Muito obrigado.
Dr. Carlos Coelho, muito obrigado pelo convite. Gosto muito de estar aqui. Como teve a amabilidade de dizer, há cerca de 13 anos falaram-me em patrocinar este projeto que eu achei que era um projeto de grande importância. Não há nada como investirem na vossa educação. É um dos problemas que Portugal tem e uma das coisas que mais podem contribuir para terem um futuro melhor.
Portanto, esta é uma iniciativa que tenho muito gosto em apoiar e agradeço o convite para estar aqui hoje. Pensei em trazer-vos alguns slides , até por ser a primeira intervenção, para vos explicar um pouco quais foram as razões da crise e quais são os principais problemas que existem a nível mundial que originaram a crise.
Explicar-vos também o que tem vindo a acontecer desde aí e como é que Portugal se posiciona em relação aos outros países, porque é que agora estamos num caminho bastante melhor e quais as lições a tirar para o futuro e os principais passos que se devem dar.
Passemos ao primeiro slide , sei que há vários monitores pela sala. Qual é a situação mundial em termos de desequilíbrios em termos da balança externa? Ou seja, quais são os países que vendem e exportam mais (que são os países que estão acima do gráfico) e quais são os que importam mais, do que aquilo que produzem.
Deste gráfico, ao longo de 17 anos, o que se vê? Vê-se que os países que têm superavits comerciais são praticamente sempre os mesmos. Podem ver no gráfico os países produtores de petróleo a vermelho, a verde a Alemanha e o Japão, a azul o resto da Ásia emergente.
Quem é que sistematicamente consome mais do que produz? A verde os Estados Unidos, a roxo o resto da Europa, excluindo a Alemanha e depois a cor de laranja o resto do mundo.
Não só são sempre os mesmos países, como ao longo destes 17 anos, sendo que o gráfico começa em 1998, a soma acumulada destas barras que são desequilíbrio em cada ano, atingem cerca de 35% do PIB mundial.
Além disso, como podem ver, os desequilíbrios máximos foram exatamente antes da crise em 2007/2008, e apesar da tentativa de correção dos desequilíbrios que levaram à crise desde 2008, as barras continuam na mesma direção embora menores.
Portanto, os desequilíbrios continuam a acontecer desde 2008, apesar de serem menores do que eram anteriormente. Este é o primeiro grande problema: desequilíbrios a nível internacional entre países que exportam mais do que produzem e outros que sistematicamente consomem mais do que aquilo que produzem.
Segundo problema a nível mundial: a dívida, que neste momento já não é só externa. Este gráfico representa a dívida do mundo, incluindo a externa e a interna e separada inclui a dívida pública mas também a privada, quer das empresas, quer dos particulares.
Contra aquilo que penso ser o pensamento corrente, podem ver nesta linha a preto que é a crise financeira que ocorreu algures no ano de 2008, antes da crise a dívida do mundo representava cerca de duas vezes o PIB mundial.
Neste momento, a dívida continua a aumentar e, oito anos depois, a dívida mundial representa quase 2,3 vezes o PIB mundial. Ou seja, depois de toda a austeridade, depois de todas as medidas para tentar equilibrar os desequilíbrios, a dívida do mundo como um todo subiu e é, neste momento, 2,3 vezes o PIB mundial.
Isto é um relatório que saiu do Fundo Monetário Internacional no fim do ano, se virem, nos países ainda é bastante maior, nos países emergentes é menos importante, mas em ambos os conjuntos aumentou depois da crise.
Se olharmos para a dívida que acabei de mostrar por países, a verde claro têm a dívida pública, a verde escuro a dívida das empresas e a cinzento a dívida dos particulares.
Quando olhamos para estes países, veem que não só a dívida do mundo aumentou e há aqui três conclusões muito importantes.
Estas duas barras consecutivas representam o país há oito anos e o país agora. No canto da esquerda têm a Índia seguida da Alemanha.
Primeira conclusão muito importante desde gráfico: o único país na Europa cuja dívida não aumentou nestes oito anos e fala-se muito no modelo económico alemão e às vezes criticamente, mas a Alemanha é o único país da Europa que não aumentou a dívida nestes últimos anos.
O outro é a Índia, que está à esquerda neste gráfico.
Segunda conclusão: outro grupo de países têm vindo a diminuir a dívida privada, como os Estados Unidos que são o quarto da contar da esquerda, o Reino Unido que é o sexto e a Espanha. Mas como aumentam a dívida pública porque o Estado teve de intervir para corrigir os desequilíbrios, a dívida total aumenta. Depois, há um terceiro grupo de países, no qual Portugal se inclui sendo o terceiro a contar da direita com a terceira maior dívida destes países que estão neste gráfico, 340% do PIB.
Há países como Irlanda, Grécia, Portugal, Japão, em que a dívida aumenta em todos os setores: público, privado e nas empresas. Portanto, veem que não só como conjunto no mundo, mas em vários países relevantes, que o problema da dívida é enorme e que as medidas do pós-crise ainda não conseguiram resolver.
Como é que estes dois problemas se deveriam resolver em termos económicos? O que se deve fazer numa situação destas é que para não aumentar o desemprego resultante destas crises, mas sendo necessário baixar a despesa interna nos países em que a dívida é muito alta e os desequilíbrios externos são altos, o importante é exportar mais de maneira a produzir para outros países que queiram importar.
Assim, a contração da procura interna é compensada pelas exportações.
Porém, como obviamente não podemos exportar para mais países que não sejam os da Terra, para uns países exportarem mais outros terão de importar mais.
Veem naquele gráfico dois círculos, no eixo vertical a dívida em termos de setor privado e no horizontal a dívida no setor público. Portanto, países que têm uma dívida muito grande, quer no privado, quer no público, como por exemplo a Irlanda, deveriam exportar para países que tenham baixa dívida pública e baixa dívida privada. Por exemplo, no canto inferior esquerdo está o Brasil.
Por isso, teoricamente, se a Irlanda em 2007 tem enormes dificuldades, uma crise muito grande no setor público e no privado, exportasse mais para países como o Brasil, atenuaria os efeitos da crise porque as exportações permitiriam manter o emprego quando a procura interna se contrai.
Logo, em teoria, os países que estão no canto superior direito, onde se inclui além da Irlanda, em 2007, a Espanha, o Reino Unido, os Estados Unidos, Portugal e Grécia, deviam exportar para países que estão no canto inferior esquerdo, onde temos além do Brasil, o México, a Alemanha e a China.
Para isto acontecer, é preciso que estes países mudem as suas políticas ou as suas culturas. Como imaginam, não é fácil - e daí que estes ajustamentos sejam tão lentos - que a Alemanha, por exemplo, mude os hábitos de poupança de durante dezenas de anos no pós-crise dos anos 30 para de repente passar a consumir mais. O que obviamente ajudaria outros países da Europa, implica uma mudança de comportamento do povo alemão ou uma mudança de política do governo alemão.
Então, que situação temos oito anos depois? Oito anos depois, os mesmos países estão a encarnado, como veem quase todos no mesmo sítio. Com exceção da China que aumentou bastante a dívida privada e como consequência disso os Estados Unidos melhoraram a sua posição.
Os outros países estão mais ou menos na mesma posição exatamente pela razão que vos acabei de dizer: não é fácil mudar hábitos de consumo ou hábitos de poupança.
Em termos de Europa, que é o que nos interessa mais, não é fácil haver um acordo não só político mas das populações que suportam os governos para tentar que não sejam apenas os países do sul da Europa a fazerem um drástico ajustamento. Mas, também a Alemanha, se tivesse políticas mais expansionistas, teria ajudado muito as exportações dos país do sul da Europa via importações que a Alemanha teria.
Como estas correções levam tempo, estamos num processo de ajustamento lento e esta é a posição de 2014. Como é que estamos em Portugal em termos dos ajustamentos e qual é a tendência?
Portanto, temos uma situações de dívida difícil - não podemos ser complacentes -, mas como é que está a situação em Portugal em termos de tendências para o futuro?
Aqui têm os salários nominais desde 2007 até 2014. Como estamos na Europa numa moeda única não podemos ter um ajuste cambial e como não podemos tê-lo o ajustamento da competitividade tem de vir por ajustamento real dos salários, o que é obviamente muito mais difícil para as populações fazerem.
Como veem, desde 2007 os salários nominais em Portugal baixaram cerca de 15% tal como em Espanha, enquanto que os salários na Alemanha e na Euro Zona como um todo aumentaram cerca de 15%.
Portanto, Portugal teve uma melhoria de competitividade em termos de salários de cerca de 30% nestes oito anos, o que obviamente foi feito com enorme custo interno, quer em Portugal, quer em Espanha, ou noutros países. Mas os nossos produtos ficaram, em função disso, muito mais competitivos.
Como consequência, um dos nossos grandes problemas, voltando agora ao primeiro slide sobre a dívida interna dos países, veem neste slide que enquanto os países da periferia estão na linha verde escura e Portugal está na linha verde clara, estávamos desde 2007 com défices consecutivos da nossa balança comercial.
Dado o ajustamento que foi feito, nos últimos anos, a nossa balança externa passou a ser uma balança positiva. O mesmo acontecendo nos países da periferia europeia. Enquanto que o core da Europa que está a preto continua positivo, sendo que o core da Europa basicamente é liderado pela Alemanha.
Portanto, como podem ver, um ajustamento muito forte em Portugal e no sul da Europa levou ao equilíbrio da nossa balança externa.
Mas se o core da Europa tivesse importado mais, com políticas mais expansionistas, o nosso ajustamento teria sido mais fácil.
Porém, estamos com este primeiro problema corrigido. A pergunta que resta nesta slide é: fizemos isto com uma enorme contração da procura interna e agora que Portugal está com crescimento positivo do PIB e com a economia a expandir, vamos conseguir manter o equilíbrio das contas externas, uma vez que uma vez que quando o PIB expande as importações também sobem?
Temos de nos manter vigilantes.
Por outro lado, recentemente, temos alguns choques externos muito positivos. Penso que eles têm de ser aproveitados. O primeiro deles é a queda muito significativa dos preços da energia e das matérias-primas em geral, do petróleo, de que somos importadores. Os preços baixaram muito no ano passado e agora estão a baixar outra vez.
Isto pode ser muito positivo para Portugal se obviamente conseguirmos passar a baixar estes preços das matérias-primas para os consumidores finais e para as empresas.
Este é um choque positivo sobre o qual obviamente não temos responsabilidade, mas temos de aproveitar porque é muito positivo para um país altamente importador de energia como o nosso.
O segundo choque positivo dá-se dada a política monetária do Banco Central Europeu com a baixa das taxas de juro e a desvalorização do euro que se seguiu. A desvalorização do euro é muito positiva para os nossos exportadores.
Como veem no gráfico a verde, o euro deprecia-se muitíssimo logo após o anúncio do quantitative easing no início deste ano. O euro estava quase a 1,40 face ao dólar e agora está a 1,15, portanto uma desvalorização muito positiva. Isto é muito importante para os nossos exportadores, além do facto de que manteve as taxas de juro europeias muito baixas. Como sabem, somos uma economia - gráfico número 3 - altamente endividada e por tal, quanto mais baixas forem as taxas de juro mais fácil para nós fazer o serviço da dívida.
Estes dois aspectos são muito importantes e dão-nos algum fôlego em Portugal para a nossa recuperação.
Em virtude desta situação, quais são as perspetivas de crescimento, inflação e desemprego para Portugal nos próximos anos?
Este gráfico mostra o consensus da Bloomberg, portanto são os mais recentes dados disponíveis deles, e têm a Irlanda, Espanha e Portugal, à esquerda o crescimento do PIB, no meio a inflação e à direita o desemprego.
O que se vê é que Portugal deve crescer ligeiramente menos neste ano do que 2%. Portanto, o PIB voltou a crescer e voltámos a ter um ciclo positivo de crescimento. Somos uma pequena economia aberta e por isso é muito importante que se mantenha o crescimento mundial.
Vêem que a Espanha também vai crescer, cerca de 3%, tendo efetuado também um ajustamento muito significativo.
As perspetivas da Bloomberg são de que Portugal cresça ligeira mais, à volta de cerca de 2%. A inflação que está muito próxima de zero em 2015, deve subir para cerca de 1% em 2016 e o desemprego que já está a descer deve continuar a descer.
Portanto, estas são as perspetivas dos agentes de mercado a nível mundial.
Como sabem, estamos com problemas na China, o que obviamente tem vindo a afetar os mercados. A China tem vindo a desacelerar, mas por outro lado os Estados Unidos têm vindo a recuperar de maneira sólida e, portanto, é muito importante - repito - para Portugal que a economia mundial continue a crescer.
Porém a questão que temos aqui é: não podemos ser complacentes; crescer 2% obviamente que é positivo e termos saído de um ciclo negativo, mas temos de ter a ambição - na minha opinião - de crescer mais e temos de ter objetivos com maior dimensão.
Se olharem para o gráfico seguinte, que mostra o crescimento de Portugal nos últimos 50 anos, neste momento o que se vê aqui é muito interessante.
Ou seja, na década e até meados de 60, Portugal cresceu a mais de 5% ao ano, que é a primeira reta a tracejado preto. Na década de 80 e até ao princípio da década de 90, segunda reta tracejada, Portugal cresceu a cerca de 3% ao ano. Depois, a partir daí até à crise, que é a terceira reta a tracejado, Portugal cresceu a 2% ao ano.
Logo, estamos com uma tendência de crescimento decrescente ao longo do tempo, que há que inverter porque, só isso, baixará o desemprego significativamente e aumentará bastante o nível de vida dos portugueses.
O que é que é preciso para fazer isso? Portanto, neste momento, em que nós já estamos a viver dentro das nossas posses, temos uma balança externa equilibrada, tivemos um ajustamento duríssimo para a população portuguesa, o que é que temos de fazer além de continuarmos a viver dentro das nossas posses como qualquer família e empresa sãs devem fazer?
O que devemos fazer para melhorarmos a prazo significativamente o nível de vida da população? Temos de continuar a fazer as reformas.
Estas são as conclusões do FMI no início deste ano, quando vieram cá fazer o último assessment.
Portugal fez muitas reformas significativas ao nível da saúde, da administração pública e fiscal, mas temos de continuar a fazer mais reformas estruturais que levam tempo para continuar a melhorar a nossa competitividade. Isto levará ao aumento da produtividade e do nível de vida a prazo.
Significa que se devem efetuar mais reformas ao nível do aumento da concorrência e da defesa das autoridades da concorrência, baixar a fatura energética e melhorar, por exemplo, a formação ao nível das empresas e dos jovens que serão o futuro deste país. A formação é crítica para aumentarmos o nível médio de formação do país e podermos ter um país mais próspero e mais produtivo.
Só as reformas estruturais conjugadas com o continuarmos a viver dentro das nossas posses é que poderão levar a um crescimento significativo a prazo do nível de vida das populações.
Portanto, temos de continuar a controlar a nossa dívida, temos de pagar as nossas dívidas e viver dentro das nossas posses, e se melhorarmos a competitividade e a produtividade, estimulando a concorrência e baixando o peso do Estado - libertando espaço para baixarem os impostos e estimularem a iniciativa privada com reformas, como por exemplo, as que o FMI preconiza a prazo -, esse é o caminho para uma maior prosperidade.
Este é o meu último slide. Repito que tive muito gosto em estar aqui convosco nesta universidade e desejo-vos uma ótima semana na Universidade de Verão e que aproveitem para melhorar a vossa formação.
Muito obrigado.
[APLAUSOS]