi ganho pelo Governo
do Grupo Azul, levantem por favor o braço.
Muito bem, obrigada. Aqueles que entendem que foi o Grupo
Amarelo, a Oposição 1, portanto, o João Alves, que ganhou o debate? Podem
levantar o braço.
Muito obrigada. Quem entende que foi a Oposição 2, o
Grupo Verde, pela Mara, que venceu o debate?
Ganhou a Oposição 2 o debate.
Vamos agora à segunda questão e peço a todos que votem,
também os grupos que intervieram no debate, relativamente à vossa opinião
pessoal.
Quem entende que devem ser garantidas quotas mínimas para
acolhimento de refugiados na Europa, por favor levante o braço.
Para efeito de clarificação, vamos perguntar quem é
contra para perceber se é evidente…
É evidente ainda assim, nós no outro apuramos os
resultados de forma mais ou menos criteriosa.
A maioria entende que deve haver a garantia de quotas
mínimas para o acolhimento de refugiados.
Muito obrigada a todos. Passo a palavra ao Duarte ou ao
Carlos.
Dep.Carlos Coelho
Ora bem, numa lógica sexista, de género, nós tivemos aqui
um debate entre duas mulheres e um debate entre dois homens. A Mara fez
contraponto à Juliana e a Mara teve uma postura mais combativa. Um discurso
construído com sound bites e com
muita eficácia comunicacional, com grandes fragilidades da argumentação. A
Juliana esteve muito bem, quer na postura quer na argumentação. Eu se tivesse
votado, teria dado a vitória ao Governo, porque acho que no conjunto da
performance, das apresentações e da argumentação, o conjunto é mais
justificável.
Mas em qualquer circunstância eu percebo que vocês
premiaram a combatividade e a capacidade de comunicação da Mara que esteve, sob
esse ponto de vista, muito bom. Embora dissesse coisas que não fazem sentido. A
Mara disse que não se pode regulamentar a solidariedade. Pelo contrário, tem
que se regulamentar a solidariedade, tem que se estimular a solidariedade, tem
que se incentivar a solidariedade. Houve um conjunto de argumentos que, se
houvesse contraditório, a Mara ia ficar um bocadinho aflita porque não consegue
sustentar parte das coisas que afirmou.
Uma coisa que eu não vos disse no "Falar Claro” é que a
comunicação mais eficaz é aquela que associa a substância à forma. Se vocês
forem muito bons na substância mas maus na forma, são caretas, são chatos. Se
forem muito bons na forma mas maus na substância, são demagógicos, são
populistas. Se forem maus nos dois, estão lixados.
A única coisa que vos dá sucesso e credibilidade é
associar a substância e a forma. E aqui vimos exatamente alguém com mais
substância e alguém com mais forma.
O João Alves esteve melhor na argumentação na Oposição,
no meu ver. Quando pôs o dedo na questão dos argumentos, deveria algum de vocês
ter dito uma coisa óbvia. É que aquilo que diferencia a capacidade de
acolhimento é a dimensão dos países. Com certeza que o PIB é muito importante,
com certeza que o facto de já terem ou não já recebido refugiados é importante,
mas o mais importante é se eu tenho 300 mil habitantes e vivo numa ilha chamada
Malta ou se tenho 80 milhões de habitantes e vivo num território chamado
Alemanha.
O maior fator de diferenciação que o Governo não conteve
na sua proposta era exatamente a dimensão do país, para lá da sua riqueza e de
tudo o resto. Esse argumento era um argumento evidente e ninguém o invocou.
Finalmente, o Luís esteve bem nos argumentos, um
bocadinho menos bem na forma. Uma coisa que não se diz em linguagem parlamentar
é "você”. Diz-se "senhor deputado”, "senhor”, "senhora”, mas "você” é um termo
proibido.
Quando o Luís invocou – e bem, deu o exemplo da Ucrânia,
percebe-se que vocês fizeram o trabalho de casa, e aquilo que disse é
exatamente verdade, foram mais de 40 mil que recebemos. Porquê que recebemos,
isso é uma história engraçada, uma história de corrupção, da Alemanha, não
envolve portugueses. Ele teria ganho se fizesse o discurso emocional ao facto
de Portugal também ter sido um país de emigrantes. Ou seja, durante décadas
enviamos portugueses lá para fora, queríamos que esses portugueses fossem bem
recebidos, já demos provas, com a Ucrânia e com outros, de que recebemos bem.
Portanto, esse argumento de Portugal como país de emigração e país de imigração
poderia ter sido invocado com sucesso e com uma carga emocional interessante.
Duarte Marques
Muito rapidamente… Eu acho que a Juliana tem tudo, é que
fazer de Governo é muito difícil. Ela – ó Rui não leves a mal – tem tudo, é
boa. Fez isso bem feito e vocês prepararam bem isto.
Acho que o Luís tinha os argumentos todos, isto vocês
prepararam muito bem este tema. Agora, tu andaste ali um bocadinho atrapalhado,
às vezes, com as expressões, e puseste a mão no bolso. Não se põe a mão no
bolso… Tens que ter uma postura muito direita, muito estático. E
atrapalhaste-te um bocadinho, mas tinhas os argumentos todos e usaste-os bem, e
acho que foi isso que prejudicou um bocadinho.
Depois a Mara, a Mara é só comunicação. Tem pelo na
venta, os argumentos, alguns são completamente contraditórios com os outros.
Falaste das mesquitas e depois dizias que afinal não havia passado. Quiseste
ultrapassar o Governo pela direita. E ninguém disse uma coisa, que era o que
vocês deviam ter feito: finalmente o governo cedeu ao que a oposição queria,
que era: vamos acolher refugiados. Porque neste contexto ser contra o
acolhimento de refugiados é muito difícil. Mas foi um exercício com muito
nível.
O erro do João, na minha opinião, foi teres falado muito
rápido. Estavas com boa postura, tudo impecável, alguns bons argumentos,
originais, mas estavas a falar muito rápido. Tu tinha tempo para falar. E foi
isso que te prejudicou e que te fez não ter votação praticamente muito alta.
Queria só dizer também ao Luís que o Governo não acha… o
Governo não acha nada, o Governo pensa, o Governo propõe, percebes… tem que ser
assim. Era o que mais faltava que o Governo não concordasse contigo. Tu
disseste: eu concordo e os meus colegas do Governo também. Era o que mais
faltava que não concordassem…
Mas de resto acho que foi
um bom debate. E só dar-vos aqui uma dica que eu acho importante. A Juliana fez
uma coisa que a Joana Barata Lopes gosta muito de dizer que é "visualizar”. Tu
dizes uma coisa e visualizamos uma imagem. E ela criou muitas imagens no
discurso e há uma que é arrepiante. Que é: são vidas que flutuam no
Mediterrâneo. E ela usou isto várias vezes, várias expressões destas, estava
sempre a dar exemplos de casos. E aquilo tocou bastante e foi muito emotivo.
Dep.Carlos Coelho
Podemos aplaudir… podemos aplaudir o Governo e as
Oposições.
[APLAUSOS]
E só quero dizer mais
uma coisa: é o
problema do "tecnocratês”. A política, muitas vezes… e vocês disseram isso na
vossa discussão dos trabalhos de grupo, sobre a linguagem hermética dos
políticos, quando dizem que eles andam à volta e não são claros. Ora, vocês,
neste exercício, Grupo Azul, eu que acho que vocês deviam ter ganho o debate e
que felicitei a vossa performance, deixem-me ler o que vocês propõem: "O
Governo – portanto, o Governo quer quotas para os refugiados -, o Governo
propõe-se estudar a possibilidade de recomendar a imposição aos países da União
Europeia.” Mais redondo e "tecnocratês” não existe. Atenção, quando vocês
querem dizer uma coisa, digam, não andem à volta até chegar ao ponto. Muito
obrigado.