Vamos iniciar a
nossa sessão da tarde, sobre um tema fundamental para Portugal mas também para
a vossa geração, que é o Quadro de Investimentos Portugal 2020, que são
estruturantes e são essenciais, representam um bolo financeiro muito relevante
e o tema da nossa tarde é: Crescimento e Emprego – Portugal 2020.
Temos dois
convidados que são os dois membros do Governo responsáveis por este setor. O
Ministro Prof. Dr. Miguel Poiares Maduro que é presença assídua da Universidade
de Verão. Esta é a quinta vez que nos dá o prazer da sua presença. Nas suas
passagens por cá em diversas formulações diferentes, marcou de forma indelével,
grande parte da formação que aqui fizemos.
E o Dr. Manuel
Castro de Almeida que é o membro do Governo que está mais diretamente ligado à
conceção e à execução de todos os controlos que garantem a eficácia do Portugal
2020 e sobretudo garantem que, ao contrário do que aconteceu no passado, como
ontem aliás foi referido no jantar, Portugal está em condições de tirar partido
e não de desperdiçar os fundos comunitários que estão à nossa disposição.
Sob o ponto de
vista do retrato falado, o hobby de Miguel Poiares Maduro é o hedonismo em
geral, mas em particular cinema, cozinhar e jogar futebol. Cozinhar, aliás,
sabíamos pela revista de imprensa de hoje, embora é verdade que ele não tenha
feito nem o nosso almoço, nem presumivelmente irá fazer o nosso jantar.
O hobby de
Manuel Castro Almeida é a música. E agora, de forma alternada, comida
preferida, a que está constantemente a ser reinventada, primeira resposta;
segunda resposta, coelho estufado, presumo que seja uma provocação contra mim.
O animal preferido de Poiares Maduro é cavalo, o de Castro Almeida é o cavalo.
Grande sintonia entre Ministro e Secretário de Estado, coisa bonita de se ver,
toca a nossa sensibilidade e estimula a nossa emoção.
[RISOS]
O livro que
sugere Poiares Maduro é "Imperfect Alternatives: Choosing Institutions in Law,
Economics, and Public Policy”, e o livro de Castro Almeida, "A sorte dá muito
trabalho”, é um livro que vai com a cara dele. Filme que sugere, Poiares
Maduro: "Mr. Smith Goes to Washington” e "Inforgiven”, do Clint Eastwood; filme
de Manuel Castro Almeida: "Lista de Schlinder”, também tinha sido a minha
sugestão. E a qualidade pessoal que aprecia Poiares Maduro é a honestidade e a
qualidade pessoal de Castro Almeida é a integridade.
É portanto com
estes dois nossos convidados que vamos atacar o tema "Portugal 2020 –
Crescimento e Emprego” e o Prof. Miguel Poiares Maduro dá o pontapé de saída.
Miguel Poiares Maduro
Muito boa tarde
a todos, é um gosto enorme estar mais uma vez aqui na Universidade de Verão. É
verdade que eu não cheguei a tempo de fazer o almoço, mas se quiserem eu posso
deixar preparado o jantar.
[RISOS]
Eu vou falar
convosco de três temas, fundamentalmente, ou melhor, três questões relacionadas
com o mesmo tema. A primeira, é falar um pouco sobre a recuperação do
crescimento e emprego a que temos assistido no nosso país. A segunda é
relacionar esta questão do crescimento e emprego com o Portugal 2020. Em que
medida o Portugal 2020 é o principal instrumento promotor de reformas que garantam,
no médio e longo prazo, não apenas um crescimento mais forte, uma recuperação
do emprego mais forte em Portugal, mas a sustentabilidade dessa recuperação ao
nível do crescimento e do emprego.
E em terceiro
lugar vou aproveitar isso para fazer convosco uma reflexão mais ampla e, ao
mesmo tempo, espero, pelo menos, algo provocadora, mesmo em termos de aulas, se
quiserem, sobre as políticas públicas e a forma como se devem e se podem reformar
as políticas públicas.
Como dizia, os
fundos estruturais, os fundos europeus de que Portugal beneficia, são o
principal instrumento de investimento conduzido pelo Estado e devem, por isso,
servir para o país enfrentar os grandes desafios que tem ainda pela frente.
Desafios esses que, na realidade, explicam boa parte das dificuldades que
enfrentámos ao longo dos nossos 40 anos de democracia.
O primeiro e
talvez o principal desses desafios é o de conseguir crescer com
sustentabilidade. Para conseguirmos crescer com sustentabilidade, ou seja,
crescer sem nos endividarmos, sem gerar desequilíbrios externos, necessitamos
de ter uma economia que seja internacionalmente competitiva. Desde a adesão ao
Euro, Portugal estagnou em termos de crescimento. Isto apesar de uma forte
política orçamental expansionista. De um enorme aumento do endividamento, em
particular durante o Governo Sócrates. Nada disso permitiu ao país crescer.
Não é crescer de
forma sustentável, nem sequer conseguimos praticamente crescer durante esse
período. Mesmo praticamente na década que precedeu a situação de bancarrota que
atingimos em 2011, o país teve aquilo que alguns designaram já, em paralelo com
uma situação japonesa, de uma década perdida, porque estagnou economicamente.
Não conseguiu crescer apesar de um acesso muito fácil ao financiamento, a taxas
de financiamento muito baixas, de uma política orçamental, como disse,
fortemente expansionista, de um enorme aumento do endividamento – nada disso
permitiu ao país crescer. Porquê? Porque não conseguimos ser competitivos.
Na verdade, já
ouviram seguramente o líder da oposição, o Dr. António Costa, por vezes falar
que o país regrediu 15 anos. É verdade, ele esquece-se é de dizer que essa regressão,
grande parte dela, aconteceu durante os governos socialistas, em particular
durante o governo do Eng.º José Sócrates, de que ele foi, durante largo
período, o número dois.
Quando este
governo chegou ao poder, quando esta maioria iniciou a legislatura, nós
tínhamos a atividade económica em forte queda, tínhamos o emprego em forte
queda e o desemprego a subir de uma forma exponencial, tínhamos o investimento
também em queda, e em muitos destes casos o investimento em queda já há muitos
anos, a atividade económica estagnada ou em queda, também.
Claro que numa
situação de quase bancarrota como aquela que Portugal atingiu, não era possível
inverter esta queda do investimento, esta queda do emprego, esta queda da
atividade económica imediatamente, não era possível fazê-lo. Era um bocadinho
como um avião que está em queda e um novo piloto assume os comandos, a prioridade
tem de ser aquela de aterrar em segurança. Não vamos ter a expetativa de
conseguirmos pôr o avião logo a subir novamente, a entrar em velocidade de
cruzeiro imediatamente. Não, temos de aterrar em segurança nessa situação de
emergência. Temos de estabilizar o avião para depois conseguir de novo
pilotá-lo, voar esse avião, e é isso que aconteceu com o nosso país. Porquê,
qual é a confirmação disso mesmo?
Depois de anos
de muitos sacrifícios, nós temos, neste momento, o emprego a crescer, a
atividade económica a crescer, o investimento a subir a um ritmo que já não se
via há muitos anos. Temos também, finalmente, o endividamento a entrar numa
trajetória descendente. Portanto, quando esta legislatura se iniciou, tínhamos
o emprego a descer, a atividade económica em queda, o investimento em queda.
Hoje todos estes fatores estão num ciclo inverso. A atividade económica
recupera e acelera o seu ritmo de crescimento, o emprego cresce e temos também
cada vez mais, e isso é muito importante, emprego de mais qualidade. E o
investimento também está finalmente a crescer e, muito importante, sobretudo o
fator que promove o aumento do investimento é o investimento privado. Não é a
dependência do investimento público, é o investimento privado, o investimento
produtivo, aquele investimento que pode contribuir para a competitividade da
nossa economia que assegure sustentabilidade ao nível do crescimento. Portanto,
regressamos finalmente a convergir com a Europa.
Provavelmente
alguns de vocês, talvez tenham visto alguns cartazes aí na rua, com a cara do
líder da oposição, que dizem: é tempo de confiança. É realmente tempo de
confiança. Em 2011 é que não era tempo de confiança. Hoje temos tempo de
confiança, hoje temos razões para ter confiança, porque invertemos o ciclo negativo
em que nos encontrámos. Porque não apenas conseguimos superar uma situação de
emergência, como conseguimos colocar o país numa rota de crescimento económico
com uma sustentabilidade que nunca teve em 40 anos de democracia, porque é um
crescimento económico assente numa economia cada vez mais internacionalmente
competitiva, mais exportadora e, como tal, um crescimento económico que não
gera desequilíbrios externos.
Portugal teve,
por dois anos consecutivos, ao fim de 70 anos, excedente da balança de bens e
serviços. E isso é extraordinariamente positivo. Se há fator mais importante,
mais relevante que o nosso país recuperou nestes quatro anos, foi a confiança.
A confiança dos outros em nós, fundamental para nos darem o financiamento,
fundamental para termos as condições de atrair investimento. E para termos essa
confiança foi importantíssimo o esforço que juntos fizemos. A convicção que
todos os portugueses demonstraram com um caminho que era difícil, mas que
percebemos era fundamental para o país recuperar credibilidade internacional,
credibilidade externa e a confiança necessária para poder, não apenas
ultrapassar uma situação de emergência, mas fazê-lo em condições de iniciar uma
recuperação económica com uma sustentabilidade que nunca teve no passado. Foi
isso que nós conseguimos. E foi porque recuperamos essa confiança e, em
primeiro lugar, a confiança dos outros em nós, que hoje temos razões para ter
cada vez mais confiança em nós próprios. E isso vê-se, isso sente-se nos
portugueses.
A recuperação do
investimento, o crescimento, a recuperação do emprego, são tudo razões para
termos confiança em nós próprios. Mas este caminho de recuperação do
crescimento, recuperação do emprego, está longe de estar terminado. E esta
mudança estrutural da nossa economia que é fundamental para assegurar essa
competitividade internacional tem ainda um longo caminho pela frente.
E, a esse
respeito, o Portugal 2020, e as reformas que resultam do Portugal 2020, porque
é realmente o principal instrumento de reformas do Estado, da economia, da
sociedade, são fundamentais para o país poder, não apenas continuar a
recuperação económica, mas fazê-lo em condições de crescente sustentabilidade,
de aceleração desse crescimento, de oferecer aos portugueses melhores condições
de vida e emprego, com cada vez maior qualidade.
É por isso que a
competitividade e a internacionalização da nossa economia é o grande objetivo
do Portugal 2020. Nós estabelecemos como grande objetivo do próximo ciclo de
fundos estruturais do Portugal 2020 o reforço da competitividade e da
internacionalização da nossa economia.
O segundo grande
objetivo tem a ver com o segundo grande desafio que o nosso país enfrenta, que
é a necessidade de termos um país cada vez mais coeso em termos territoriais e
em termos sociais. Nós somos, há décadas, (não é há anos, é há décadas) um dos
países mais desiguais da Europa. Aliás, ao contrário do que se poderia pensar e
temer na sequência de uma crise gravíssima como aquela que o nosso país
enfrentou, felizmente, as medidas adotadas pelo Governo permitiram que nos dois
últimos anos não houvesse sequer agravamento da desigualdade entre os
portugueses. Claro que os portugueses sofreram, sofreram muito, mas pelo menos
esta crise não provocou um agravamento da desigualdade que é estruturalmente,
no nosso país, das maiores há muitas décadas na Europa.
Mas para além
dessa desigualdade, que é um desafio estrutural que temos ainda pela frente,
talvez tão ou mais importante é a circunstância de sermos um dos países com
menos mobilidade social. Ou seja, em que quem nasce pobre menos probabilidade,
menos possibilidades, menos expectativas tem de subir na vida,
independentemente do seu mérito.
Nós somos dos
países em que esta mobilidade social, a capacidade de subir, de ir melhorando
entre as gerações é menor. E isso também é inaceitável. E é por isso que nós
definimos este objetivo, como um dos grandes objetivos. Tal como o objetivo da
coesão territorial. Ao longo destes anos em que temos beneficiado de muitos
milhares de milhões de fundos europeus, desde a nossa adesão às comunidades
europeias - então comunidades europeias, hoje União Europeia -, Portugal só
durante os primeiros dez anos praticamente é que convergiu com a União. Depois,
apesar de beneficiar desses fundos europeus, Portugal divergiu da União
Europeia. Divergiu pouco, mas divergiu. E a expetativa era que, com o
financiamento dos fundos europeus, isso nos permitisse alavancar uma capacidade
de convergirmos com a Europa. Não aconteceu. Porquê? Pela tal falta de
competitividade e internacionalização. Porque infraestruturas, autoestradas,
equipamentos, são importantíssimos e melhoraram muito a qualidade de vida dos
portugueses, mas não são suficientes para assegurar a competitividade e a
internacionalização de uma economia, e com isso, um crescimento económico
sustentável e a criação de emprego e de emprego de qualidade.
Mas mais: essa
divergência que voltou a ocorrer com a Europa, também se manteve entre as
regiões portuguesas e mesmo dentro de cada uma das regiões portuguesas. Ou
seja, mesmo a coesão territorial dentro do nosso país, nós não conseguimos
combatê-la, ou melhor, a assimetria, o crescimento da assimetria dentro do
nosso país e entre regiões, a divergência de desenvolvimento entre regiões do
nosso país, nós não a conseguimos combater com os fundos estruturais de forma
eficaz. A convergência por vezes ocorreu, mas foi limitada.
Nós temos,
portanto, que ter como prioridades fundamentais – e é por isso que, por
exemplo, adotamos uma série de medidas de diferenciação positiva dos
territórios de baixa densidade, como nunca aconteceu em nenhum quadro anterior
de fundos europeus. Para realmente atrair atividade económica para os territórios
de baixa densidade, conduzir massa crítica para os territórios de baixa
densidade, porque é dessa forma que esses territórios vão conseguir melhorar,
desenvolver-se, convergir com o resto do país. Mas não é – e isto deve ser
claro – algo que se consiga de um dia para o outro. Vai demorar o seu tempo,
mas nós colocámos de pé políticas que favorecem o investimento com fundos
europeus em territórios de baixa densidade, que criam centros de massa crítica,
por exemplo, de excelência científica nos territórios de baixa densidade,
porque entendemos que é isso que vai conduzir à melhoria da competitividade
económica nestes territórios de baixa densidade e promover a convergência. E
porque, como vos disse, a segunda grande prioridade que estabelecemos é esta da
coesão social e coesão territorial.
Estes são
portanto os dois grandes objetivos que nós estabelecemos: competitividade,
internacionalização da nossa economia para crescermos com sustentabilidade;
coesão social e territorial. Mas não basta definir objetivos e atribuir-lhes
financiamento, atribuir dinheiro. O dinheiro deve servir para dirigir,
desenhar, conceber políticas públicas, de forma a que essas políticas públicas,
elas sim, possam induzir os comportamentos que conduzam a uma maior
competitividade das nossas empresas, conduzam a uma maior coesão social, a uma
maior coesão territorial. E portanto, o Portugal 2020 tinha de ser sobretudo
pensado, e foi isso que procurámos, como um instrumento para repensar as
próprias políticas públicas e a forma como as concebemos. Sob pena de
continuarmos a discutir as reformas em Portugal, as reformas estruturais em
Portugal, um pouco como naquela anedota do Woody Allen em que – eu já contei
uma vez, acho, esta anedota na Universidade de Verão – duas personagens que passam
o tempo num restaurante a dizer mal da comida – que é péssima, é terrível (não
foi em minha casa…)
[RISOS]
– passam o tempo
a dizer mal da comida – que é péssima, que é terrível – e no final se queixam
que as doses são tão pequenas. Às vezes, a forma como em Portugal se fala de
reformas, lembra-me precisamente esta discussão. Todos falam de reformas, mas
depois cada uma das reformas, por pequena que seja, é muito discutida, é muito
criticada. E um dos problemas fundamentais é porque não se discute o próprio
processo de fazer reformas. Como é que se fazem reformas, como é que se
garantem políticas públicas de qualidade? E foi isso que nós procuramos. Pensar
o Portugal 2020, utilizar o Portugal 2020 como um instrumento para repensar a
forma como se fazem políticas públicas, sob pena de realmente o nosso país – para
contar um bocadinho uma outra piada – ser um pouco como o Einstein dizia. Não
sei se sabem qual era a definição de insanidade que o Einstein deu. É aquela de
continuar a sempre a fazer o mesmo, esperando que resultado seja diferente.
Nós não
continuamos a fazer o mesmo porque queríamos resultados diferentes. Entendemos
que não é apenas dando mais dinheiro para políticas públicas tradicionais que
nós íamos obter resultados diferentes. Tínhamos de utilizar o Portugal 2020
para repensar essas políticas públicas. Mas nesse contexto é fundamental
perceber que as políticas públicas não determinam resultados. Não podem pensar
que o objetivo que estabelecem numa política pública, automaticamente, só por
terem esse objetivo, só por a política pública o definir, ele vai ser obtido.
Uma política pública o que faz é influenciar escolhas, influenciar decisões.
Aquilo que gera os resultados concretos, aquilo que gera, por exemplo, uma
economia competitiva, uma economia que seja capaz de exportar, é depois as
ações, as decisões e os comportamentos dos agentes económicos. Aquilo que as
políticas públicas fazem é definir o quadro de incentivos, a arquitetura das
decisões, a arquitetura das escolhas que determina essas decisões, essas
escolhas por parte dos agentes económicos.
O Estado não
exporta nem produtos nem serviços inovadores, quem faz isso são as empresas. O
Estado através das condições de atribuição de financiamento, por exemplo, das
regras, mas de muitos outros fatores também, pode é influenciar as escolhas dos
empresários, a qualidade das suas decisões, a qualidade do seu comportamento na
execução dos projetos de investimento, de forma a garantir, o mais possível,
que essas decisões, que esses projetos se vão traduzir na capacidade de as
nossas empresas serem cada vez mais competitivas.
As verdadeiras
reformas são reformas que mudam o comportamento dos atores públicos e privados;
uma reforma não é uma lei, não é um decreto-lei, não é uma nova orgânica. Uma
reforma é a mudança do comportamento dos atores públicos ou privados. Se
quiserem, da cultura da decisão, da cultura institucional. É a mudança de
comportamento dos atores públicos e privados que, por sua vez, depois vai
conduzir aos resultados que nós pretendemos em termos, por exemplo, de termos
uma economia mais competitiva.
É fundamental
perceber isto. Eu há pouco vinha no carro a falar com o Secretário de Estado do
Desenvolvimento Regional Castro Almeida, vínhamos a conversar e eu vinha a
dizer que ia dar o seguinte exemplo, quando se fala muito de reformas no nosso
país: se pensarem numa área em que houve uma reforma mais importante, em que
nós sentimos os efeitos de uma reforma mais profunda no nosso país, é aquela do
Fisco. A capacidade do nosso Fisco passar a cobrar eficazmente e ter aumentado
a justiça fiscal. Nós temos hoje mais receitas fiscais, não é porque aumentaram
os impostos no último ano, porque no último ano não aumentaram, é porque
aumentou a justiça fiscal, porque aumentou a capacidade do Fisco de ir buscar
impostos àqueles que não pagavam impostos. E essa capacidade da nossa máquina
fiscal, termos uma máquina fiscal mais eficiente, com capacidade de cobrança,
deveu-se a quê? Houve alguma grande mudança legislativa? Houve alguma grande
mudança orgânica?
O que mudou foi
a capacidade de liderança na máquina fiscal, os processos de decisão e gestão
dentro da máquina fiscal e um incentivo, um incentivo simples, que foi oferecer
uma percentagem do aumento da receita aos agentes públicos e aos funcionários
públicos, que eles conseguissem obter com uma maior eficácia na cobrança
fiscal. Isto demonstra bem que, muitas vezes, mais importante do que uma lei
detalhada, do que sanções, é o incentivo que se oferece. Um pequeno incentivo
cirúrgico pode ter um efeito estrutural, provocar uma mudança muito mais
importante do que leis, leis-quadros, mudanças orgânicas ou qualquer outro tipo
de mudança desse género. Eu estou a dizer isto porque é importantíssimo – e é
sobre isso que queria falar um pouco convosco – perceber realmente como é que
se fazem reformas. Perceber realmente como é que as políticas públicas devem
ser concebidas.
E as políticas
públicas realmente definem e devem ser concebidas como definindo a arquitetura
de decisão dos outros. O que se fez na Administração Fiscal foi isso. Foi mudar
a forma, o comportamento dos agentes dentro da máquina fiscal, através de um
conjunto de incentivos de gestão ou de incentivos à cobrança por parte desses
agentes. E é o mesmo que nós podemos e devemos fazer, muitas vezes, com os
atores económicos.
Mas isto que
parece óbvio quase nunca é discutido, quase nunca é tido em conta. Não se dá
praticamente nenhuma atenção à qualidade dos processos de decisão. Em Portugal
discute-se muito a política A, a política B, a opção A, a opção B – mas ninguém
discute qual é a qualidade do processo de decisão e de formulação das políticas
públicas, e isso devia ser o mais importante. De que forma é que nós
formulamos, desenhamos, concebemos, avaliamos, implementamos as políticas
públicas. Isso é o mais importante passo que nós podemos dar para termos reformas
cada vez mais profundas no nosso país. Foi o que nós procurámos fazer em
matéria de fundos europeus. Para além de tudo o resto, foi ter esse ponto de
partida e que é que um ponto de partida que depois pode servir para muitas
outras políticas públicas, não apenas aquelas que são financiadas pelos fundos
europeus.
A nossa
expectativa é que isso tenha, progressivamente, a médio e longo prazo, um
impacto profundo em todo o modelo de organização do Estado e das nossas
políticas públicas. A nossa preocupação foi, portanto, aquela de melhorar os
processos de decisão, e com isso, melhorar a arquitetura das escolhas, das
decisões dos agentes públicos e privados que, por sua vez, é o que vai garantir
a tal competitividade e internacionalização da nossa economia, por exemplo. Mas
para isso é fundamental perceber também a interação entre as políticas púbicas
e o comportamento individual, dos agentes públicos e dos agentes privados – o
que leva as pessoas a decidir? O dinheiro é seguramente importante.
Se nós dizemos:
deixamos de dar dinheiro para infraestruturas, ou para este tipo de
infraestruturas, e passamos a dar dinheiro para o combate ao abandono escolar,
para a inclusão social, nós estamos a dirigir o comportamento, por exemplo, dos
atores públicos, dos municípios, para esse tipo de investimentos, em vez de
outros. Estamos a criar um incentivo para mudar o comportamento desses atores.
Mas o dinheiro é um incentivo importante mas não é o único incentivo nem a
única variável que determina o comportamento dos atores.
Nem é garantia
de qualidade dos investimentos. Nós, dando dinheiro para uma área diferente
daquela que dávamos antes, dirigimos os investimentos para outra área, mas não
garantimos a qualidade desses investimentos. Temos de criar outro tipo de
incentivos, outro tipo de condições, e temos de ter consciência daquilo que
determina a ação das pessoas. E, por vezes, é importante também atender a isso
quando se desenham políticas públicas, as pessoas agem de forma não racional. É
um equívoco pensar que uma política pública deve ser desenhada de forma a
corresponder a que o resultado que vai produzir é produto de uma reação
racional do agente a um incentivo que resulta da política pública. É errado
pensar que é só assim.
Se eu me
aproximar do microfone, vocês… vários levantaram a cabeça. Eu acabei de dar um
incentivo óbvio para prestarem mais atenção ao que eu estava a dizer. O
deputado Carlos Coelho, ao colocar os oradores debaixo destas luzes
fortíssimas, que nos causam imenso calor, quer garantir que eu não vou exceder
o tempo que está previsto para eu falar.
[APLAUSOS]
Ele criou um
incentivo poderosíssimo… mas não quer dizer que eu reaja sempre de forma
racional àquilo que ele está à espera.
E eu fiz um
pequeno exercício convosco, até para criar um ligeiro momento de diversão, para
vos demonstrar como nas políticas públicas, também, nós temos de atender a que,
muitas vezes, o comportamento das pessoas não é racional, o que não quer dizer
que não seja previsível, porque nós hoje, com a ciência do comportamento, sabemos
que há muitos incentivos que, de forma diferente, provocam reações das pessoas
que são previsíveis, não são é racionais, mas são previsíveis porque são
empiricamente comprováveis e estudáveis.
O Cameron, no
Reino Unido… o governo do Reino Unido criou uma unidade especial de políticas
públicas que assenta no estudo das ciências do comportamento, e no estudo
daquilo que determina a forma como as pessoas reagem. Porque dessa forma é que
nós conseguimos prever qual vai ser o efeito real do desenho das políticas
públicas que adotemos.
E eu fiz um
pequeno exercício convosco, sem vocês saberem, formulei-vos algumas perguntas.
A primeira pergunta era qual era o montante – que eu perguntei a vários grupos,
não eu diretamente, mas através aqui da equipa da Universidade de Verão – qual
era o montante a atribuir às políticas de combate ao abandono escolar.
Fiz exatamente
essa pergunta, era a mesma pergunta para os três grupos, formulada de forma
ligeiramente diferente. No primeiro grupo a opção era: 300 milhões, 250
milhões, 200, 100, 50. A maior parte concentrou-se nos 250 e nos 200, a grande
maioria, a quase a totalidade.
No segundo
grupo, as alternativas possíveis eram 200, 150, 100, 75, 50. Digamos que a
média ficou entre os 100 e os 150. Isto é irracional. A pergunta feita era:
quanto é que vocês acham que deve ser colocado no combate ao abandono escolar?
Essa pergunta
deve ser independente das alternativas que vos são dadas. Dentro da margem
possível, todos se deviam ter aproximado dos 200 milhões, por exemplo, do
primeiro grupo. Porque é que não o fizeram? Porque a escolha vos foi colocada
de forma diferente e o cérebro humano faz as escolhas sempre em termos
relativos. E como as alternativas que apareciam eram mais baixas num caso,
vocês automaticamente – esses desse grupo – baixaram o valor a atribuir. Não
porque fosse racional, porque, em abstrato, a questão de qual é o montante do
abandono escolar devia ser a mesma.
Portanto, este é
o primeiro exemplo que eu vos queria dar de como, de forma surpreendente, a
mera forma como se colocam alternativas é relevante. E é porquê? Por um ponto
fundamental que nós hoje sabemos sobre o comportamento dos seres humanos que é:
todas as escolhas são sempre relativas, são sempre feitas em comparação. E
portanto, dependendo das comparações que são oferecidas, a escolha será
diferente.
Se vocês no menu
do restaurante virem uma garrafa de vinho a 25€ e todas as outras a 5€ e 10€, a
garrafa de 25€ parece cara. Mas se, nesse mesmo menu, a garrafa estiver a 25€ e
as outras a 100€ e 150€, vai-vos parecer que ela é barata. E, no entanto, o
preço é exatamente o mesmo.
Uma outra
questão que eu coloquei a um terceiro grupo foi a mesma do segundo grupo,
exatamente a mesma questão com as mesmas alternativas, mas precedida de uma
outra pergunta que era: que importância é que atribui ao combate ao abandono
escolar? O simples facto de este terceiro grupo ter respondido primeiro a esta
pergunta sobre a importância do combate ao abandono escolar, alertou-os para a
importância do abandono escolar. E sabem qual foi o resultado? O valor que
deram foi mais elevado do que o segundo grupo, exatamente com as mesmas
alternativas, só que era precedido de uma outra pergunta.
Portanto, se nós
sinalizarmos às pessoas algo ou lhes exigirmos um certo processo de informação
ou deliberação prévio a uma decisão que tomam, a decisão é diferente.
A mesma
pergunta, resposta diferente, só na base desse pressuposto.
Outro ponto
importantíssimo e que não é racional e que me levou a fazer mais duas perguntas
para vos demonstrar a variedade de incentivos, de variáveis que determinam o
comportamento das pessoas, foi a circunstância de muitas vezes as pessoas terem
aversão ao risco e preferirem o status
quo. E isso é muito determinante para as políticas públicas, porque as
políticas públicas, muitas vezes, dão opção aos cidadãos, mas essa opção,
muitas vezes, não é exercida pelos cidadãos. Porquê? Porque há quase sempre uma
opção base pelo status quo.
Irracionalmente, mesmo quando às vezes não faz sentido, as pessoas tendem a
preferir o status quo. Muitas vezes
por aversão ao risco. E este último exemplo que eu dei demonstra-vos exatamente
isso mesmo.
Foi proposto a
dois grupos diferentes a seguinte questão, colocada de forma diferente: a uns
foi-lhes oferecida uma magnífica mala da Universidade de Verão. Mas foi-lhes
perguntado se estariam dispostos a vender essa mala por 15 €, e portanto
ficavam com os 15 € em vez da mala. A grande maioria preferiu não vender a
mala, ficar com a mala e não ficar com os 15 €.
A um outro grupo
de vós, foi-vos perguntado se estariam dispostos a comprar uma mala da
Universidade de Verão por 15 €. A grande maioria disse que não queria comprar a
mala por 15 €. Isto é irracional – a opção de ambos é a mesma: ficar com 15 €
ou a mala. Mas só a forma como foi colocada a pergunta determinou duas
respostas totalmente diferentes. Porquê? Nós temos muito mais dificuldade em
ceder algo que já temos do que em comprar outra coisa e isso deve-se,
precisamente, a esta aversão ao risco.
Portanto, a
mesma pergunta leva a duas respostas diferentes, sem haver uma explicação
racional, só pela forma como é colocada.
Eu fiz-vos uma
pequena brincadeira com isto, mas esta brincadeira, que era não apenas para dar
um tom também um pouco mais ligeiro a parte desta conferência, tem um objetivo
de fundo que é demonstrar que as políticas públicas só são eficazes se nós
atendermos a que elas são sobretudo um conjunto de incentivos e condições que
vai interagir com o comportamento dos atores – públicos e privados.
E que é esse
comportamento dos atores que por sua vez produz resultados, em termos de
melhorar a competitividade da nossa economia ou de políticas de uma maior
coesão social ou e uma maior eficácia da máquina fiscal. E que nós temos de
atender a todas as variáveis que determinam o comportamento dos atores para
perceber a eficácia das políticas públicas e conceber boas políticas públicas.
O ponto fundamental é este:
Primeiro: as
políticas públicas não são causais. Influenciam comportamentos mas não os
garantem.
Segundo: para
perceber, conceber e estimar os impactos das políticas públicas é necessário
ter a perceção da complexidade dos fatores, alguns racionais mas outros não,
como vimos, que determinam o comportamento dos diferentes atores públicos e
privados. E só dessa forma conseguimos desenhar políticas públicas que sejam
mais suscetíveis de mudar esses comportamentos e é a mudança desses
comportamentos, dessas culturas de decisão, que são as verdadeiras reformas de
que nós necessitamos.
Terceiro: que,
neste contexto, nós temos que ter a perceção de que todas as políticas públicas
são imperfeitas. Porque elas não são causais e porque vão interagir
precisamente com o comportamento dos atores públicos e privados. E que,
portanto, estamos sempre a escolher entre alternativas imperfeitas. E que isso
exige processos permanentes de avaliação de qualidade dessas políticas
públicas, de monitorização dessas políticas públicas e de constantemente afinar
e redesenhar essas políticas públicas.
Por último, que
as verdadeiras mudanças estruturais de que nós necessitamos são mudanças dessas
culturas de decisão, desses comportamentos. Foi tudo isso que nós procurámos
ter em conta no Portugal 2020. Começámos desde logo por, em termos globais,
identificar – e estou mesmo a terminar -, identificar quais eram os pontos
comuns, as grandes preocupações que entendemos explicava, a nível de
comportamento dos atores, aquilo que não tinha corrido bem nos quadros
anteriores.
E foi a partir
daí que desenhámos alguns princípios de mudança desses comportamentos que
tinham que ser transversais a todo o quadro.
Primeiro,
combater a fragmentação, promover a cooperação, promover a articulação de
políticas, a obrigação de mapeamentos dos equipamentos públicos e
infraestruturas. Qual é o objetivo fundamental? Obriga os atores que antes não
o faziam a articular-se nas suas estratégias de investimentos. A partilhar
equipamentos, a não duplicar investimentos.
A simplificação.
Mas simplificar não se obtém só dizendo à Administração para decidir mais rápido.
Se nós não dermos um incentivo eficaz para a Administração mudar a sua cultura
de forma a decidir mais rápido… podemos estabelecer prazos mais curtos mas isso
não funciona. Mas se nós tivermos uma regra que diz que se as autoridades de
gestão não cumprem os prazos são destituídas de funções – esse é o incentivo
mais certo para garantir que vão mudar o seu comportamento e vão cumprir com os
prazos.
A orientação
para resultados. Não mais centrar a avaliação, o financiamento na garantia da
execução dos projetos ou de que o projeto está fisicamente completo. Não, o
fundamental é avaliar os resultados que esses projetos cumprem. Dessa forma nós
mudámos os comportamentos das empresas.
Se nós dissermos
(como passámos a dizer às empresas): os montantes que recebem são
reembolsáveis, mas podem ser dispensados de parte do reembolso se ultrapassarem
os resultados contratualizados, não é se executarem o projeto, é se
ultrapassarem os resultados contratualizados. Quais são esses resultados? O
aumento das exportações, por exemplo.
Nós estamos a
criar um incentivo, com a natureza reembolsável, por um lado para o empresário,
relativamente ao projeto que apresenta, atender plenamente aos riscos e
possíveis benefícios. Se nós retirarmos o risco do projeto do empresário – e
fundo perdido determina isso – a suscetibilidade é que o empresário apresente
projetos que podem não ter sustentabilidade, podem não ser bons. Ele vai à
procura de financiamento - não corre risco nenhum. Se nós lhe atribuirmos
reembolso mas, por outro lado, associarmos a possibilidade de o dispensar à
superação de resultados, nós estamos a criar um incentivo para eles se
concentrarem na obtenção desses resultados, na superação desses resultados.
O mesmo na formação
profissional, em que passamos a dizer: não conta qual é o número de pessoas que
formam, conta qual é a percentagem de emprego obtida pelas pessoas que formam.
Aí eles vão pensar duas vezes – quem dá essa formação – se a formação que está
a dar tem correspondência ou não nas necessidades do mercado de trabalho. Se a
qualidade da formação garante maiores expetativas de essas pessoas obterem
emprego no mercado de trabalho.
Foi dessa forma,
pensando, portanto, o Portugal 2020 como uma estrutura de incentivos para
reformar de forma profunda a cultura de funcionamento, o comportamento dos
atores no nosso Estado, na nossa sociedade e na nossa economia, que nós planeámos
o Portugal 2020. Eu estou certo de que no médio e longo prazo vai ser cada vez
mais visível o impacto profundo desta reforma que tem muito de invisível.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Dr. Castro
Almeida, tem Vossa Excelência a palavra.
Manuel Castro Almeida
Agradeço muito
ao Carlos Coelho esta oportunidade de poder estar convosco e de poder partilhar
algumas reflexões sobre qual é o país que nós desenhamos para 2020, e depois de
poder ouvir as vossas questões, saber o que vos preocupa, e poder partilhar
convosco as nossas reflexões.
Depois da
brilhante intervenção do meu Ministro, pouco me resta dizer, eu vou procurar
passar pelos pingos da chuva e acrescentar alguns dados para reforçar a
mensagem que o Ministro aqui quis passar.
Vou reafirmar
três ou quatro pontos e depois tentar passar para coisas mais concretas.
Primeira nota:
Portugal recebe fundos europeus desde os anos 80, há cerca de 30 anos. Durante
estes 30 anos nós recebemos mais de cem mil milhões de euros. É muito dinheiro.
É mais dinheiro do que aquilo que a Troika emprestou a Portugal há dois anos
atrás. Mais de cem mil milhões!
Há inegavelmente
muito mais infraestruturas e equipamentos no nosso país – não há comparação
entre o país de hoje e o país de quando vocês nasceram, em matéria de estradas,
autoestradas, portos, aeroportos, escolas, centros de saúde, equipamentos
desportivos, equipamentos culturais, bibliotecas, tudo isso, não há comparação
nenhuma.
O problema, no
entanto, - e há um problema - é que os portugueses, em média, continuam tão
pobres como estavam há 20 anos. Quando vocês nasceram, a riqueza média dos
portugueses era a mesma que é hoje. 20 anos depois, cerca de 70 mil milhões de
euros depois de fundos europeus, estamos com
o mesmo padrão de rendimento em
Portugal que estávamos há 20 anos.
Este é o
problema que nós temos que resolver. Só para ficarem com um número na cabeça:
em 1993, estavam alguns de vós a nascer, o rendimento per capita em Portugal representava 78% do rendimento dos europeus
– peço desculpa, disse o número errado, representava 79%. Hoje, com o último
ano conhecido, representa 78%. Perdemos 1 ponto nos últimos 20 anos.
Foi esta dura
realidade que eu e o meu Ministro encontrámos quando, em 2013, nos foi dado o
encargo de desenhar que Portugal queríamos nós ser em 2020. E o grande objetivo
que desenhámos para Portugal em 2020 foi tornar o povo português mais rico.
Este é o ponto
essencial. Tornar o povo português mais rico. Consistentemente mais rico, não é
ilusoriamente mais rico. Consistentemente mais rico, aumentar o rendimento per capita dos portugueses. Ao fim e ao
cabo – e como eu gosto de dizer –, permitir às pessoas viver com mais dinheiro
no bolso. Este é que é o ponto. Esta é que é a diferença, é este o ponto que
nós temos de ultrapassar. O nosso problema já não são infraestruturas e
equipamentos, como dizia o Ministro há pouco, nós hoje estamos acima da média
europeia na maior parte dos indicadores. Onde nós estamos claramente abaixo,
aquilo que hoje afeta os portugueses, é a falta de dinheiro no bolso. É esse o
problema que nós temos que atacar agora com este programa do Portugal 2020.
Então e qual é o
caminho para isso? A chave da estratégia que desenhámos para pôr mais dinheiro
no bolso dos portugueses em 2020, a chave é produzir mais e gastar melhor. Este
é o caminho que está inscrito no Portugal 2020. As palavras-chave do Portugal
2020 são competitividade e internacionalização, como já foi dito.
Há aqui duas
diferençazinhas que os meus amigos vão ter que fixar – e se fizerem isto eu
fico satisfeito no fim da tarde. Só têm que fixar duas mensagens: a prioridade
deixa de ser os investimentos públicos e passa a ser o investimento privado que
gera riqueza e que gera emprego. Por outro lado, dito de outra forma, a
prioridade deixa de ser os equipamentos e as infraestruturas e passa a ser a
competitividade e a internacionalização da nossa economia.
Esta é, de
facto, a grande mudança do Portugal 2020. E depois há uma outra mudança, já não
quanto a objetivos mas quanto ao método, que eu queria salientar aqui convosco.
O Ministro já o referiu – a questão do enfoque nos resultados.
Este ponto pode
parecer uma questão simples e é uma questão decisiva. Qualquer empresa – há
aqui economistas e gente de gestão de empresas, imagino eu, de certeza que há,
ou gente da contabilidade -, é impossível um gestor de empresas, um empresário,
um economista viver sem uma conta de resultados numa empresa. Qualquer gestor,
no fim do ano, quer ver a sua conta de resultados e vai ver: eu tive lucro, eu
tive prejuízo, onde é que eu ganhei dinheiro, quanto dinheiro eu ganhei, quanto
dinheiro eu perdi, onde é que estão os meus custos? Ver a conta de resultados.
Nenhuma empresa vive sem uma conta de resultados. Mas o problema é que o Estado
vive sem conta de resultados. O Estado não analisa os resultados do dinheiro
que afeta às diferentes políticas públicas. E nós dizemos: vamos pôr mais 50
milhões de euros na saúde, mais 100 milhões na educação, mais 50 milhões ali,
mais 200 milhões acolá… mas nunca tratámos de ir atrás dos resultados dos
investimentos que fazemos. E verdadeiramente nunca sabemos se o dinheiro que
metemos, afinal, é bem gasto ou mal gasto.
A grande mudança
que eu acho que tem que ser feita na nossa Administração Pública é passar a
exigir aos gestores públicos, aos decisores políticos, passarem a dar contas, a
mostrar os resultados das suas políticas, a mostrar o resultado do dinheiro que
investiram e não apenas quanto dinheiro investiram.
Eu sou do tempo…
quando fui deputado com o Carlos Coelho, há muitos anos atrás, na Assembleia da
República. Eu ficava sempre muito chocado quando via que, na altura da
discussão dos orçamentos, os ministros apareciam com uma seta para cima quando
conseguiam mais dinheiro, e quando tinham menos dinheiro no orçamento
punham-lhes uma seta para baixo. Eu sempre achei isto um absurdo, porque o que
eu quero mesmo é que o ministro consiga mais resultados com menos dinheiro. Não
tem que saber meter mais dinheiro na educação, mais dinheiro na saúde… ora,
pudera! O que eu quero é saber que resultados é que ele atinge. E para saber
quanto dinheiro que o Estado deve pôr na mão do ministro, que dinheiro lhe deve
ser confiado, é preciso olhar para os resultados.
O problema é que
a Administração Pública não está habituada a medir resultados. Está habituada a
dizer quanto dinheiro mete nesta e naquela política. Tanto dinheiro para isto…
e ninguém vai atrás dos resultados - dá trabalho! E expõe muito a
Administração. A Administração tem que ser mais transparente, tem que mostrar
os seus insucessos, muitas vezes. E por isso os políticos resistem a deixar
mostrar os resultados porque não querem dar provas de fracos.
Muitas vezes os
resultados não têm nada a ver com a quantidade de dinheiro que se atira para
cima dos problemas. Mas o que é fácil, de facto, é iludir as questões com
milhões de euros. Dou-vos uma pequena dica: quando vocês começarem a ver um
governo ou um ministro a dizer: mais tantos milhões para aqui, mais tantos
milhões para acolá… esse governo está para chegar ao fim, esse ministro está
sem ideias. Porque, justamente, quando um ministro, um governante ou um governo
sabe o que quer, fala de políticas, fala de resultados, diz o que vai mexer na
vida das pessoas. Quando não sabe isto, diz quanto dinheiro vai meter na
política que quer anunciar.
Outra coisa que
me fazia muita confusão quando estava na Assembleia da República era ver que o
Orçamento do Estado era discutido ao longo de dois, três meses. Todos os
ministros vão ao parlamento, ao plenário, às comissões, imenso debate nas
televisões, nas rádios, nos jornais – três meses para discutir o orçamento. E
quando é para discutir a Conta do Estado, dizer o que se fez ao dinheiro, isto
discutia-se em duas horas numa sexta-feira de manhã, com o plenário vazio.
Quando é para dizer o que vamos fazer – três meses. Quando é para dizer o que
fizemos – 2 horas. Isto é virar o mundo de pernas para o ar.
De facto, o que
interessa é avaliar os resultados. Esta é a grande reforma que temos de fazer
na Administração Pública, e começamos nos fundos por a fazer. Isto é essencial,
meus amigos. E quando os políticos forem obrigados a enunciar as suas políticas
em função de resultados, a nossa vida vai ser melhor e mais barata. Vamos ter
que pagar menos impostos porque vamos descobrir que há muito dinheiro inútil na
nossa Administração Pública. Muito dinheiro em que os resultados não são
medidos e em que se nós fossemos medir os resultados víamos que não havia
proporção entre o dinheiro que se mete na política e o resultado que se vai
obter dessa política pública.
Portanto, dizia
eu que o objetivo final de todo este trabalho é criar mais riqueza e criar
emprego. Eu acho que estes são os grandes problemas que os portugueses hoje
sentem: falta de emprego, falta de dinheiro no bolso. Só que nem toda a gente
pensa da mesma maneira sobre qual é a melhor forma de resolver este problema e
há grandes diferenças entre as propostas políticas que estão apresentadas ao
país neste momento.
Uma coisa é
meter mais dinheiro no bolso dos portugueses através de estímulos ao consumo ou
redução da Taxa Social Única. Isso põe mais dinheiro no bolso das pessoas, sim
senhor. Coisa bem diferente é fazer aumentar o dinheiro no bolso dos
portugueses mas através do aumento do valor do trabalho, valorizar o trabalho,
quer dizer, aumentar o valor do trabalho, ou através do crescimento da
competitividade das nossas empresas, designadamente por via da sua
internacionalização.
São dois
caminhos totalmente diferentes. Um assenta no facilitismo, no estímulo ao
consumo, na solução de curto prazo, no aumento da despesa pública. Esta foi a
receita que nos trouxe até 2011 e que alguns estão a querer ressuscitar.
O outro caminho,
o que está inscrito no Portugal 2020, assenta em ganhos de competitividade,
através da inovação permanente nas empresas, assenta na procura de novos
mercados para exportação, na transferência do conhecimento que existe nas universidades
para o transformar em valor dentro das empresas e assenta no empreendedorismo
dos nossos jovens.
Tudo isto que eu
disse é mais fácil de dizer do que de fazer. É muito difícil competir hoje no
mercado global. As empresas, os empresários sabem que isto é muito difícil. Mas
só há uma forma de fazer. É preciso trabalhar, é preciso ter talento é preciso
ter vontade, crença, convicção, espírito lutador, espírito empreendedor. Mas há
uma coisa que nos está a falhar muito. Nós temos nas nossas universidades
imenso conhecimento, imensa sabedoria e este conhecimento tem que ser
transferido para as empresas. Andamos a dizer isto há anos: transformar o
conhecimento que existe nas universidades em valor dentro das empresas. E como
é que se faz isto? É muito difícil de fazer. Toda a gente diz que quer fazer e
é difícil de fazer. O Portugal 2020 tem uma receita para isto: é que nós vamos
apoiar as empresas que forem recrutar pessoas altamente qualificadas às
universidades. Temos uma dotação para ir buscar cerca de 1.200 investigadores,
doutorados, pessoas altamente qualificadas que venham das universidades para as
empresas e apoiamos as empresas que vão buscar estas pessoas.
Este é que é o
caminho que vai permitir às empresas maior inovação, maior incorporação do
conhecimento, acesso mais fácil à tecnologia, este é que vai ser o caminho para
tornar as empresas mais competitivas. Esqueçam o caminho de tornar as empresas
competitivas através de um abaixamento de salários – isso já experimentamos e
não deu certo. Pelo lado da baixa de salários nunca vamos conseguir ter
salários mais baixos do que a China, do que o Vietname ou do que a Coreia, a
Coreia do Norte. Portanto, não é esse o caminho a seguir.
Se é verdade que
os fundos vão servir para nos pôr mais dinheiro no bolso, também é verdade que
há muita gente que não pode participar no campeonato da competitividade.
Vamos lá ver se
eu consigo ser claro neste ponto. A grande prioridade dos fundos do Portugal
2020 é a competitividade das nossas empresas. Tornar as empresas mais
competitivas. Uma empresa mais competitiva, no fim do dia ou no fim do mês
fatura mais, e só faturando mais é que ela pode criar mais emprego ou pagar
melhores salários a quem está empregado.
Tudo o que vamos
fazer, a grande prioridade é competitividade, segunda prioridade
competitividade, terceira prioridade competitividade. Mas, meus amigos, nós que
temos o gosto de ser social-democratas, temos a noção de que há pessoas que não
podem participar no campeonato da competitividade. A começar pelas crianças, a
passar pelos idosos, passando pelos doentes – esses não podem participar no
campeonato da competitividade. E esses também são gente, ou melhor, esses são
os primeiros a merecer a nossa atenção e o nosso cuidado. Um país decente, um
país que se preze, um país solidário tem que pensar sobretudo nesses e o Estado
justifica-se sobretudo para esses. E é por isso que eu tenho sempre muito gosto
em chamar a atenção para isto.
O programa do
Portugal 2020 que tem mais dinheiro é o programa da competitividade e internacionalização
mas o programa que mais cresce no Portugal 2020 é o programa da inclusão
social. Nós multiplicamos por três a dotação para a inclusão social. Tínhamos no
QREN cerca de 500 milhões de euros e vamos ter agora cerca de 1.500 milhões de
euros porque precisamos de ter um país mais coeso no plano social. Acabar com
as manchas de pobreza extrema, de marginalidade. Temos que incluir as pessoas
na vida em sociedade e há pessoas que estão totalmente excluídas da vida
social. Temos que olhar para esses.
E sobretudo na
escola. A escola tem que ser o centro privilegiado da igualdade de
oportunidades. Nós que, graças a Deus, não somos socialistas, não acreditamos –
eu não acredito – na ideia da igualdade. Eu não defendo a igualdade, de maneira
nenhuma. Eu sou fanático da igualdade de oportunidades. E isto começa pela
escola, aí não pode haver diferenças.
[APLAUSOS]
E por isso nós
damos tanta atenção e destinamos tanto dinheiro a este objetivo de combater o
abandono escolar. Vocês têm a ideia de que o abando escolar ainda está perto
dos 20% em Portugal? Pouca gente tem esta ideia. Está em 18,9% - é uma loucura.
Temos de trazer este número para 10%, é o nosso objetivo. E mesmo assim é alto.
Se é verdade que
precisamos de inclusão social, também precisamos de coesão territorial. E este
é outro dos objetivos dos fundos europeus que também não está conseguido. Eu
disse-vos há pouco que Portugal nos últimos 20 anos… o rendimento dos
portugueses desceu um ponto percentual por comparação com a média europeia.
Agora, se olharem para o conjunto do país, de norte a sul do país, era suporto
que os fundos europeus – o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, sobretudo
este – tinha que contribuir para diminuir as assimetrias de desenvolvimento
entre as diferentes regiões do país. E então, o quê que aconteceu? Não
aconteceu nada. Ou não aconteceu praticamente nada.
Acontece que as
assimetrias estão basicamente onde estavam. Aqui um pequeno exercício… Há aqui
muita gente do Norte? Muito bem, senhores do Norte, ficam a saber que o Norte
em 2000… o rendimento do Norte era 80,3% da média nacional. Os meus amigos, os
vossos pais, tinham 80% do rendimento médio do país, em 2000. Em 2013 – estou a
comparar séries comparáveis – o vosso rendimento passou de 80,3% para 81,3% -
cresceram um ponto, parabéns.
[APLAUSOS]
O resultado não
é famoso, já vão ver.
Na região
Centro… Quem é que está cá da região Centro? Bom, na região Centro ficam a
saber que o rendimento dos vossos pais em 2000 era 85,5% da média nacional –
mais do que no Norte, que era 80,3% - e passou agora de 85,5% para 85,6%; 0,1%
de aumento, parabéns!
[APLAUSOS]
É um bocadinho
triste, não é? É um bocadinho triste, com tanto dinheiro para atenuar
assimetrias de desenvolvimento, porque - é preciso dizer - a seguir falo de
Lisboa.
Lisboa… quem é
que está aqui da Área Metropolitana de Lisboa? Muito bem. Lisboa tinha – ficam
a saber os meus amigos privilegiados de Lisboa –, tinham, em 2000, 144% da
média nacional. Tinha que ir buscar a algum lado, a média tem que dar 100…
portanto se uns tinham 80, no Norte e no Centro... 144 em Lisboa. Pois bem,
houve uma aproximação, realmente, das regiões pobres relativamente à região
mais rica, não porque os pobres aumentaram, como nós vimos, mas porque Lisboa
diminuiu. Lisboa perdeu 5 pontos no rendimento para 2013.
[APLAUSOS]
E já agora, o
Alentejo. Quem é que está do Alentejo? São menos. É a nossa terra… santos da
porta.
O Alentejo
passou de 92,4% para 92,3%. Apesar de tudo, faço notar isto: eu penso que o
país todo acha que o Alentejo é a região mais pobre do país, e não é, como
acabaram de ver. A região mais pobre é o Norte, tem 80%, depois é o Centro, e o
Alentejo é a região mais rica de entre as regiões mais pobres.
O Algarve tinha
102,5%, estava um bocadinho acima da média nacional e agora está com 100,7%. O
Algarve perdeu 1,8%.
Ou seja, as
diferenças de rendimento… e, já agora, falta-me dizer-vos: os Açores e a Madeira
têm aproximações sensíveis. Os Açores e a Madeira, há uma aproximação à média
nacional, já estão ambos com mais de 90%, quando estavam ambos na casa dos 80%.
A diferença em
2000, entre a região mais pobre e a região mais rica, era de 63 pontos, baixou para
57 sobretudo porque Lisboa, que era a região mais rica, perdeu rendimento. E
falta dizer-vos uma coisa: estou a falar de regiões – NUTS II, portanto, a
região Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve. Se formos às NUTS III,
comunidades intermunicipais, são grupos de dez municípios, em média, aí as
diferenças são avassaladoras, porque aí vamos encontrar uma região do Tâmega -
a região Tâmega e Sousa, Penafiel, Amarante, etc. – com um rendimento da ordem
dos 56%, vejam bem, quase metade da média nacional, quase um terço da região de
Lisboa. E a região da Serra da Estrela tem 51%. Estamos a falar da diferença de
um para três num território tão pequeno como é Portugal. Portanto, as
diferenças avassaladoras de rendimento em Portugal mantêm-se e os fundos pouco
fizeram para mudar esta realidade.
Mas nós não nos
conformamos, e agora no Portugal 2020 fizemos uma coisa que nunca tinha sido
feita em termos de fundos. Privilegiar os territórios de baixa densidade.
Definimos quais são os territórios de baixa densidade, há um mapa que diz quais
são. Esse mapa foi-nos proposto pela Associação Nacional de Municípios e os
territórios de baixa densidade têm uma majoração, nos concursos, de dez pontos.
E pela primeira vez na História de Portugal foram abertos concursos nos fundos
europeus apenas para territórios de baixa densidade.
Uma coisa é o
Município do Fundão ter uma majoração de dez pontos quando concorre com o
Município de Coimbra ou da Figueira da Foz. Mas, para além disso, é abrir um
concurso só para territórios de baixa densidade, onde, portanto, o Fundão ou a
Pampilhosa não concorrem com Coimbra e a Figueira da Foz. Se eu quero instalar
um quilómetro de rede de saneamento, na Figueira da Foz, numa avenida, isto
pode servir 3.000 pessoas. Em Pampilhosa da Serra, se calhar esse quilómetro
serve 20 pessoas. Na comparação da eficiência do investimento, a Figueira da
Foz ficaria sempre à frente da Pampilhosa. Fazendo concursos apenas dentro de
territórios de baixa densidade estamos a comparar aquilo que é comparável e,
portanto, a permitir afetar, a garantir a afetação de maiores recursos aos
territórios de baixa densidade.
Porque temos que
acabar com este problema desastroso da queda demográfica assustadora que há
nalguns territórios de baixa densidade que estão a perder mais de 10 pontos
percentuais em cada década. Perderam na última década mais 10 pontos, tinham
perdido na década anterior mais 10 pontos – estamos a ficar com um país
desertificado no interior.
Vou ver se me
despacho porque estou a olhar para o tempo e tenho que vos dizer ainda uma
outra coisa. Agora é que estou a ver que me alonguei demasiado…
Queria falar-vos
de uma outra realidade que tem a ver… para gente que está… vocês vão estar
próximos da vida política, da relação poder central-poder local, autarquias.
Como é que está esta relação do Estado com as autarquias locais? E do Estado
com as regiões, digamos assim.
Não vou fazer a
demonstração, queria só fazer a afirmação, por falta de tempo. Mas dizer-vos
isto: nunca houve tanto dinheiro nos programas regionais como no Portugal 2020.
Os programas regionais crescem 32% relativamente ao QREN. Nunca houve tanto
dinheiro a ser gerido fora de Lisboa como vai ser no Portugal 2020. Máxima
desconcentração, máxima descentralização. Quando ouvirem falar de centralismo,
não sei quê… no Portugal 2020, é o máximo exemplo conhecido até hoje de
desconcentração de gestão de recursos europeus. Nunca foi contratualizado tanto
dinheiro com os municípios como está a ser no Portugal 2020. Já assinámos
vários contratos, na próxima segunda-feira vamos assinar contratos com os
municípios da região Centro, já assinámos com uma parte do Norte, já assinámos
com o Alentejo, já assinamos com Lisboa. Nunca foi contratualizado tanto
dinheiro. O aumento é de 31% relativamente ao QREN.
E, por outro
lado, nunca os municípios tiveram uma voz tão determinante como têm hoje na
identificação de investimentos públicos a cargo do Estado. Esta nota é muito
importante, meus amigos. Eu não sei se vocês sabem que a partir de agora se o
Ministério da Saúde quiser fazer obra num Centro de Saúde ou num hospital, se o
Ministério da Educação quiser fazer obras ou construir uma escola nova, ele tem
que se sentar à mesa com os autarcas da comunidade intermunicipal, e é em
conjunto, o Ministério respetivo, mais os autarcas reunidos na comunidade
intermunicipal ou área metropolitana, mais a Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional, eles três em conjunto, por consenso, vão definir
quais são as obras que vão fazer. Não é o Ministro da Educação que vai dizer –
ele não sabe, nem tem que saber, nem pode saber – se as obras mais necessárias são
na escola de Vinhais ou na escola de Vimioso. Não é suposto ele saber isto. Ele
não deve meter-se nisto, ele tem outras coisas para tratar. Quem vai decidir se
é na escola de Vinhais ou na Escola de Vimioso são os autarcas da comunidade
intermunicipal de Trás-os-Montes, mais os serviços desconcentrados do
Ministério da Educação, mais a CCDR Norte é que vão tomar esta decisão. E o
mesmo por todo o país.
O ministro fala
no princípio do processo, a definir grandes prioridades. O ministro pode dizer
se o que vai querer é investimento em infraestruturas escolares ou
infraestruturas desportivas ou se quer o aquecimento nas escolas ou se quer
equipamento para cursos profissionais. O Ministro da Saúde vai dizer se quer
privilegiar a saúde materno-infantil ou se quer privilegiar o tratamento
oncológico nos equipamentos ou qualquer outra coisa. Ele diz qual é a política,
quais são as orientações, a aplicação prática é feita no terreno, com os
autarcas.
Por isso eu vos
digo que está a nascer uma nova realidade política que não havia até agora. As
comunidades intermunicipais e as áreas metropolitanas não tinham nenhum poder
de decisão. Agora têm poder de decidir afetar fundos públicos, e não são tão
poucos assim. Eles vão ter agora mais de mil milhões de euros que são entregues
às comunidades intermunicipais e passam a decidir, mesmo obras do Estado, quais
são as que são feitas e as que não são feitas.
O meu Ministro
já se referiu aqui a um ponto que é o das dotações reembolsáveis… e eu gostava
de falar um bocadinho disto e dos instrumentos financeiros.
Nós vamos ter
para gerir, nos próximos anos, 21 mil milhões de fundos da coesão – FEDER,
Fundo Social Europeu e Fundo de Coesão – mais de quatro mil milhões do FEADER,
agricultura e pescas - FEADER e FEAP -, o que dá no total 26 mil milhões.
Quando a gente olha para 26 mil milhões parece muito dinheiro; quando começa a
distribuí-lo, depois vê que afinal é pouco e falta dinheiro. A solução,
portanto, é alavancar este dinheiro, multiplicar este dinheiro. Temos duas
formas de o fazer.
A primeira é: em
vez de dar dinheiro a fundo perdido, é dar subvenções reembolsáveis. É: eu
ponho-lhe dinheiro na mão e você ganha dinheiro e depois devolve-me o dinheiro
que eu lhe emprestei ou parte dele. É este quadro que está desenhado para o
apoio às empresas. A maior parte das empresas… como é que as coisas se vão
passar? O meu amigo quer fazer um investimento, vem ter comigo, que sou o homem
dos fundos, e diz-me assim: eu quero fazer um investimento que vai aumentar a
faturação da minha empresa em um milhão de euros. Ou vai aumentar as minhas
exportações em 10%. Para isso preciso de investir um milhão de euros (arredondo
por facilidade). E eu, então, o que é que eu faço? Se viver numa região de
convergência – Norte, Centro ou Alentejo -, sendo jovem como é, tem um
acréscimo de 10% por ser jovem, está numa região de convergência, e eu vou-lhe
pôr nas mãos – isto tem várias variáveis -, mas em termos médios vou-lhe pôr
nas mãos 70% do valor do investimento. Vai querer investir um milhão de euros e
eu ponho-lhe nas mãos 700 mil euros. Estes 700 mil euros são reembolsáveis em 8
anos, com dois de carência, sem juros. Portanto, durante 2 anos não paga nada,
nos 6 anos seguintes devolve-me o dinheiro sem juros.
Durante o
percurso, nós vemos que afinal o seu investimento que tinha dito que iria
aumentar a faturação em um milhão de euros e aumentou em um milhão e duzentos
mil. Aumentou 20% face ao contrato que fez comigo – contrato de resultados. O
seu resultado superou o compromisso que tinha comigo. E então se você aumentou
o seu resultado em 20%, eu dou-lhe uma isenção de reembolso de 40%. Portanto,
você que tinha que me devolver 700 mil euros, já não devolve 700 mil, devolve
700 menos 280, que é 40% de 700. Já só me devolve 420, certo? E não os 700. Eu
posso isentá-lo de reembolso até 50% do dinheiro que eu lhe dei, eu posso
isentá-lo se você superou os resultados.
Mas se não
atingiu os resultados? Disse-me que ia aumentar a faturação em um milhão de
euros e afinal só aumentou 500 mil euros. Os primeiros 25% de quebra do
resultado eu partilho o risco consigo, porque você empreendeu, tinha uma
expectativa de resultado, a coisa correu mal, correu o risco e não atingiu o
resultado.
Os primeiros 25%
de quebra eu partilho consigo e tolero-lhe essa quebra. A partir daí eu vou
deduzir ao meu incentivo e você vai ter que me devolver metade da sua quebra,
da sua falha, do seu incumprimento. Você falhou em 40%, 25 eu perdoo, 15 vai
ter que me devolver – 15% do dinheiro que eu lhe dei.
O incentivo é
reembolsável, mas está ajustado ao resultado que se obtém. O objetivo não é
gastar dinheiro, é atingir o resultado. O seu compromisso comigo não é gastar
dinheiro, é atingir o resultado. Mas, por esta forma, como você me vai devolver
dinheiro eu não vou pegar nele e devolvê-lo a Bruxelas. Eu vou usar este
dinheiro em mais candidaturas e apoiar mais projetos no futuro.
A outra forma
que eu tenho de alavancar o meu dinheiro é através dos instrumentos
financeiros. Eu crio fundos que se vão juntar a dinheiro da banca comercial,
como é o caso da instituição financeira de desenvolvimento, o conhecido Banco
de Fomento, que está a ser lançado, já está aprovado e vai ser lançado agora -
dentro de poucas semanas vão tê-lo no terreno a funcionar – e que é dinheiro
dos fundos europeus e da banca comercial para apoiar as empresas que têm bons
projetos mas a quem falta dinheiro.
Eu depois espero
que nas perguntas e respostas tenha oportunidade para vos falar sobre um novo
modelo da relação entre a Administração Púbica e os cidadãos em matéria dos
prazos, da forma como a relação vai funcionar, mas podemos falar sobre isso
mais tarde.
Vou então
terminar só dizendo-vos o seguinte: eu que estou a ficar velho, quero-vos dar
uma nota… O Zeca até ficou satisfeito agora por perceber que não está sozinho.
Estou solidário com o Zeca.
Mas queria
sinceramente dar-vos uma nota do meu inconformismo. E o meu inconformismo
porquê? Eu não sei se vocês têm a ideia de que Portugal, ao contrário do que se
diz, não é um país pequeno. Toda a gente diz: somos um país pequeno,
periférico, pobre. Estamos condenados a estar na cauda da Europa. Eu digo: não
é verdade, não estamos condenados! Desde logo, não é verdade que sejamos um
país pequeno. Façam uma pequena conta: se olharem para o número de habitantes,
Portugal está na primeira metade dos países europeus em número de habitantes. E
se olharem para a dimensão do país em território, também ficam espantados,
Portugal está na primeira metade dos países europeus em tamanho.
Portanto, não
somos um país pequeno, estamos na primeira metade, somos do grupo dos maiores.
O que nós somos efetivamente é um país pobre. E somos pobre porque as nossas
empresas são pouco competitivas. Temos que produzir melhor, valorizar o nosso
trabalho, para que as empresas possam vender mais caro o seu produto para pagar
melhores salários e para criar mais emprego. Este é que é o caminho.
Quando eu digo
que sou um inconformado, é porque eu olho muitas vezes… eu tenho filhos da
vossa idade. E como imaginam, eu não sou um inconsciente, eu olho para a situação
dos meus filhos e fico preocupado; olho para a vossa situação e fico
preocupado. Porque - verdade, verdadinha -, é que eu ainda conheci os meus avós
que tiveram uma vida bastante pior que a dos meus pais; e a vida dos meus pais
foi muito pior do que a minha, muito pior. A minha vida foi muito melhor do que
a dos meus pais. E agora, tudo se prepara, se nós não fizermos nada, a vida dos
meus filhos vai ser pior do que a minha. Isto não é bonito.
[APLAUSOS]
Imaginem vocês
como é que eu me sinto… ao fim de quarenta e tal anos de trabalho que eu já
levo, com descontos… olhar para trás e dizer: eu vou deixar à geração dos meus
filhos uma vida pior do que aquela que eu tive, que os meus pais me deram a
mim. Isto não é propriamente muito motivador nem me dá nenhuma satisfação.
Dá-me um bocadinho de raiva. Dá-me inconformismo. Eu não perco uma oportunidade
para, no tempo que ainda me restar, fazer o que puder para inverter esta
situação. Porque eu acho que isto é reversível, não estamos condenados à
pobreza – não estamos mesmo! Eu acredito que se nós quisermos, se fizermos tudo
bem feito, nós vamos chegar a 2020, já, com uma situação bem diferente daquela
que temos hoje. Só precisamos de fazer duas coisas: eu acho que a receita é
muito simples, porque aquilo que vamos ser em 2020 depende das escolhas que
fizermos agora em 2015.
E a receita é só
esta: pôr as contas públicas em ordem e aumentar a competitividade das nossas
empresas. Se nós fizermos isto, o país todo conseguir fazer isto, nós chegamos
a 2020 e eu garanto que a vossa perspetiva de vida já vai aparentar-se com
aquela que eu tive, que era uma perspetiva de crescimento, de melhoria das
condições de vida. Essa escolha depende agora de nós, em 2015. E não é surpresa
para vós se eu vos disser que eu acho este governo, este primeiro-ministro, merece
e nós precisamos que ele tenha a oportunidade de, em condições normais, sem ser
em condições de emergência financeira, em condições de estabilidade e de
normalidade, ter a oportunidade de fazer aquilo que ele precisa de fazer que é
aumentar o nosso rendimento e abrir futuro à vossa geração. Muito obrigado pela
vossa atenção.
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito obrigado.
Vamos agora passar à fase das perguntas, vamos fazer por bloco de duas, até
para recuperarmos um pouco do tempo – foi muito tempo, mas penso que valeu a
pena, valerá com certeza, este é o tema mais importante nos próximos anos em
Portugal. Eu vou dar a palavra à Jéssica Vieira, do Grupo Cinzento, e ao Hugo
Alves, do Grupo Bege. Volto a pedir: só uma pergunta, sejam rápidos, para dar
tempo a todos colocarem perguntas e, quiçá, irmos ao catch the eye.
Jéssica Vieira
Muito boa tarde
a todos. Há poucos dias o Ministro Mota Soares referiu que a medida do
cheque-formação iria ter um financiamento de 67 milhões de euros e que iria
contar com a participação de, aproximadamente, 35 mil desempegados e 180 mil
empregados. A minha questão é se o financiamento não deveria ser mais virado
para as pessoas que se encontram desempegadas, e não tanto para os empregados.
No entanto, sei que as empresas são obrigadas a dar formação aos seus
trabalhadores anualmente. Obrigada.
Hugo Alves
Muito boa tarde
a todos. Perdoando-se agora aqui a minha pronúncia relativamente ao nome que
vou referir, muito recentemente, Corina Cretu, concedeu uma entrevista ao
jornal Expresso em que referiu que 95% dos fundos comunitários foram
executados, no período de 2007 a 2013, por Portugal. Prevendo-se para o período
de 2014 a 2020, uma taxa, se não for similar, muito próxima à que se verificou
de 2007 a 2013, eu gostaria de saber de que forma é que o Estado português poderá
salvaguardar a sustentabilidade futura desse mesmo investimento. Ou seja, se
nós alhearmos três conceitos, nomeadamente, ao nível do aproveitamento,
execução e perpetuidade do respetivo fundo concedido, como é que nós poderemos
responder a esta questão? Obrigado.
Miguel Poiares Maduro
De forma breve,
então, começo eu, depois o Secretário de Estado Castro Almeida pode também, e
seguramente que o irá fazer, acrescentar algo.
Começo por esta
última questão, a questão da execução. Na realidade, hoje mesmo eu ouvi – e o
Secretário de Estado também estava presente – a Comissária Europeia dizer mais
do que isso, dizer que Portugal era o melhor Estado, de todos os Estados da
União Europeia, ao nível de execução dos fundos europeus. Foram palavras da
própria Comissária Europeia.
E no que diz
respeito à entrada em funcionamento do novo quadro, ele também entrou mais
rapidamente em funcionamento do que o quadro anterior. Neste momento, já
devemos ter quase próximo de seis mil milhões de euros em concursos – já ultrapassa
os seis mil milhões de euros, diz-me aqui o Secretário de Estado.
Não apenas
Portugal - palavras da Comissária Europeia -… é o melhor Estado ao nível da
execução dos Fundos Europeus, como no que diz respeito a este novo quadro, ao
Portugal 2020, já temos mais de seis mil milhões de euros que estão a concurso
e a nossa expetativa é executar, no primeiro ano, neste ano do novo quadro,
mais do dobro do que foi executado no quadro anterior, no seu primeiro ano de
execução do QREN.
Mas eu queria
frisar algo que tanto eu como o Secretário de Estado insistimos muito. É
fundamental que a discussão no nosso país não se faça apenas sobre quanto se
executa. Tão ou mais importante do que executar muito é executar bem. Não vale
a pena atirar dinheiro aos problemas se esse dinheiro é mal gasto. A ênfase
toda em avaliar a eficácia dos fundos, se os fundos estão ou não a ser bem
usados pelo país, na sua taxa de execução, é um erro. Nós temos muito orgulho
em ser aquilo que a Comissária Europeia disse: o Estado com a melhor execução.
Mas temos mais orgulho ainda na forma como estamos a desenvolver o Portugal
2020, para que a execução dos fundos seja em projetos de qualidade que façam a
diferença ao nível da competitividade da nossa economia, ao nível da inclusão
social. É sobretudo para isso que nós trabalhamos e é fundamental que assim
seja para o país.
O exemplo da
formação, de forma muito breve, antes de passar também ao Secretário de Estado.
Só para dizer dois pontos: nós temos apoios à formação quer ao nível daqueles
que estão empregados (formação ativa) quer desempregados. O que é muito
importante é a tal mudança aos incentivos. No contexto da formação de
desempregados, por exemplo, o facto de quem dá a formação, hoje em dia, ver o
montante de financiamento que irá receber, depender da taxa de empregabilidade
conseguida por aqueles que seguirem essa formação profissional.
Quanto maior
empregabilidade daqueles que seguirem a formação num determinado centro
profissional, numa escola profissional, maior o financiamento que irão obter. E
se essa empregabilidade ficar abaixo de 50% deixam de obter qualquer tipo de
financiamento. Ao contrário do que era no passado, em que, como eu disse, eram
financiados com base no número de pessoas que formavam, independentemente de
saber se essa formação tinha ou não correspondência nas necessidades do mercado
de trabalho e, portanto, se as pessoas depois iam ou não obter emprego.
O mesmo
relativamente aos programas de estágio, em que também mudámos essa lógica de
incentivos e hoje em dia o apoio aos estágios também depende depois de as
pessoas conseguirem obterem emprego ou não. Pelo menos uma percentagem desses
conseguir obter emprego. Não emprego necessariamente na empresa que dá o
estágio, porque até pode ser útil, às vezes, fazer um estágio numa empresa que
não tem capacidade de empregar mas que dá uma formação de qualidade àqueles que
estão a fazer esse estágio e lhes permitir depois obter emprego noutra empresa.
O sucesso de um estágio não se mede apenas pela empregabilidade na empresa onde
se fez o estágio. Pode-se medir pelo sucesso na obtenção de emprego noutra
empresa.
E no que diz
respeito à formação de ativos, outra novidade que nós introduzimos, na mesma
direção daquilo que tanto eu como o Secretário de Estado mencionámos, foi a
circunstância de, no passado, as empresas tinham essa formação paga a 100% - a
fundo perdido. Nós agora exigimos que haja uma comparticipação das empresas a
10%. Porquê? Se nós estabelecermos que a formação é paga a 100%, a empresa, na
realidade, vai dizer que sim a qualquer proposta de fazer essa formação, porque
não vai pagar nada. Se tiver de comparticipar 10% já vai pensar bem se aquela
formação tem realmente valor para os seus empregados ou não. Lá está: a mesma
lógica que nós procuramos estabelecer em todos os aspetos do novo programa de
financiamento dos fundos europeus.
Manuel Castro Almeida
Só para o caso
de alguém estar a tomar notas, e para que não haja aqui imprecisões, esta
última parte que o Ministro acabou de referir refere-se à formação-ação. Não é
toda a formação, é no caso da formação-ação, é exatamente assim.
Eu só posso
acrescentar o seguinte: nós temos, de facto, dotações para formação de
empregados e de desempregados. São motivações distintas. No Portugal 2020 vamos
ter mais dinheiro para desempregados e menos dinheiro para empregados, no
pressuposto de que já houve um grande esforço no quadro anterior com a
qualificação, o reconhecimento e validação de competências – os RVCCs, aquela
coisa a que se chamou "novas oportunidades” -, já levou muitas centenas de
milhões de euros e, portanto, muita gente já saiu desse mercado, já teve o
reconhecimento e validação de competências e saíram desse mercado e, portanto,
há agora menos necessidades para esse efeito.
Deixem-me
dizer-vos que, a propósito ainda da formação, os fundos estão a financiar
grande parte dos cursos de formação profissional das escolas secundárias
públicas. Não financiamos apenas a formação que é dada por empresas de formação
ou pelas empresas, elas próprias. Nós financiamos as escolas profissionais
públicas. E também essas escolas profissionais públicas ficam sujeitas às
regras de empregabilidade. Se uma escola profissional pública insiste em dar
cursos em áreas que não dão emprego, só porque lá tem os professores e quer dar
emprego aos professores e está-se a marimbar – desculpem-me a expressão – nos
alunos e insiste, ano após ano, a dar cursos que dão para o desemprego, podem
continuar a dar o curso, mas não é com os fundos europeus do Portugal 2020,
porque esses vão obrigar a ter uma comprovação de, pelo menos, 50% de
empregabilidade, senão não há dinheiro para eles.
Quanto à
execução, queria muito sublinhar estas palavras do Ministro, justamente no
momento em que Portugal é o país que tem a mais elevada taxa de execução. Mas o
apelo que eu vos faço, meus amigos, é este: não caiamos nessa tentação de olhar
para a taxa de execução dos fundos. Vamos medir é resultados; quais são os
resultados? Porque nós não temos nenhum motivo para nos orgulharmos, andamos
enganados com a taxa de execução. Somos o país com a melhor taxa de execução e,
no entanto, o rendimento decresceu um ponto, as desigualdades regionais não
desapareceram. E, portanto, não vale a pena estarmos a medir quanto dinheiro
gastámos.
[APLAUSOS]
O caminho certo
é olhar para os resultados e não para quanto dinheiro gastámos.
Claro que… ó
Calos deixa-me só dizer isto: é bom que fiquem com a cabeça aberta (os meus
amigos vão ser, algum de vós vai ser o Ministro do Desenvolvimento Regional, só
não sei quem é…), é bom que fiquem com a cabeça desperta para este ponto: há
vários países da Europa que assumem que não gastam todos os fundos europeus que
têm à sua disposição. Em Portugal isso seria um ultraje – devolver dinheiro a
Bruxelas, como se diz. Muitos países da Europa assumem que só gastam 60% ou 70%
ou 80% e devolvem o resto, ou melhor, não gastam. É uma opção que às vezes
poderia ser melhor do que algum dinheiro que nós gastámos mal gasto que serve
para criar vícios. Cria despesa, cria encargos para futuro, nem vale a pena
falar de quantos equipamentos foram feitos e agora não há dinheiro para o ar
condicionado, quanto mais para o resto… E portanto criamos despesa para gastar
dinheiro e o país não enriqueceu, empobreceu, porque é investimento que gera
despesa e que não gera riqueza.
Duarte Marques
Muito obrigado.
Dava agora a palavra à Carolina Patrício, do Grupo Rosa, e ao Luís Ponte, do
Grupo Azul.
Carolina Patrício
Boa tarde,
senhor Ministro, senhor Secretário de Estado. Um dos grandes desafios de
Portugal para que a retoma económica seja uma realidade passa pela criação de
investimento nacional e estrangeiro. A minha pergunta é: que tipo de
investimento deve o país privilegiar?
Luís Mário da Ponte
Boa tarde,
senhor Ministro, senhor Secretário de Estado, caros colegas. A minha pergunta
prende-se com empreendedorismo jovem e com emprego jovem. Quais são as metas
que têm previstas alcançar em 2020 em termos de indicadores nestas duas áreas?
Muito obrigado.
Manuel Castro Almeida
Então,
relativamente à questão do investimento estrangeiro ou nacional, qual deles é o
melhor? Para mim é-me indiferente. Venha o investimento, desde que ele seja
criador de riqueza e criador de emprego, venha ele. Nós temos um método, em
termos nacionais há o regime do concurso normal, quando há grande investimento
estrangeiro há um regime contratual próprio, já não é o regime de concurso, há
um regime contratual de negociação, digamos assim. Dentro de algumas regras,
mas negoceia-se com o investidor estrangeiro condições que tornem o nosso país
competitivo por comparação com outros países europeus. Aliás, nós temos
assumido nos fundos a regra de que o investimento, os fundos são reembolsáveis…
[INTERRUPÇÃO
DA GRAVAÇÃO]
Dep.Carlos Coelho
Peço
desculpa, está parcialmente resolvido o problema, mas os vossos microfones não
funcionam. Portanto, vão funcionar com o vosso microfone de mão. E eu peço
desculpa ao senhor Secretário de Estado e peço-lhe para retomar a sua
intervenção.
Manuel Castro Almeida
Eu
estou destruído porque tinham-me dito que isto era uma coisa absolutamente
impecável, esta Universidade de Verão era uma coisa fantástica, sem falhas…
[APLAUSOS]
Eu
estou destroçado, acho que o Carlos Coelho vai dormir mal esta noite e se
calhar o responsável pela instalação elétrica também.
Estava
a dizer, então… sobre investimento estrangeiro e investimento nacional, ambos
são bem-vindos. O investimento estrangeiro vai para um regime contratual. A
ideia é que Portugal seja competitivo. Quando algum cidadão da Alemanha está a
hesitar se vem investir em Portugal, ou na Hungria ou na Polónia ou na
Dinamarca nós temos que ser competitivos. E para isso há um regime mais
flexível de negociação com estes investidores estrangeiros.
Quanto
à questão do empreendedorismo, eu não sei responder à pergunta de qual é o
resultado que está previsto no Portugal 2020. O resultado está desagregado
pelos diferentes programas operacionais e eu não tenho o somatório disto. Não
vale a pena estar a inventar uma resposta que eu não sei. Era preciso ir a cada
um dos programas regionais e ver, mas se for fazer essas contas, elas estão
desagregadas porque este dinheiro está sobretudo nos programas regionais.
Aproveito
para chamar a vossa atenção – este auditório é especialmente selecionado para
aquilo que eu vos queria dizer. Há muito dinheiro nos fundos europeus para
apoiar iniciativas de criação do próprio emprego. Os meus amigos … – uns estão
empregados, outros estão à procura de emprego, estão a acabar os seus cursos -
a tentação de quem sai de uma universidade é fazer como fez o pai e a mãe que é
ir procurar um emprego. Mas não é a única solução.
Pensem
também na possibilidade de criar o vosso próprio emprego ou criar a vossa
própria empresa. Ponderem essa possibilidade. E há fundos europeus para isso, e
bastantes. E estes até são a fundo perdido. Os fundos para o empreendedorismo
são a fundo perdido.
E,
segunda novidade muito importante, vai haver dinheiro nas comunidades
intermunicipais, nas mãos dos Presidentes de Câmara, não individualmente – não
é o Presidente de Câmara de cada terra -, mas os Presidentes de Câmara reunidos
à volta da comunidade intermunicipal vão ter dinheiro para apoiar iniciativas
de empreendedorismo de base local. E o desafio que eu vos faço é: vão ao
www.portugal2020.pt, que é o balcão único de entrada nos fundos (está lá tudo
sobre os fundos), vejam quais são os concursos para empreendedorismo, quais são
as condições do concurso, e experimentem, avaliem. Desde que tenham uma boa
ideia, se o que vos falta é dinheiro, venham aos fundos. Não venham aos fundos
arranjar uma ideia, é bom que tenham uma ideia, que tenham um projeto, que
tenham um plano de negócios bem estruturado. Se eu tivesse dinheiro eu faria
isto, e isto e isto… ia experimentar este mercado, ia experimentar este
produto, esta técnica, etc. Só falta dinheiro. Pois bem, venham aos fundos
buscar o dinheiro porque há muito dinheiro para o empreendedorismo,
designadamente o empreendedorismo jovem.
Miguel Poiares Maduro
Só
muito breve para acrescentar, na mesma linha do que disse o Sr. Secretário de
Estado, o que há é bom e mau investimento. E o que nós queremos é bom
investimento. E desde logo eu acho que há dois aspetos fundamentais que nos
interessa, em termos do investimento que nós queremos promover, para a
competitividade do nosso tecido económico. O primeiro é bens e serviços
transacionáveis. Quanto mais atividade económica no nosso país passar a estar
assente nos bens e serviços transacionáveis – e essa mudança começou, mas tem
de ser muito aprofundada -, mais nós exportamos, mais produzimos que substitua
importações, logo, menos estamos sujeitos a desequilíbrios externos, a
endividamentos que depois nos levem a situações como aquelas que vivemos em
2011 e nos anos que se seguiram.
Segundo
lugar, o investimento é de maior qualidade, é mais duradouro, tem mais
potencial de criar emprego sustentável e emprego com qualidade, quanto mais
esse investimento estiver em relação com o território onde se insere.
Num
mundo global, a competitividade cada vez vai depender mais da capacidade de
valorizarmos aquilo que é local, os fatores diferenciadores do nosso
território. Porque uma competitividade assente num investimento externo que
chega um dia para utilizar mão-de-obra mais barata, facilmente esse
investimento parte na semana seguinte ou no mês seguinte se encontrar
mão-de-obra mais barata noutro sítio qualquer do mundo.
Mas
o investimento que chega para tirar partido dos nossos recursos endógenos, ou
da capacidade e dos recursos humanos que aí estão instalados, ou dos recursos
naturais que aí existem, ou dos fatores diferenciadores do nosso território,
esse tipo de investimento é o investimento que, por um lado, é mais resiliente,
mais resistente às pressões da deslocalização, que são típicas da globalização.
E é o investimento que, por assentar mais em fatores diferenciadores, mais nos
faz ganhar a competitividade internacional através da diferença. E é isso que é
fundamental. E o que nós necessitamos, é de associar esse investimento à
relação entre conhecimento e território, para promover a tal transferência de
conhecimento, que é fundamental.
O
nosso país, por exemplo, teve nos últimos anos, ao nível do sistema científico,
uma evolução nos números muito significativa. Temos mais investigadores, temos
mais cientistas, temos mais capacidade de produção científica, mas tivemos dois
problemas. Um é: este sistema científico nem sempre esteve dirigido para a
excelência. Aumentou em números, mas nem sempre em excelência. E tem vindo,
finalmente, agora a melhorar. Pela primeira vez, só no ano passado, no ano que
acabou, ao nível dos processos competitivos de obtenção de financiamento para a
ciência a nível europeu, é que nós conseguimos pela primeira vez obter mais
financiamento da Europa do que aquele com que contribuímos. Isso significa que
o nosso sistema científico, pela primeira vez, conseguiu ser competitivo, a
nível europeu, na obtenção de financiamento. E, portanto, há uma melhoria do
nível de excelência do nosso sistema científico, o que também é resultado dessa
evolução de números.
O
segundo ponto onde nós temos de melhorar, e muito – ainda mais, eu direi -, no
nosso sistema científico, mas não só no sistema científico, é na transferência
de conhecimento para as empresas, para o tecido económico. É conseguir tirar
valor económico do sistema científico. Isto não significa opor investigação
fundamental a investigação aplicada. Não há boa investigação aplicada, não há
capacidade de tirar partido da ciência nas empresas, se não houver um sistema
científico que também faça boa investigação fundamental. Os melhores sistemas
científicos na transferência de conhecimento são aqueles que são melhores,
também, na investigação fundamental. Mas necessitamos de agir ao nível do
sistema científico, ao nível das empresas, nos dois lados, para promover essa
transferência de conhecimento.
E
nós, sem entrar em detalhes, foi uma preocupação muito grande que tivemos neste
novo quadro, no Portugal 2020, foi promover não apenas um reforço das verbas
para a ciência, que são reforçadas face ao quadro anterior, e muito, mas que
esse reforço de verbas se traduza numa maior transferência de conhecimento,
depois, para as empresas.
Duarte Marques
Obrigadíssimo.
Passar agora a palavra ao Nuno Flipe Oliveira, do Grupo Amarelo, e depois à Ana
Catarina Neves, do Grupo Laranja.
Nuno Filipe Oliveira
Boa
tarde. A minha pergunta é dirigida ao senhor Secretário de Estado. Antes de
mais, como cidadão e como contribuinte (futuro contribuinte) gostaria de lhe
agradecer por se bater por uma cultura de responsabilização do Estado. Ora, à
medida que discursou foi-me respondendo a todas as perguntas que eu tinha
preparado. Eu queria falar sobre coesão territorial e sobre a desertificação do
interior. Já percebi que a maneira como desenhou estes novos incentivos,
chamemos-lhes assim, dos territórios de baixa densidade e… percebi que é hoje
mais fácil para um empresário estabelecer-se no interior, percebi também que é
hoje mais fácil para um empresário jovem iniciar a sua atividade empresarial no
interior. O que lhe pergunto é mais um exercício de futurologia - e não o quero
vincular com isto –, quando é que acha que conseguiremos ver resultados para
estas políticas? Muito obrigado.
Ana Catarina Neves
Senhor
Ministro, Senhor Secretário de Estado, gostaria de saber qual é a vossa opinião
relativamente ao papel da área metropolitana e das CIMs na gestão de fundos
comunitários, no âmbito da contratualização. Saber se aqui não poderá existir
conflitos de interesses, uma vez que as CIMs e as áreas metropolitanas podem
estar associadas aos municípios. Obrigado.
Miguel Poiares Maduro
Eu
começo talvez mais pela primeira pergunta, vou concentrar-me mais nessa e
depois deixo mais a segunda para o Secretário de Estado.
Nós
tivemos realmente uma grande preocupação com os territórios de baixa densidade,
como nunca aconteceu num quadro de fundos europeus anterior. Mas o que também
me parece importante notar é que esta preocupação que nós tivemos ao nível do
Portugal 2020, é uma preocupação que temos procurado introduzir num conjunto de
outras políticas públicas. Acho que este é o primeiro governo que tem –
sobretudo, direi, no último ano e meio –, de forma consistente, em várias
políticas públicas, introduzido um princípio de diferenciação positiva dos
territórios de baixa densidade. E eu vou dar-vos vários exemplos disso para
demonstrar que não é um aspeto isolado, nem sequer exclusivo do Portugal 2020.
No
Portugal 2020 temos bonificação nos processos de seleção. Ou seja, bonificação
a nível da avaliação dos projetos que vão ter lugar em territórios de baixa
densidade.
Temos
uma majoração para os investimentos que ocorrerem em territórios de baixa
densidade. Quem investir, quem fizer um projeto empresarial num território de
baixa densidade, tem mais 10% de apoio do que quem o fizer num outro território
do país.
Temos,
pela primeira vez, concursos específicos que são abertos – e foram abertos já –
apenas para investimentos a realizar em territórios de baixa densidade. Estão
quatro concursos neste momento abertos, dizem respeito à qualificação, ao
empreendedorismo criativo, à internacionalização, à qualificação empresarial.
Temos quatro concursos abertos, num montante global de 85 milhões de euros,
apenas e só para investimentos empresariais em territórios de baixa densidade.
É a primeira vez que acontece.
Ainda
no âmbito do Portugal 2020, assinámos recentemente dois memorandos e esperamos poder
vir a assinar um terceiro, com universidades do interior, para a criação de
centros de excelência, ou seja, centros de massa crítica, centros científicos,
que sejam líderes a nível internacional nos seus domínios, nessas universidades
do interior. Concordámos com as universidades do interior, em conjunto com o
Ministério da Educação e Ciência, fazer essa aposta, que é uma aposta muito
importante em termos científicos, que nunca foi feita nessas universidades do
interior, mas com uma condição – mais uma vez criando o incentivo certo – que
é: os critérios de seleção de quem vai dirigir esse centro, dos investigadores
do centro, as áreas em que o centro vai trabalhar, têm, por um lado, que ter
uma ambição genuinamente internacional e de excelência e, por outro, estar em
relação com a economia do território.
Por
exemplo, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, vai ser um centro
sobre a vinha e o vinho; na Universidade de Évora vai ser sobre o
agroalimentar. Porquê? O nosso objetivo é, não apenas, levar massa crítica de
excelência para essas universidades, e promover realmente, alavancar, essas
universidades no sentido de superarem os problemas que têm e atrair massa
crítica para esses territórios. Mas depois que essa massa crítica vá potenciar
a economia daquele território, esteja em relação com a economia daquele
território. A UTAD e a Universidade de Évora não podem ambicionar ser
excelentes em todas as áreas do conhecimento ou em áreas de conhecimento das
universidades que cobrem todos os domínios. Mas podem e devem ser excelentes,
podem ser as grandes universidades portuguesas nos domínios do conhecimento que
dizem respeito ao território onde estão inseridas. E foi isso que nós também
fizemos.
Mas
podia-vos dar outro exemplo: o regime do Código Fiscal de Investimento favorece
também os territórios de baixa densidade. O novo regime de incentivos à
comunicação social local e regional dá apoios mais reforçados e dá apoios mais
facilmente aos órgãos de comunicação social que estão nos territórios de baixa
densidade. O Programa Aproximar que favorece o estabelecimento de novas formas
de prestação de serviços públicos da administração pública desconcentrada em
territórios de baixa densidade.
Há
todo um conjunto de políticas públicas em que nós realmente adotamos este
princípio de diferenciação positiva, não discriminação positiva, mas
diferenciação positiva – é tratar de forma diferente os territórios de baixa
densidade, porque eles estão e vivem numa realidade diferente que tem de ser
reconhecida pelo Estado.
Manuel Castro Almeida
Então
eu vou centrar-me na segunda questão que tem a ver com o papel das CIMs e áreas
metropolitanas na contratualização.
O
que é isto da contratualização? Um programa operacional regional subcontrata
com uma CIM ou uma área metropolitana um envelope financeiro para executar um
plano estratégico. Portanto, não é a aprovação de um projeto individual de uma
Câmara Municipal, é uma dotação global que o programa faz, e diz, o Programa
Regional do Norte diz: eu vou atribuir à Área Metropolitana do Porto a quantia
de xis (são cerca de 90 milhões de euros) para executar um plano com estas
caraterísticas assim, assim… E depois é a Área Metropolitana do Porto, no seu
seio, que vai aprovar projetos em concreto. E o mesmo se diga para cada uma das
restantes comunidades intermunicipais.
Eu
dizia há pouco que, de facto, está a nascer um poder político novo em Portugal,
que é esta agregação de Presidentes de Câmara à volta de uma mesa. Até aqui
eles não tinham poder nenhum. Sentavam-se para, normalmente, reivindicar
investimentos para os seus territórios, para tomar posições políticas contra ou
a favor do governos, mas nunca para decidir sobre o uso de recursos públicos. E
agora, as CIMs e as áreas metropolitanas, vão passar a ter um pouco mais de mil
milhões de euros para decidirem que projetos apoiar.
Este
poder político novo é o conjunto dos Presidentes à volta de uma mesa a pensar
em conjunto. E isto, meus amigos, traz uma consequência muito importante. Isto
vai diminuir claramente as tentações da promiscuidade político-partidária, do
partidarismo que às vezes tenta a Administração Pública e tenta governos mais
frágeis de favorecer o concelho A porque é do meu partido, desfavorecer o
concelho B porque é do outro partido. E em vez de haver uma relação direta da
Administração Central com cada uma das Câmaras Municipais, dá-se um bolo à
comunidade intermunicipal e é à volta da mesa, entre vizinhos, em clima de
transparência, em que cada um sabe o quê que o outro vai ter, que este dinheiro
é afetado. Isto de facto é uma modalidade nova e muito mais transparente, mais
publicitada, mais aberta, mais sindicável de aprovar ou não aprovar projetos.
Fica aqui só uma pequena
questão, e que é esta: formalmente, os projetos não vão poder ser aprovados na
comunidade intermunicipal. Isto levantaria questões de conflitos de interesses
porque estaria o Presidente de Câmara a aprovar o seu próprio projeto. Ele é
aprovado no programa operacional regional, mas a proposta da CIM funciona como proposta
vinculativa. Não se pode dizer que não por razões de mérito – só por razões de
forma; se não foi feito o concurso público, se há uma regra formal que não foi
contemplada… Formalmente o programa é aprovado no PO mas, na prática, o poder
de decisão fica na comunidade intermunicipal.
Duarte Marques
Muito
obrigado. Dava agora a palavra à Beatriz Almeida, do Grupo Castanho, e depois
ao Luís Rebelo do Grupo Roxo.
Beatriz Almeida
Boa
tarde. Como sabem, nos últimos meses foi implantado o projeto "Espaço do Cidadão”.
É possível notar-se que grande parte destes espaços foi colocada em regiões do
interior, com o objetivo de aproximar a população à máquina administrativa do
Estado e efetivamente contribuir para combater a desertificação. Dito isto,
gostaria de saber se já é possível medir o impacto desta prática e que outras
medidas podem ser tomadas no âmbito da reforma administrativa para aproximar o
Estado à população. Obrigada.
Luis Rebelo
Boa
tarde senhor Ministro, senhor Secretário de Estado. Uma limitação que foi
apontada a vários programas de incentivo foi o excesso de burocracia necessária
para apresentar candidaturas. Sabendo também que a maioria dos nossos
agricultores tem mais de 60-65 anos torna-se complicado fazer candidaturas
on-line, o que levou à criação de empresas de consultadoria especializadas em
ajudar a elaborar projetos. Isto poderia criar desigualdades e prejudicar os
pequenos empresários que não têm capacidade de pagar a elaboração e o acompanhamento
dos mesmos. O que irá fazer de diferente o Portugal 2020 para garantir a
igualdade de acesso a estes fundos? Obrigado.
Manuel Castro Almeida
Eu
não vou sequer ensaiar uma resposta à questão do Espaço do Cidadão porque o
grande especialista está à minha esquerda.
Relativamente
a esta questão da burocracia eu posso então dizer-lhe o seguinte: foi uma das
críticas mais recorrentes que nós ouvimos dos empresários, era a burocracia no
acesso aos fundos. E então aplicamo-nos muito a encontrar soluções para
desburocratizar. Vou-vos dar alguns exemplos disso.
Primeiro,
as pessoas perguntam: mas como é que se chega aos fundos, qual o número de
telefone, onde é a porta, a que campainha se bate? Pois bem, só há uma única
porta de entrada nos fundos. Já há bocadinho a disse e repito: www.portugal2020.pt.
Esta é a porta de entrada comum de todos os fundos. Entrando aí tem lá as
respostas todas. Quais são os diferentes programas, quais são os diferentes
concursos, avisos de concursos, resultados dos concursos, está lá a
regulamentação toda… Portanto, informação concentrada neste site.
Segunda
questão. Diziam-nos as pessoas: a gente faz uma candidatura e demora imenso tempo.
Pois bem, foi fixado um prazo máximo de 60 dias para dar resposta a uma
candidatura e se ela for aprovada um pagamento não pode demorar mais do que 30
dias.
E
os meus amigos vão dizer: pois bem, de prazos está o Diário da República cheio,
de prazos que depois não são cumpridos. E o que eu digo é que eu acho que estes
prazos vão ser cumpridos porque o mesmo decreto que fixou estes prazos também
fixou uma norma que diz que os responsáveis pela violação destes prazos em mais
do que 20%, de tolerância, são automaticamente substituídos. Basta lá estar
esta norma para que todos os serviços estejam a tomar as providências adequadas
para se munirem dos meios necessários para cumprir os prazos e vão ver que os
prazos vão ser cumpridos.
Depois
diziam-me também assim: é um grande segredo, é preciso ter um amigo nos fundos
para saber quando é que vai abrir um concurso; será que agora há um concurso e
depois há outro? Temos que concorrer já a este? O próximo concurso é daqui a
dois meses ou é só daqui a dois anos?
Pois
bem, agora temos os concursos publicados, há um calendário de concursos com uma
antecedência de um ano para que as pessoas possam prever as suas candidaturas.
Previsibilidade, portanto.
Outro
problema que nos punham: a complexidade dos fundos. Havia cerca de cem
regulamentos diferentes para regular os fundos europeus. Concentramos esses
mais de cem regulamentos em apenas cinco regulamentos. Fica agora muito mais
fácil estudar, analisar a regulamentação dos fundos. E sempre que houver alguma
alteração, no site do www.portugal2020.pt está lá sempre a regulamentação
atualizada, e sempre consolidada. Qualquer alteração é metida no sítio certo
para estar sempre consolidada.
Depois
a desmaterialização. O que me diz é: mas então os senhores estão a pôr tudo
on-line e depois como é que o agricultor faz, o agricultor não tem a
possibilidade de ir ao computador. Pois nós previmos que o papel seja a
exceção, mas basta que algum promotor peça para fazer em papel e pode fazer em
papel, justamente a pensar nos promotores. Não está proibida a candidatura em
papel. A regra é o on-line mas quem quiser aparecer com papel pode aparecer com
papel.
A
questão dos consultores é muito interessante. Eu sou totalmente contra a
metodologia de ir perto de um consultor e dizer: ó amigo estude-me lá, se faz
favor, o que há aí de fundos e diga-me lá a que é que eu me posso candidatar,
porque eu ouço dizer que há aí uns fundos europeus, diga lá onde é que eu posso
ir?
Isto
é uma coisa horrível, temos que criar condições para evitar que isto aconteça.
Agora, quando o promotor sabe exatamente o que quer, tem um projeto, uma ideia
na cabeça, um plano de negócios e quer uma candidatura, eu acho bem que vá a um
consultor, porque isto não é fácil de fazer, tem complexidades. E fazer uma candidatura
bem feita ou mal feita pode fazer toda a diferença.
Última
nota, com a tolerância do nosso Reitor. É proibido pedir aos administrados
documentos que já estejam na posse da Administração – proibido nos fundos.
Aquele
papel que se estava sempre a pedir a dizer: eu não posso fazer um pagamento sem
que faça a prova de que não deve nada ao Fisco e à Segurança Social – isso está
proibido. É a Administração que tem que colher dentro da Administração essa
informação. Eu, fundos europeus, não posso dizer ao cidadão para ir a uma porta
da Administração buscar um papel para trazer a outra porta da Administração.
Sou eu que tenho que ir perguntar ao Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais
se aquele cidadão me deve dinheiro ou se não deve e perguntar ao Secretário de
Estado da Segurança Social se o cidadão me deve dinheiro ou não deve. E estou
proibido, os fundos, de pedir a prova de documentos que já existem no seio da
Administração.
Miguel Poiares Maduro
Este
último exemplo que o Secretário de Estado dá é um bom exemplo de como os fundos
estruturais podem ser o tal principal instrumento de reforma de funcionamento
da Administração Pública. Porque isto muda a lógica de funcionamento da
Administração Pública. Não é apenas a circunstância de estamos a facilitar o
acesso e candidatura aos fundos europeus. Nós estamos a mudar a cultura dentro
da Administração Pública quando dizemos à Administração Pública que já não
podem exigir aos cidadãos que sejam eles a certificar certos factos que são do
conhecimento de outros serviços da Administração Pública. Mas que deve ser esse
serviço da Administração Pública a obter essa informação, se a necessitar,
junto do outro serviço da Administração Pública.
A
informação deve circular dentro da Administração Pública e não ter de ser o
cidadão que vai à procura, que é o estafeta, se quiserem, da Administração
Pública. Isso não deve funcionar assim.
Ao
mudar esta regra estamos a mudar toda essa cultura de funcionamento da
Administração Pública. E por isso é que nós já adotámos este princípio e esta
regra para toda a Administração Pública. Neste momento, por exemplo, há um guia
na Administração Pública que identifica mais de mil instâncias em que um
serviço da Administração Publica pode necessitar da informação de outro serviço
da Administração Pública e como é que a podem obter. Este mecanismo funcionará
cada vez mais quanto mais os serviços da Administração Pública também estiverem
numa lógica de interoperabilidade, participarem numa plataforma que foi criada,
que é a plataforma de interoperabilidade da Administração Pública, que permite
de forma automática, a um serviço da Administração Pública, obter informação
que está na posse de outro serviço da Administração Pública. Isso facilita
imenso isto e torna o processo muito mais veloz.
É
por isso também que, também na mesma lógica de promoção de reformas, nós
colocamos como condição para qualquer candidatura de um serviço da
Administração Pública a verbas para modernização desse serviço, que previamente
adira à plataforma de interoperabilidade. Porquê? Porque, infelizmente, na
Administração Pública existe muito uma cultura de silos, não existe uma lógica
de funcionamento integrada. A Administração Pública não gosta de partilhar
informação e comunicar com os outros serviços da Administração Pública.
E
o que é que estamos a fazer aqui? A utilizar o acesso aos fundos para mudar
essa cultura de funcionamento da Administração Pública. Portanto, por um lado,
levá-los a aceder à plataforma de interoperabilidade e, por outro, estabelecer
essa regra que dispensa o cidadão de ser ele a comprovar essa informação e é a
Administração que comunica dentro de si.
É
isto também, é essa mesma lógica, que nos permite depois estar a evoluir muito
rapidamente na natureza dos serviços que prestamos aos cidadãos. Os Espaços do
Cidadão são um mecanismo através do qual nós permitimos aos cidadãos, em
espaços muito simplificados, em cooperação sobretudo com os municípios ou com
os CTT, com funcionários dos municípios ou dos CTT, tratar, neste momento, já com
mais de 150 serviços da Administração Pública envolvendo quinze entidades. E
quanto mais a Administração Pública, internamente, estiver organizada de forma
digital e de forma a partilhar informação nessa plataforma, mais esses serviços
também depois podem ser prestados através do Espaço do Cidadão.
O
que é que isso nos permitiu, por exemplo? Nós temos neste momento abertos mais
de 300 Espaços do Cidadão, que são no fundo mini Lojas do Cidadão - a Loja do
Cidadão está para o supermercado como o Espaço do Cidadão está para a mercearia
da esquina, se quiserem. Está ao nível do bairro, está ao nível da freguesia.
Está em locais onde as pessoas antes nunca podiam tratar de qualquer assunto
com a Administração Pública. Ao contrário daquilo que se temia, que era o
Estado a encerar sempre, a distanciar-se dos cidadãos, do território… não, este
modelo simples, usando as novas tecnologias, em parceria com os municípios, e
numa nova lógica de funcionamento integrado da Administração Pública, permite
levar a Administração Pública ainda mais próximo dos cidadãos. São mais de 800
Espaços do Cidadão em todo o país que estão contratualizados, e mais de 300 que
já estão abertos, em locais como, por exemplo, Salto, onde eu estive. 35 Km de
Montalegre. Antes, as pessoas, para renovar a carta de condução, tinham, na
melhor das hipóteses, de ir à sede de Município, fazer 35 Km numa estrada de
montanha, e nalguns casos, para outro tipo de serviços, ir mais longe. Hoje
podem renovar a carta de condução sem sair dessa localidade de Salto.
E
como isso, muitas outras localidades do interior do interior do nosso país já
beneficiam dos Espaços do Cidadão, que é parte do Programa Aproximar, que é uma
nova lógica de funcionamento da Administração Pública. Substitui os diferentes
serviços individuais pela sua presença em Lojas do Cidadão. Portanto, as Lojas
do Cidadão não são o que eram no passado, que eram mais um nível, mais uma
camada em relação à outra camada. Mas não, é onde os diferentes serviços estão
presentes, mas de forma mais acessível e com proximidade, pelo menos uma por
município. E isso permitiu-nos, por exemplo, evitar o encerramento de
Repartições de Finanças que estavam previstas. Elas ficarão é em Lojas do
Cidadão, mas são Repartições de Finanças ao nível de cada um dos municípios,
complementada por esta rede de maior proximidade que é a rede do Espaço do
Cidadão, mais de 800, mais de 300 já abertos, onde os cidadãos vão poder fazer
inúmeros serviços. Não podem ainda fazer todos no Espaço do Cidadão, mas
crescentemente vão poder fazer.
A
ideia é que as pessoas só passem a ter de ir ao serviço dedicado, à Repartição
de Finanças, ao IRN, na Loja do Cidadão, na respetiva Loja do Cidadão
municipal, quando necessitarem de algum atendimento especializado. Quando não
necessitarem desse atendimento especializado vão poder tratar do assunto mesmo
ao nível da freguesia ou ao nível do seu bairro, no Espaço do Cidadão. E isso
tem outra vantagem, que é: vai retirar pressão sobre a rede tradicional e,
portanto, vai acelerar o ritmo de resposta dos serviços públicos tradicionais
nas Lojas do Cidadão.
Há
um conjunto de vantagens, mas o que eu queria frisar é o seguinte: isto é
possível porque, subjacente a isto, estão duas mudanças na cultura de
funcionamento.
Uma:
uma Administração Pública mais integrada, partilhando informação, partilhando
plataformas digitais, disponibilizando os mesmos serviços através de um único
canal.
Segundo:
uma muito maior cooperação com a Administração Local. As Lojas do Cidadão que vamos
fazer em todos os municípios – estamos a fazer neste momento, várias já em
construção, em quatro comunidades intermunicipais do país os projetos-piloto
estão em implementação plena -, estas Lojas do Cidadão que vamos fazer são
Lojas do Cidadão que são possíveis porque utilizamos, em muitos casos,
edifícios dos municípios que valorizamos, ao mesmo tempo, e isso vai permitir à
Administração Pública central poupar 30%, em média, em custos de funcionamento,
em custos de renda, mas manter proximidade com ainda maior qualidade de
serviços.
Portanto,
esta mudança na cultura de funcionamento interno da Administração Pública Central,
esta partilha e cooperação com a Administração Local, é o que nos permite, sem
aumentar custos, pelo contrário, reduzindo custos, prestar ainda melhor serviço
e com maior proximidade aos cidadãos.
Duarte Marques
Muito
obrigado, senhor Ministro. Dou agora a palavra ao Alex Morais Ramos, do Grupo
Verde, e à Mariana Lima, do Grupo Encarnado.
Alex Morais Ramos
Muito
boa tarde a todos. Senhor Ministro, tendo abordado temas como os territórios de
baixa densidade e a coesão territorial, e para fugir um bocadinho aos fundos,
gostaria de saber se vão encerrar num futuro próximo mais serviços no interior
do país. Obrigado.
Mariana Lima
Boa
tarde senhor Ministro e senhor Secretário de Estado. O investimento na educação
assume um papel inigualável para o progresso técnico e consequente crescimento
económico, na medida em que, ao invés das infraestruturas, que são temporais, o
conhecimento é eterno. Neste sentido, a Equipa Encarnada pretende colocar a
seguinte questão: quais consideram ser as medidas prioritárias para a
valorização do capital humano no âmbito do programa Portugal 2020. Obrigada.
Miguel Poiares Maduro
Começo
então pela primeira pergunta. Nós neste momento o que estamos a fazer, com o
Programa Aproximar, não é encerrar, é abrir. Garantindo maior proximidade ao
cidadão, melhor qualidade dos serviços da Administração Pública desconcentrada.
Mas estamos a fazê-lo ao mesmo tempo que asseguramos uma maior racionalidade de
funcionamento e poupanças globais para o funcionamento da Administração
Públicas. Porque, por exemplo, um IRN ou umas Repartições de Finanças que neste
momento pagam a renda de um edifício privado, mudam - sem sair do município,
portanto, sem encerramento naquele município desse serviço -, mudam para uma
Loja do Cidadão que é feita em cooperação e partilha com o município e,
portanto, pagam um custo mais baixo. Isso permite-nos oferecer melhores
serviços, manter a proximidade ou reforçar a proximidade através do Espaço do
Cidadão e, ao mesmo tempo, reduzir custos de funcionamento da Administração
Pública.
Outra
questão é saber se podemos excluir sempre uma reorganização dos serviços da
Administração Pública envolvendo hospitais e escolas. Seria populista dizer
que, hoje em dia, aquilo que temos em termos de presença de hospitais, escolas,
do Estado no território é imutável, vão sempre ficar nos sítios onde estão
hoje. Isso não é concebível em termos de funcionamento racional do Estado para
a qualidade dos serviços públicos prestados aos cidadãos.
Agora,
nós temos de partir sempre do seguinte objetivo principal: o objetivo deve ser
prestar melhores serviços aos cidadãos. E portanto, às vezes, pode fazer
sentido, ao nível dos hospitais, por exemplo, encerrar num determinado local
para concentrar com melhor qualidade noutro local se, entretanto, por exemplo,
há uma via que assegura o mesmo tempo de deslocação permitindo, ao mesmo tempo,
assegurar melhor qualidade dos serviços médicos prestados. Eu acho que nós temos
de ser sérios com as pessoas e dizer isto. Agora, esta reorganização, este
repensar permanente dos serviços públicos, e da sua presença no território, será
sempre necessário e tem de ser feito numa lógica e com uma preocupação de não
acentuar, mas, pelo contrário, de corrigir essas assimetrias territoriais.
Portanto,
o que nós não podemos ter, e por vezes aconteceu no passado, é uma lógica de
diferentes ministérios setoriais, todos a terem de tomar decisões de
encerramento, mas não estarem articulados entre si. E isso leva a que, em vez
de, por exemplo, se concentrar melhor qualidade de saúde numa determinada
localidade e, num município vizinho, melhor qualidade ao nível da educação, por
exemplo, concentramos encerramentos no mesmo município. Isso não pode ser.
Nós
temos de ter uma abordagem mais integrada, mais articulada, para isso mesmo.
Esta lógica de mapeamentos, que o Secretário de Estado mencionou, com a
participação dos atores que conhecem o território, através das comunidades
intermunicipais, ajuda a isso mesmo. E o que é muito importante - eu não sei se
o Secretário de Estado chegou a mencionar isso - é que esta lógica dá uma voz
às comunidades intermunicipais e aos municípios, mas não isoladamente,
obrigando-os a articular-se a coordenar-se entre si nas comunidades
intermunicipais, nos equipamentos, é uma voz que lhes foi dada não apenas para
os equipamentos da Administração Local, mas também para os equipamentos da Administração
Central. Eles passaram a ter essa voz. E faz sentido porque eles conhecem o
território. Essa articulação tem de ser feita com eles, eles têm de ter um peso
igual, pelo menos, ao da Administração Central nessa matéria.
Só
isso já vai ajudar a que, no futuro, esta intervenção em termos de
equipamentos, e depois dos serviços que lhes estão associados, cada vez seja
feita de forma mais racional, não de forma a acentuar um ciclo vicioso que
aconteceu no nosso país em que os territórios perdem dinamismo económico e
social, perdem população, depois perdem serviços públicos e tudo isso
contribui, permanentemente, para reforçar, cada vez mais, a assimetria
territorial, mas para procurar inverter esse fenómeno. E isso exige, realmente,
distribuirmos melhor a massa crítica e a relação dos serviços públicos no
território.
Não significa dizer:
atenção, a realidade da presença do Estado no território vai permanecer
imutável para sempre. Isso não é, nem sequer sério prometer, nem é o correto a
fazer. Agora, temos de ter é uma distribuição equilibrada e que atenda às
preocupações de melhorar a qualidade dos serviços públicos e de o fazer sempre
com atenção à coesão territorial que temos de salvaguardar.
Manuel Castro Almeida
Vou
então centrar-me na questão das prioridades para a educação. Pode parecer
estranho perguntarem ao Desenvolvimento Regional quais são as prioridades para
a Educação. Afinal qual é o papel do Desenvolvimento Regional nisto? O que se
passa é que o Ministro da Educação tem um orçamento de oito mil milhões de
euros para tratar da educação. E depois tem um envelope adicional de fundos
europeus para incrementos de qualidade na educação. Para adicionar ao orçamento
que ele tem para melhorar a performance do nosso sistema educativo. Portanto,
nessa medida, nós tivemos que estabelecer em conjunto, uma série de prioridades
a atender com o dinheiro dos fundos europeus.
Primeira
questão: deve ou não deve haver mais dinheiro para escolas? A Comissão Europeia
não queria gastar nem mais um tostão em escolas, com o argumento de que
Portugal tinha já investido muito dinheiro em escolas, o que é verdade.
Todos
sabem que nos últimos anos, sobretudo na última parte do governo socialista que
antecedeu o atual governo, foram feitos investimentos vultuosíssimos em
escolas, sobretudo na reconstrução de escolas secundárias, a cargo da Parque
Escolar. Essas obras custaram 13, 14, 15, 16, 17, 20 milhões de euros cada uma.
Foram investimentos enormes. Só, nalgumas delas, o sistema de ar condicionado
custou vários milhões de euros. Hoje a maior parte deles estão desligados. E,
olhando para as médias, a Comissão Europeia dizia: os senhores já gastaram em
Portugal dinheiro suficiente para a reconstrução do parque escolar que, além do
mais, está a diminuir o número de alunos. E, portanto, não há razão para gastar
mais dinheiro em escolas.
Nós
tentámos fazer ver à Comissão Europeia que era muito injusto, provavelmente era
ainda mais injusto para as escolas que não estavam qualificadas, conviver ao
lado com uma escola topo de gama. E o que estava a acontecer em alguns sítios,
é que na mesma localidade, na mesma cidade, em Braga, em Guimarães, em
Barcelos, em Évora ter uma escola completamente remodelada e ao lado uma escola
degradada. Isto era muitíssimo injusto, mais valia então ter as duas
degradadas, porque senão íamos criar ali uma dicotomia de escola para ricos –
escola para pobres; professores de primeira - professores de segunda; alunos de
primeira - alunos de segunda, e portanto, não interessa nada a um aluno ou a um
professor saber que a média das escolas portuguesas é boa.
A
minha escola tem condições ou não tem condições. E se não tem condições é
preciso dar-lhe condições. E então acertámos com a Comissão Europeia uma
pequena dotação de 350 milhões de euros para renovar o parque escolar. É uma
pequena dotação porque já tínhamos gasto dois mil e tal milhões de euros a
recuperar escolas.
Esta
é uma área importante. A outra área que eu já há pouco referi, e o Ministro
também referiu, muito importante, é a do combate ao abandono escolar. E aqui
vai haver, pela primeira vez, dinheiro nos programas operacionais regionais,
onde estão mais próximos dos Presidentes de Câmara, para poder tratar de
programas de combate ao abandono escolar. Porque aqui deixem-me dizer-vos uma
coisa muito simples:
O
abandono escolar consegue-se com algumas medidas que cabem ao Ministro da
Educação, a nível nacional. Mas chega a um ponto de malha fina onde tem que ser
o Presidente da Câmara, ou até o Presidente da Junta de Freguesia, a ir atrás
do menino António, do menino Joaquim, do menino José que falta à escola e que
tem de voltar para a escola. Ele é que sabe, localmente, o que é preciso fazer
para voltar a levar o miúdo para a escola. É preciso tirar a mãe do alcoolismo,
tirar o pai da droga, arranjar emprego a este… enfim, dar alimentação ao miúdo,
simplesmente. É preciso arranjar uma estratégia individualizada para levar o
miúdo à escola. E isto não se faz a partir do Ministério da Educação, a partir
da 5 de Outubro, como é evidente. Vai haver agora dotação nos programas
regionais para este efeito.
E
por aqui me calo, porque este homem, de facto, é insuportável. E portanto, só
para dizer que a aprendizagem ao longo da vida, e a percentagem de 40%, que é o
objetivo que nós temos de chegar a 2020 com 40% de diplomados com ensino superior
na população até aos 34 anos. É também um objetivo de grande importância.
Dep.Carlos Coelho
Muito
bem. Nós terminámos a fase das perguntas obrigatórias; não temos já tempo para
fazer as perguntas livres. Mas admito que depois das vossas perguntas possa
haver alguma coisa ainda que falte para dizer. E portanto vou convidar os
nossos dois oradores, o Prof. Doutor Miguel Poiares Maduro e o Dr. Manuel
Castro Almeida, a fecharem as suas considerações em intervenções de três
minutos, ou seja, aquilo que acham que ainda faltou dizer, as últimas mensagens
para nós, depois fecharemos a sessão. Senhor Ministro, tem V. Exa. a palavra.
Miguel Poiares Maduro
Eu
vou tentar levar só três minutos, realmente, porque o deputado Carlos Coelho
exerce mais disciplina do que a Troika. Se fosse ele, não eram necessários
três, bastava realmente um para impor toda essa disciplina.
[RISOS]
Eu
queria, fazendo um ponto final, talvez centrar-me em dois aspetos que me
parecem fundamentais para o nosso país continuar a crescer, a gerar emprego,
como finalmente voltamos a fazer, e fazê-lo de forma cada vez mais acelerada e
mais sustentada.
O
primeiro é continuar um caminho de reformas. E nós aquilo que procuramos fazer
aqui convosco foi demonstrar até que ponto o Portugal 2020 foi realmente um
instrumento fundamental, o grande instrumento para reformar o país em muitas
das nossas políticas públicas. Ainda agora o Secretário de Estado falava da
questão do abandono escolar e eu queria, a esse respeito, notar o seguinte: a
questão do abandono escolar e da aposta que fazemos no abandono escolar é uma
questão que está relacionada também com uma reforma mais profunda que diz
respeito às novas funções da Administração Local. Nós intervimos a esse nível,
seja com os fundos, reorientando as verbas a que os municípios têm acesso, e,
por exemplo, passando a dar-lhe um papel nessas áreas que não tinham antes, mas
ao mesmo tempo não lhes dando tanto financiamento para equipamentos e
infraestruturas como tinham no passado. Como agimos nessa matéria, por exemplo,
noutros domínios. Na Lei das Finanças Locais, noutros aspetos. Procurando fazer
realmente uma reforma da Administração Local, mas fazendo uma reforma da
Administração Local como ela deve ser feita. Eu diria que há uma reforma das
reformas que nunca ninguém fala em Portugal, que é a reforma de como é que se
discute as reformas no nosso país.
Eu
no outro dia via numa discussão, daqueles senadores do nosso país, dizerem: a
Administração Local… não se fez reforma porque não se fundiram municípios. Como
se a reforma da Administração Local fosse fundir municípios. Quando se discute
a reforma da Administração Local qual deve ser a nossa primeira preocupação? É
o que é que nós queremos que a Administração Local seja, que funções é que deve
ter e de que forma deve exercer essas funções? E nós, olhando para o passado, o
que podemos dizer, fundamentalmente, é o seguinte: nós queremos uma
Administração Local que seja e funcione de forma equilibrada ao nível
financeiro e isso foi conseguido, nestes últimos anos, com um reequilíbrio
financeiro extraordinário da Administração Local, através de várias reformas
estruturais que foram implementadas ao longo desta legislatura, mas também
queremos uma Administração Local que, cada vez mais, reoriente a suas funções
para novos domínios como, por exemplo, o abandono escolar, como a inclusão
social – outras áreas. E fizemos isso quer através dos incentivos que demos nos
fundos europeus, quer, por exemplo, através do processo de descentralização,
extraordinariamente importante, ao nível da educação.
Porque,
como dizia o Secretário de Estado, e muito bem, o abandono escolar… eu aqui até
discordo ligeiramente do senhor Secretário de Estado. Ele tem de ser sobretudo
combatido é ao nível local. Porque nós sabemos que é nos sistemas de educação
mais descentralizados que, por exemplo, há mais mobilidade social e há mais
sucesso escolar, porque nós sabemos que é quem conhece a realidade do
território que pode intervir, não apenas na escola, mas no meio social onde o
aluno se insere e, dessa forma, mais facilmente combater o abandono escolar. E
nós agimos dessa forma integrada.
Portanto,
primeiro ponto muito importante: para nós conseguirmos gerar crescimento e
emprego de forma sustentável temos de continuar o caminho de reformas que
iniciámos.
Mas
o segundo grande pilar em que temos de continuar a assentar essa recuperação do
crescimento e do emprego é manter a confiança que conquistámos. É extremamente
difícil gerar confiança, é ainda mais difícil readquirir a confiança que foi
perdida. Vejam a dificuldade e os sacrifícios que se exigiu aos portugueses
após 2011. Vejam a enorme dificuldade com que a Grécia ainda se confronta.
Porquê? Porque perdeu credibilidade, porque perdeu confiança.
É
essa confiança, é essa credibilidade que nós reconquistámos, que nós não
podemos perder. E eu direi que essa é talvez a grande escolha, e o fator
decisivo que nós temos em questão nas próximas eleições legislativas – é não
perder essa credibilidade que reconquistámos, é não perder essa confiança, e
mobilizar a confiança crescente que os portugueses sentem na realidade do país,
na superação da crise, para continuar o caminho das reformas que nos vai trazer
um crescimento económico cada vez mais forte, cada vez mais sustentável e com
emprego de maior qualidade.
[APLAUSOS]
Manuel Castro Almeida
Eu
votava neste homem. Se ele fosse candidato, eu votava nele.
Bom,
meus amigos, muito simplesmente para dizer o seguinte: eu estou convencido, e
tenho a certeza de que o meu Ministro também, que nós fizemos uma boa
programação dos fundos. Os fundos estão bem programados, as orientações estão
bem traçadas, as escolhas estão bem feitas, o caminho é o certo. A programação
está certa.
Esta
ideia de privilegiar a competitividade está certa. Vai haver umas pessoas que
vão ficar aborrecidas porque nós damos menos prioridade à obra e há muita gente
que se habituou a viver da obra. Quer empreiteiros, quer quem beneficia da obra
como forma de ganhar votos. Porque algumas pessoas ainda olham para trás e
acreditam que os votos vêm das obras. E os portugueses vão-se habituando, cada
vez mais, a valorizar quem cria mais condições de riqueza e de emprego e não
tanto quem faz mais obras. Isto é muito visível quando se fala com autarcas. Os
autarcas da nova geração já perceberam que não é pelo lado das obras que vão
ganhar eleições. Mas é uma tentação, porque a forma mais fácil de ganhar
eleições é fazer obra, porque o mais fácil é fazer obra, sobretudo se não tiver
que ser paga.
[APLAUSOS]
Eu
digo-vos com toda a convicção. Como muito de vós sabem, eu fui autarca. A vida
dos autarcas, no futuro, é bem mais difícil do que foi no passado. Porque no
passado ganhava-se as eleições fazendo obra. No futuro os autarcas não vão
ganhar eleições com obras, nem vai haver tanto dinheiro para obras, que fique
isto claro. Os autarcas vão ter menos dinheiro para obras; já não digo os
autarcas vão ter menos dinheiro. Porque vão ter menos dinheiro para obras mas
vão ter mais dinheiro para a área social. Vão ter pela primeira vez
oportunidade de ter dinheiro para apoiar o empreendedorismo de base local. E
vão ter dinheiro como nunca tiveram para ações de inclusão social, de combate
ao abandono escolar, de combate à pobreza, de combate à exclusão.
Nunca
houve tanto dinheiro nas autarquias como vai haver agora para essa área social.
Pelo contrário, vai haver menos dinheiro para obras. Mas nós temos que dizer
isto com grande orgulho. Eu digo isto com a cara cheia. Quando alguns autarcas
dizem: vai haver menos dinheiro para obras? Pois vai, claro que vai, tinha que
haver. Esta é que é a medida corajosa. Não é de obras que o país está a
precisar. É de rendimento, é de emprego, é de dinheiro no bolso. E os autarcas
também têm de trabalhar para isso, sobretudo têm de trabalhar para isso. Não
podemos fazer como fazem os socialistas, que é dizer: há ali uma reivindicação,
queriam ali mais umas obras – pois, vamos já fazer uma reprogramação para dar
mais dinheiro para obras. Já ouço falar de reprogramações. Era só o que faltava!
Temos que nos levantar todos contra qualquer reprogramação que ponha mais
dinheiro do lado das obras e menos dinheiro do lado da criação de riqueza e do
lado da criação de emprego, porque isso é que interessa.
Está
previsto no programa que vai haver uma reprogramação em 2018. Ela está
prevista. E está previsto qual é o critério dessa reprogramação: os programas
que tiverem atingido melhores resultados vão receber dinheiro dos programas que
tiverem atingido menos resultados, ou que não tiverem atingido os resultados
que estão previstos. Pela primeira vez não é dizer: os programas que gastaram
mais vão receber dos que gastaram menos; é: os que atingiram resultados vão
receber dos que não atingiram resultados. Este é que é o caminho certo, este é
o caminho exigente, meus amigos. Mas nós somos social-democratas é por isso;
acreditamos na importância do mérito, no valor do trabalho, na responsabilidade,
no sentido do longo prazo. Não é no imediatismo, no facilitismo. Essa é a
conversa dos outros. Felizmente nós não somos assim; mas temos de ter coragem
de afirmar isto. Não é envergonhados a dizer nós somos pelo trabalho… Não! Nós
somos pelo trabalho, pela responsabilidade, pela confiança que nós temos que
ter em nós próprios.
Eu
acredito… apesar de haver pessoas como o Carlos Coelho… eu acredito que, se nós
todos… (ele é um caso arrumado) se nós todos, meus amigos, deixem-me dizer-vos
isto olhos nos olhos… se nós todos pusermos muita qualidade naquilo que
fazemos, se assumirmos a qualidade como um estado de espírito - fazer tudo bem
feito: namorar bem, estudar bem, trabalhar bem, produzir bem, obter resultados,
tudo bem feito, tudo com qualidade, este país vai ter qualidade e nós não
estamos condenados à pobreza eterna.