Senhores deputados, minhas senhoras e meus senhores.
Todos sabem, com exceção do Dr. Luís Montenegro, que começamos os nossos
jantares sempre com um momento cultural que consiste na escolha de um poema e
na sua leitura e as escolhas de hoje são do Grupo Cinzento e do Grupo
Encarnado.
O Grupo Cinzento escolheu um poema chamado "Inocente
Criança” e diz que somos humanos num abraço sem conta. Não podemos aceitar o
flagelo do sofrimento, da visão que alguns tentam tapar. Este poema expressa o
que muitas passam, sentem, onde muitos Estado ignoram, olhando-as como objetos.
A maior desgraça humana e o aperto de mão, a frieza, solidão e falta de
sentimento.
Por seu turno, a música escolhida, do filme "A Lista de
Schindler” constrói a ponte entre um holocausto passado e um futuro que poderá
ser levantado pelos refugiados que ouvimos e sabemos, todos os dias, que tentam
sair do ermo onde vivem.
Será o poema do Grupo Cinzento, lido pelo Ricardo Pinto.
Depois, pelo Grupo Encarnado, teremos, com a voz da
Mariana Lima, Portugal, do Miguel Torga.
O Grupo Encarnado escolheu o poema Portugal, de Miguel
Torga, por enaltecer de forma brilhante a génese, a construção e o destino do
nosso país. Trata a necessidade de respeitar de onde vimos e para onde vamos, a
necessidade de reforjar a luz a corrente de outro, pois é essa a união do
passado e do presente, da tradição e do progresso.
Fiamos, portanto, com as
vozes de Ricardo Pinto e Mariana Lima.
Ricardo Pinto
Olho-me e desfaço-me
Pintando o meu mais triste
pensar,
O coração que tanto teima em
me sensibilizar.
Sentimentos? Esses, que me
foram escondidos?
Crianças em jogo de pretexto
Por desejos preteridos.
Vida, ai vida que tanto me
tentas gramar.
Estados, monstros, homens sem
alma.
E, enquanto na minha tinta
correr a calma,
Acompanho-a sem ter que
chorar.
Pergunta aos pais onde irá
residir
Onde comer ar para poder
resistir.
E, os que vivos estão, tentam
responder:
O nosso eterno mar onde
poderemos sobreviver.
São futuros olvidados por uma
pura tenra idade
Vozes imaginadas
Em longínqua mas mais nobre
lusitana saudade.
Enquanto em nós mantiver esta
aliança
Lutaremos pela causa,
granjeemos a esperança.
E, se nas mãos tivermos a
mudança,
Quem sabe se não salvaremos
aquela inocente criança.
Muito obrigado.
[APLAUSOS]
Mariana Lima
Avivo no teu rosto o rosto que
me deste,
E torno mais real o rosto que
te dou.
Mostro aos olhos que não te
desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.
E eu sou a liberdade dum
perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu
destino
Que de antemão conheço:
Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da
fortuna,
Achar sem nunca achar o que
procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no
passado.
[APLAUSOS]
Eu agradeço muito à Mariana e ao Ricardo o momento
cultural que nos proporcionaram. A forma como escolheram e como leram os poemas
e também a circunstância de terem escolhido excelentes peças musicais como pano
de fundo dos vossos poemas.
Mas permitam-se que felicite o Ricardo, porque, além de
ter lido muito bem, eles escreveu muito bem, porque o poema é dele.
[APLAUSOS]
(Depois do Jantar)
Maria João Magalhães
Boa
noite ao Dr. Luís Montenegro, o meu nome é Maria João, eu sou participante nesta
Universidade e cabe-me hoje a delicada missão de fazer um brinde em sua hora.
O Dr. Luís Montenegro, como todos sabem, é atualmente
deputado na Assembleia da República e Presidente do Grupo Parlamentar do PSD, e
embora seja ainda muito jovem para ter tamanhas responsabilidades, a verdade é
que o Dr. Luís Montenegro tem para trás já uma larga carreira com inúmeros
cargos regionais e também com trabalho como advogado.
Uma vida profissional, que esteve sempre marcada pelo
serviço aos outros e que começou muito longe dos ambientes formais da
Assembleia da República e dos escritórios de advogados quando era ainda
nadador-salvador numa praia de Espinho.
[APLAUSOS]
O seu percurso é por isso exemplar para todos nós que estamos
aqui para aprender sobre matérias de substância mas também sobre o percurso dos
oradores que muito nos honram em vir cá visitar-nos. Eu acho que esta
experiência tem sido rica em muitos planos. Se eu tivesse que destacar um,
seria realmente o acesso que nos tem sido dado a figuras intelectuais,
políticas e empresariais de Portugal e ter a oportunidade de dialogar
diretamente convosco, acho que é uma enorme sorte para todos nós. E por isso
agradeço em nome da turma da Universidade de Verão de 2015 a sua presença hoje
aqui e peço a todos que ergam o vosso copo para desejar ao Dr. Luís Montenegro
muita saúde, muito sucesso e felicidade.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Esteve bem a Maria João quando recordou o passado de
nadador-salvador do Dr. Luís Montenegro. Ele tem feito, aliás, essas funções ao
longo da vida. Várias vezes salvou a JSD enquanto dirigente da "jota”, várias
vezes salvou o partido enquanto dirigente do partido, várias vezes salvou a
autarquia de Espinho, onde esteve de alma e coração, até ter contribuído
decisivamente para a vitória do PSD nessa autarquia, e agora tem ajudado a
salvar a representação do PSD na Assembleia da República com muita dignidade e
muita eficácia.
O Dr. Montenegro tem exercido as funções de líder
parlamentar num momento difícil, nós sabemos em que condições é que recebemos o
poder, talvez não tenha havido muitas vezes na História da democracia
portuguesa um período tão grande em que tanta exigência se tenha colocado ao
grupo parlamentar do PSD e ao seu líder parlamentar, e o Dr. Montenegro fê-lo
com muita competência, com muita eficácia e com muita elevação.
De uma forma geral, toda a gente do PSD reconhece que a
liderança do grupo parlamentar esteve ao seu melhor nível, e o que é mais
notável é que mesmo nos adversários há respeito e consideração pelo líder
parlamentar do PSD. Portanto, se alguma coisa eu tinha que dizer ao receber o presidente
do grupo parlamentar do PSD é que temos uma dívida de gratidão pela qualidade,
pela dignidade e pela eficácia que emprestou às suas funções e ao grupo
parlamentar que dirige.
O nosso convidado de hoje tem como hobby praticar
desporto - o futebol e o voleibol de praia – tem como comida preferida o
camarão de Espinho, como não podia deixar de ser, de entrada, uma sopa de peixe
feita por ele, e leitão da bairrada, o que dá uma refeição perfeita, na sua
opinião, o animal preferido é um animal muito inteligente, é o golfinho; o
livro que nos sugere, "Winston Churchill, uma vida”, de Sir Martin Gilbert, o
filme que sugere é "Dossier Pelicano” e a qualidade pessoal que mais aprecia é
a honestidade.
Dr. Luís Montenegro, eu tenho o privilégio de fazer a
primeira pergunta e ela não pode deixar, no final desta legislatura, de ter a
ver com as funções que exerceu, que está a exercer e que, de uma forma geral,
todos consideramos que foram exercidas ao seu melhor nível. Durante estes anos,
um bocadinho mais de quatro anos, não deve ter sido fácil ter sido deputado da
maioria. Portanto, gostaria que partilhasse connosco o que acha que foi ser
deputado do PSD nesta conjuntura em Portugal. E em que medida é que isso se
traduziu na defesa de valores, porque grande parte da legislatura foi dominada,
como é evidente, pelas circunstâncias das exigências da Troika. Como é que foi
possível manter a fidelidade aos compromissos eleitorais que nós tínhamos com
os cidadãos, e ter uma matriz social-democrata no comportamento do nosso grupo
parlamentar, ou seja, uma certa fidelidade aos valores.
Eu creio que todos gostariam também de ouvi-lo fazer uma
referência à oposição. Diz-se que não há bom governo sem boa oposição e com
certeza que não há bom grupo parlamentar e boa maioria parlamentar sem ter uma
boa oposição. Mas será que nós podemos dizer que tivemos uma boa oposição na
Assembleia da República?
Meus senhores e minhas senhoras, para responder à minha
pergunta e às vossas perguntas, no penúltimo jantar-conferência da Universidade
de Verão 2015, o líder parlamentar do PSD, Dr. Luís Montenegro.
[APLAUSOS]
Luís Montenegro
Muito obrigado a todos, pela vossa simpatia e pela vossa
generosidade. Em especial um cumprimento muito particular ao Reitor desta
Universidade, o meu querido amigo Dep. Carlos Coelho, que é por assim dizer, a
alma – ele não é propriamente o salvador da Universidade de Verão, ele é o
criador e é aquele que tem conseguido congregar à sua volta uma equipa que,
aliás, está aqui bem representada nesta mesa, que tem desenvolvido aquela que
é, creio que é indiscutível, a maior, a mais completa, a mais profunda jornada
de formação política de Portugal – é a Universidade de Verão da JSD.
E o meu cumprimento é também, simultaneamente, de
agradecimento pelo convite que me foi endereçado, mas de gratidão pelo trabalho
que foi sempre desenvolvido e conduzido por ele, em parceria com a direção da
JSD, que tem aqui também ao meu lado vários daqueles que foram os protagonistas
da sua direção principal, da presidência da Comissão Política Nacional, eu
cumprimento-os a todos no atual Presidente da JSD, o meu querido colega
deputado Simão Ribeiro. E nestes dois permitam-me que possa envolver-vos a
todos num abraço de companheirismo, de amizade, de cumplicidade politica e de
motivação para, neste caso concreto, esta jornada de formação, mas sobretudo
para aquilo que vocês todos podem, devem e vão fazer quando daqui saírem e
forem exercer o vosso direito de participação política, de participação cidadã
para construirmos um Portugal mais próspero, mais solidário no futuro.
Porque nós estamos aqui apenas e só por essa razão. É
muito importante a jornada de formação, são muito importantes os contributos
que aqui são trazidos, mas o que verdadeiramente interessa, no final de tudo, é
que nós estejamos apetrechados para poder servir o nosso país, a nossa
comunidade, trazendo mais bem-estar à vida de cada um dos nossos concidadãos e
à vida de cada uma das comunidades em que nos integramos, em que convivemos, em
que temos as nossas famílias, em que desenvolvemos as nossas atividades
profissionais.
Meu caro Carlos Coelho, meu caro Simão Ribeiro, muito
obrigado pelo convite.
E indo diretamente à questão que me é colocada, deixem-me
dizer-vos o seguinte: eu hoje fiquei finalmente a perceber que havia uma razão
que ainda não tinha sido identificada para que o PSD tivesse um Presidente do
grupo parlamentar numa ocasião em que o país estava inundado, afogado em
dívidas. Essa razão era ter um nadador-salvador, portanto alguém com mais
aptidão ainda para poder enfrentar as tormentas de um afogamento eminente em
que o Partido Socialista envolveu Portugal.
Mas pegando na questão que me é colocada, eu gostava de
vos começar por dizer uma coisa muito simples, que gosto sempre de partilhar em
ações de partilha, de interação com aqueles que estão a protagonizar o início
de uma participação cívica e política num partido político, neste caso também
numa estrutura de juventude partidária, mas num partido político que é o nosso
PSD. Eu gosto muito de ser político e gosto muito de ser deputado. Sou portanto
um privilegiado. Faço aquilo que gosto, que é uma coisa que nem sempre nós
conseguimos na vida.
Eu exerço estas funções, aliás exerci todas que foram
aqui elencadas, com uma grande paixão, com uma grande convicção também, mas há
aqui uma finalidade que é coletiva, que pode ser – enfim, não me fica muito bem
dizer isto – mas altruística. Mas que é também egoísta, porque eu sou daqueles
que, trabalhando ao serviço da comunidade e para a comunidade, também me
realizo com isso.
Eu digo isto para começar por vos dizer que para mim foi
uma honra muito grande ter sido deputado do PSD nesta legislatura e, mais do
que isso, ter coordenado o trabalho de 108 deputados na Assembleia da República
eleitos nas listas do PSD.
No último debate relevante que tivemos no Parlamento, na
Assembleia da República, o debate do Estado da Nação, em julho deste ano, disse
uma coisa que vou aqui repetir, e que é de resto uma passagem que eu retirei do
livro que vos recomendei – recomendei, enfim, que sugeri quando me convidaram e
me pediram para o fazer.
Um dia, um amigo de Churchill, disse-lhe, quando ele era
primeiro-ministro, e esse amigo era deputado no parlamento inglês, o seguinte
(e eu vou citar para não me enganar): "Não há posição mais difícil do que estar
na bancada a apoiar o governo. É muito difícil encontrar um meio-termo entre a
independência e a lealdade. O mais importante é impressionar a Câmara com a
nossa seriedade.”
Isto foi mais ou menos aquilo que nós fizemos no
Parlamento estes quatro anos. Nós tivemos de conjugar a independência, a
representatividade que cada mandato de cada deputado significa numa eleição
legislativa, com a lealdade e a convicção com que o fizemos, a um programa
político duma exigência nunca antes vivida no Portugal democrático.
Os parlamentares, têm uma legitimidade democrática, que
lhes advém do voto popular que os mandatou para representarem o povo na casa
mãe da Democracia, no Parlamento, e às vezes as pessoas não se apercebem de que
nem sempre é fácil conjugar esse poder de representação, com um poder de
representação partidário porque as pessoas também não são só eleitas por si só.
Isso não existe, nem vai haver nunca, qualquer que seja o sistema. Nem nos
sistemas uninominais - diga-se só de passagem – a representatividade é apenas
individual; não é. Porque, sendo os candidatos propostos por partidos, está
subjacente à candidatura um programa político e uma ideia de governo, uma ideia
de políticas, que deve ser respeitada, no caso pelo governo e também por quem
suporta politicamente o governo, que são os deputados.
Mas dizia eu que esta frase significa muito daquilo que
aconteceu nestes últimos quatro anos. Porque, quando um governo que herdou a
situação que nós herdámos, que é conhecida, (não vos vou aqui maçar muito com
ela) teve de recuperar, muito rapidamente, para evitar o naufrágio, para evitar
o afogamento, teve de tomar medidas tão dramáticas para as pessoas – mas também
para quem teve de as tomar e para quem teve de as apoiar, no Parlamento e fora
dele. Porque eu envolvo nesta missão, não só os deputados do PSD, como todos
aqueles que, cá fora, amparam o nosso trabalho politico, os militantes, os
simpatizantes, aqueles que estão perto de nós e que dão a cara por nós.
Mas dizia eu, medidas muito dramáticas para a vida das
pessoas, mas, não tenham dúvidas, tão ou mais dramáticas para quem teve de as
adotar. Porque não há ninguém no mundo – ninguém, eu não faço essa maldade a
nenhum adversário político nosso –, não há ninguém, seja do PSD ou não, que se
sinta bem a cortar salários, ou a exigir mais contribuições às pessoas ou às
empresas, às famílias, para que o Estado tenha o dinheiro suficiente para
cumprir as suas principais funções. Não há ninguém! E nós tivemos de o fazer.
Nós tivemos de o fazer por um imperativo de respeito pelo interesse de todos. Nós
tivemos de pedir um sacrifício às pessoas – que foram os verdadeiros obreiros
da recuperação do país – porque esse sacrifício significava aquilo que
comummente se pode, enfim, resumir a semear para colher.
Nós tivemos de semear as condições para um melgor
Portugal, porque nos foi entregue com recessão económica, com o desemprego a
crescer exponencialmente, com um Estado que não tinha dinheiro para pagar
salários, para pagar pensões. Com um sistema de saúde que devia qualquer coisa
como três mil milhões de euros, com um sistema de transportes públicos que
acumulou, em dez anos, dezassete mil milhões de euros de dívidas.
Nós tivemos de travar, tivemos de salvar e tivemos de
semear para que num futuro que nós quisemos que fosse o mais breve e próximo
possível, pudéssemos ter o país a crescer economicamente, pudéssemos ter o
desemprego a diminuir, pudéssemos ter as oportunidades acessíveis a todos,
pudéssemos dizer – como eu digo hoje aos jovens de Portugal – que temos cada
vez mais uma economia que é competitiva, que pode absorver as qualificações que
eles estão, e bem, a recolher no nosso sistema de ensino e que podem ter uma
oportunidade para singrar na sua vida pessoal e profissional, no seu país,
porque nós precisamos de todos e todos vamos ser poucos para aguentar um país a
crescer de uma forma consistente e de uma forma duradoura.
Foi isto que norteou o trabalho dos deputados do PSD nos
últimos anos. E devo dizer que nós devemos um grande respeito a todos os
partidos e a todos aqueles que defendem ideias diferentes das nossas – é assim
que deve ser em Democracia. E nós teremos sempre, por mais que nos custe, e
custa muito, muitas vezes, então, no Parlamento, custa mesmo muito ouvir
determinadas coisas. E houve um ou outro momento onde houve excessos,
nomeadamente de linguagem, que não prestigiam a função política.
Mas a grande verdade é que por muito respeito – e nós
temos, de facto, muito por esses adversários - tivemos de fazer esta sementeira
sem a ajuda de nenhum partido da oposição. Nem daqueles que eram os principais
responsáveis pela situação a que o país tinha chegado. Nós tivemos, com os
portugueses, de superar o derrotismo, o pessimismo, o "bota-abaixismo” de todos
os partidos da oposição nestes quatro anos, mesmo do principal partido da
oposição, o Partido Socialista, que tantas responsabilidades tinha e tem na
situação que foi criada em Portugal.
E hoje é, por acaso, o dia em que até me ocorre dizer que,
mesmo numa primeira fase – vejam bem, com uma outra liderança do Partido
Socialista -, nós tivemos um primeiro orçamento, que era muito difícil, que estava
muito condicionado pelo famoso memorando de entendimento que felizmente hoje
faz parte apenas da História, e a História também é importante. Esse primeiro
orçamento foi elaborado em condições que parece que já foram há muito tempo,
mas são muito recentes, foi há quase quatro anos.
Esse orçamento tinha que respeitar o acordo e tinha
simultaneamente que garantir que todas as entidades internacionais iriam
confiar, iriam acreditar que Portugal ia ser capaz de debelar a situação em que
tinha sido mergulhado. Imaginem o orçamento que a Grécia vai ter de fazer um
dia destes para o próximo ano – imaginem! Eles que vão, infelizmente, para o
terceiro resgate. E eles que infelizmente não conseguiram dar essa nota no
passado. Infelizmente para os gregos, infelizmente para toda a Europa. Mas
imaginem se eles não forem capazes agora de mostrar à comunidade internacional,
aos seus parceiros, nomeadamente, na Europa e na Zona Euro, que são capazes.
Imaginem o desafio que está sobre eles.
Pois foi esse desafio que nós tivemos em 2011, foi no
primeiro resgate. Mas se nós não tivéssemos vencido esse desafio nós íamos ter
um segundo resgate. E se não tivéssemos vencido o segundo íamos ter um
terceiro, que é o que está a acontecer na Grécia.
Foi logo ali que se balizou aquilo que era o caminho que
Portugal devia percorrer. Nessa altura, apesar de o líder de então do Partido
Socialista, Dr. António José Seguro, já estar numa fase de desacreditar no
memorando que o próprio partido e governo dele tinham subscrito, a verdade é que
ainda teve a responsabilidade de se abster nessa votação e de dar aos nossos
parceiros externos, à Europa, ao Mundo, uma garantia de que havia uma coesão
mínima no parlamento português que podia significar a segurança para cumprir o
programa, para sair do programa e para recuperar financeiramente o país.
Neste caso particular, ainda bem que era o Dr. António
José Seguro que estava na altura no Partido Socialista, porque se fosse o Dr.
António Costa, ele já o disse publicamente, teria votado contra esse Orçamento
de Estado. Ele chegou a dizer ao Dr. António José Seguro – é verdade que o Dr.
António José Seguro disse que ele disse uma coisa na Comissão do PS e outra na
Quadratura do Círculo, mas eu não me vou meter nisso, é só recuperar lá os
debates entre eles para quem tiver mais curiosidade. Mas a grande verdade é que
ele disse, ele António Costa ao Dr. Seguro: esse foi o erro capital, porque tu
devias ter votado contra.
Já na altura, portanto, o Dr. António Costa tinha uma
adesão muito grande que se veio depois a compaginar com o seu discurso no dia
25 de janeiro deste ano, com o Syriza e a versão de que é possível recuperar
financeiramente um país que está ser intervencionado e que está a viver à custa
do empréstimo dos seus parceiros dizendo aos parceiros que não se faz aquilo
que está acordado. Já na altura ele achava isso. Nem sempre ele é incoerente,
nem sempre anda aos ziguezagues. Aqui, de facto, mantém-se hoje exatamente no
mesmo sítio em que se encontrava na altura.
Mas foi, portanto, este o panorama com que vivemos quatro
anos na Assembleia da República. É verdade que sempre garantindo estabilidade
política ao país. Tivemos muitos casos em que foi preciso articularmos posições
com o nosso governo, com o nosso parceiro de coligação. Houve apenas um caso em
que a situação foi um bocadinho mais problemática. Mas nesse, como em todos os
outros casos problemáticos que tivemos, e tivemos muitos, como por exemplo as
decisões do Tribunal Constitucional, em todos esses casos o governo encontrou
uma solução, e o líder do governo, o primeiro-ministro, encontrou uma solução.
E também quando nós tivemos problemas de articulação dentro da coligação,
tivemos uma solução, arranjámos uma solução e pudemos continuar a percorrer o
caminho de recuperação até ao final da legislatura.
Pois essa garantia deveu-se a muito do empenhamento dos
deputados do PSD, deveu-se ao empenhamento dos partidos da coligação, mas
infelizmente, diria eu, para Portugal, não ficou nada a dever-se à perspetiva
da oposição.
Oposição essa que, e nomeadamente o Partido Socialista,
foi, como disse há pouco, sempre muito derrotista, não confiou nos portugueses.
Porque não foi o governo que pôs a economia a funcionar, não foi o governo que
apontou uma pistola aos empresários, para que eles tivessem a argúcia de
procurar novos mercados, de serem mais competitivos nas suas empresas e
ganharem quota nas exportações. Foram mesmo os empresários, foram mesmo os
trabalhadores dessas empresas. Foi o país que reagiu, que acreditou, que
combateu, foi isso que aconteceu em Portugal. É verdade que o governo criou as
condições, mas quem concretizou, na vida das pessoas, esta recuperação, foram
as próprias pessoas, foram as nossas instituições, foram as nossas empresas.
O Partido Socialista e a oposição não confiaram nesta
força, nesta capacidade. Estão no direito deles, nós respeitamos. Mas foi isso
que motivou que tivessem prognosticado a espiral recessiva, o segundo resgate,
todo o incumprimento das metas, que era preciso mais tempo e mais dinheiro, que
é, mais ou menos, aquilo que agora se defende para a Grécia. Foi tudo isso que
o Partido Socialista andou a defender estes anos. Portanto, nós temos
legitimidade, com respeito democrático, para dizer que o Partido Socialista não
confiou nos portugueses, não confiou na capacidade do país, não acreditou que
nós fossemos capazes de sair do buraco em que, por acaso, tinha sido o Partido
Socialista que nos tinha enfiado.
E o Partido Socialista foi, objetivamente, estes anos,
aquilo que a nossa História bem ilustra quando fala dos velhos do Restelo.
Foram aqueles que profetizaram que nós não eramos capazes de atingir o nosso
objetivo. Foi isso que sucedeu e, portanto, é essa avaliação que também é
preciso fazer-se agora. Mesmo agora, neste período eleitoral, está em causa
muito daquilo que nós podemos fazer no futuro, já falarei disso, mas está em
causa também aquilo que nós fomos capazes de fazer no passado.
Há uma acusação que nos foi feita neste período, e que
tem um pouco a ver também com a questão que o Carlos Coelho colocou, que eu
acho que é preciso ser respondida de uma forma muito direta. Apesar das
dificuldades… que foram muitas e que ainda são muitas para muita gente, e não
digam os nossos adversários que nós vivemos noutro mundo ou noutra realidade.
Não, nós, nós todos, temos a sensibilidade suficiente, até por experiência
própria, nossa ou de pessoas que nos são muito próximas, daquilo que tem sido o
sofrimento de muita gente. Quem é que nesta sala não tem um familiar ou um
amigo que está desempregado? Quem é que nesta sala não conhece um jovem
recém-licenciado que apostou a sua energia, a sua dedicação, a sua competência
para tirar uma qualificação e agora chega ao mercado e o mercado não tem
capacidade de absorver essa qualificação? Quem é que não conhece isto? Quem é
que não conhece aqueles que deixaram de ter acesso a esta ajuda ou aquela?
Todos nós conhecemos e todos nós temos a sensibilidade e
tivemos, no governo e no parlamento, de poder minorar os efeitos daqueles que
se encontram involuntariamente nessa posição e mesmo de alguns que vivem
eternamente nessa condição, muitas vezes também por vontade própria, e por
vontade de alguns políticos a quem interessa que estejam nessa situação de
vulnerabilidade para continuarem a ter apoio político respetivo.
Agora, para quem anda aí a apregoar aos quatro ventos que
tem uma grande sensibilidade social e que nós somos muito insensíveis, é
preciso recordar que não fomos nós que, em 2009, descemos os impostos e subimos
os salários da Administração Pública para, em 2010, aumentar os impostos todos
e começar a redução salarial da Administração Pública que era superior àquela
que hoje está em vigor. Em 2015 a redução salarial na Administração Pública é
menor do que aquela que foi em 2010, na altura do governo do PS e do Eng.º
Sócrates, porque nós já começamos a remover essa redução salarial.
Não fomos nós quem congelou as pensões mínimas sociais e
rurais, daqueles que precisamente têm uma pensão mais baixa, de 180 ou duzentos
e poucos euros. Ao contrário, fomos nós que descongelamos esse aumento e
promovemos um aumento superior à inflação.
Não fomos nós que introduzimos a famosa contribuição
extraordinária de solidariedade sobre as pensões, que hoje já está removida.
Foi ainda em 2010, na altura do governo do Eng.º Sócrates. E não fomos nós que
congelámos o aumento do salário mínimo nacional, fomos nós que descongelámos o
aumento do salário mínimo nacional.
Eu pergunto de que lado é que está a sensibilidade social
e de que lado é que está a recuperação do rendimento e o apoio social? Eu
pergunto se um governo, como o governo do Partido Socialista, que de 2005 a
2011, apesar de tudo, foi tendo algum crescimento na economia, que era tão
artificial quanto simultaneamente tinha o desemprego a subir. A economia subia
e o desemprego subia. Não é como agora; agora a economia cresce e o desemprego
diminui. Na altura a economia crescia pouco, é verdade, quando crescia muito
mais na Europa, coisa que também não acontece agora, nós estamos a crescer mais
do que a média europeia. Mas o desemprego agora desce e na altura subia.
E eu pergunto se, nessa condição, o Partido Socialista,
por exemplo, promoveu como nós, numa situação de dificuldade, a implementação
de tarifas sociais no acesso à energia, no gás, na eletricidade. As tarifas
sociais nos transportes, feitas em função, não de critérios etários, por
exemplo, mas de critérios de rendimento. Porque nós podemos ter um reformado
que tenha 80 anos e tenha meios suficientes para poder pagar um bilhete inteiro
nos transportes públicos. E se calhar faz mais falta apoiar um indivíduo, uma
nossa concidadã ou concidadão, que tenha 30 ou 35 anos e esteja desempregado. E
é isso que acontece hoje – o apoio social é em função do rendimento, não é em
função da idade do seu destinatário. Isto vale para mais jovens e menos jovens.
É igual o critério. Agora eu pergunto: o que é mais justo socialmente? É apoiar
quem precisa ou apoiar quem é só mais novo ou mais velho? Independentemente dos
problemas que a juventude ou o envelhecimento podem trazer.
Eu pergunto – já que eles apregoam tanto a sensibilidade
social – porque é que o Partido Socialista, quando foi governo, não promoveu a
baixa do preço dos medicamentos, como nós promovemos, à custa das margens das
farmácias e das farmacêuticas? Eu pergunto porque é que hoje o nível de
isenções de taxas moderadoras na saúde é praticamente o dobro daquele que era
no tempo do governo do Partido Socialista? De que lado está a sensibilidade
social? Quem é que, apesar de recuperar financeiramente o país, apesar de pedir
sacrifícios às pessoas, teve a responsabilidade de proteger aqueles que eram os
mais frágeis, os mais indefesos, mesmo nas políticas de cortes salariais ou de
rendimento, onde sempre foram isentados aqueles que tinham mais baixos
rendimentos, e sempre foram penalizados, quase a um nível que socialmente
também é muito delicado, aqueles que têm mais altos rendimentos?
As pessoas já não se lembram, mas hoje paga a taxa máxima
de IRS, não quem ganha 153 mil euros, como era na altura, mas quem ganha mais
de 80 mil euros por ano. As pessoas já não se lembram, mas quem ganha mais de
250 mil euros, tem mais uma sobretaxa de 3% sobre esse rendimento, e se ganhar
mais de 500 mil tem mais 5% sobe esse rendimento.
E nas empresas a mesma coisa. Numa altura em que baixámos
o IRC para motivar o investimento, a criação de emprego, o que, aliás está a
resultar, diga-se de passagem, nós cobramos uma taxa suplementar de IRC a
empresas que têm mais de um milhão e meio de euros de lucros, 3%; mais 5% para
quem tem mais de cinco milhões de euros de lucro; e mais, salvo erro, 7% para
quem tem mais de 35 milhões de euros de lucro.
O que quer dizer que nós pedimos a quem tem mais
rendimentos, sejam rendimentos singulares sejam rendimentos coletivos, um
esforço maior do que pedimos aos outros.
Foi isto que aconteceu, caras amigas e caros amigos,
nestes anos, e por isso é que eu acho que ninguém se deve envergonhar – estamos
numa ação de formação -, ninguém se deve envergonhar da orientação social-democrata
do nosso projeto político, mesmo na situação adversa que encontrámos.
O quê que nós fizemos em Portugal? Tirámos o Estado dos
negócios; promovemos a iniciativa privada dos nossos empresários em
concorrência leal, regulada, para que quem seja mais competitivo tenha o
retorno da competitividade e seja, por isso, mais lucrativo. Em Portugal, hoje,
não tem mais lucro quem é mais protegido pelo Estado; tem mais lucro quem é
mais competitivo no mercado. E é isso que gera riqueza, e é essa riqueza que
gera emprego, é esse emprego que gera receita para o Estado, e é essa receita
do Estado que paga a despesa social que o Estado tem que pagar para que as
pessoas tenham acesso à saúde, à educação, à justiça ou à segurança. Isto é a
matriz do PSD.
[APLAUSOS]
E mais: e aqueles que vêm agora acenar com a facilidade,
mais uma vez, de um projeto onde a economia cresce, não por este lado, mas pelo
rendimento artificial e insuflado que é atribuído às pessoas, para esses, que a
História já julgou, mas que a História também regista qual é o resultado das
suas políticas, ele vão ter que conviver com uma outra desilusão: é que nós
também estamos a procurar aliviar a carga fiscal das pessoas e das empresas.
Mas não à custa de nenhum ato artificial, à custa do rendimento e da riqueza
que somos capazes de criar. Por isso é que nós, este ano, vamos cobrar menos
IRS às pessoas do que aquilo que está no Orçamento do Estado, porque assinámos
um contrato no Orçamento de Estado com os portugueses, que se determinada
estimativa de receita fosse superada, o montante em excesso era devolvido às
pessoas. A contas de julho, vamos devolver 25% do esforço da sobretaxa em sede
de IRS. Esperamos todos que no final do ano possa até ser mais do que isso.
Como já começámos a aliviar a carga fiscal das famílias,
com o quociente familiar em sede de IRS. Como já começámos a aliviar a carga
fiscal das empresas, não para que as empresas tenham mais lucros, mas para que
sejam mais competitivas, possamos atrair mais investimentos e absorvemos mais
mão-de-obra e, como vos disse há pouco, a economia funciona, o Estado arrecada
receita e garante o seu financiamento sem estar sujeito à volatilidade dos
mercados financeiros que foi aquilo que também nos trouxe à crise em 2011.
Por isso eu vou caminhar para terminar, para me guardar
também para as questões, não sem antes vos lançar aqui um desafio. Creio que, a
partir da questão que me foi aqui colocada, me vão permitir que vos diga uma
coisa muito simples, que, aliás, disse, há um ano – há um ano e meio –, precisamente
no último Congresso Nacional do PSD.
Aliás, disse duas coisas, já agora, só a talhe de foice,
só aqui um pequeno parêntesis. Na altura também tive uma frase muito polémica,
que há muita gente, de vez em quando, que gosta de recordar e que eu fico até
muito lisonjeado com isso. Porque, na altura, eu disse que a vida do país
estava muito melhor e a vida quotidiana das pessoas ainda não estava melhor.
E aqui d’El Rei, veio para aí toda a gente dizer este
tipo está meio louco, porque como é que ele pode dizer que a vida do país está
melhor e a vida das pessoas muitas vezes não está, se o país é feito de
pessoas? Precisamente aqueles que não compreendem que é preciso semear para
colher. É que ninguém enriquece no dia em que semeia. Nós só enriquecemos no
dia em que colhemos. Mas para colhermos, temos que semear. E era o que
estávamos a fazer. Nós estávamos com um Portugal melhor porque estava mais
preparado para deixar de ter recessão e ter crescimento. Para deixar de ter
desemprego e ter emprego.
E, apesar disso estar a acontecer, de nós estarmos a
semear, as pessoas só vão colher mais tarde e só estão a colher agora. Mas
estão a colher! Porque hoje pagam menos impostos do que pagavam há um ano.
Porque hoje, na Administração Pública, têm um rendimento superior do que tinham
há um ano. Porque hoje há menos desempregados do que havia há um ano. Isto não
desrespeita aqueles que ainda estão nessa situação, que são muitos. E que são a
nossa principal preocupação. Mas são muito menos do que aqueles que eram há um
ano. Nos chegámos a ter 17,7% de desemprego e hoje temos menos de 12% - temos
menos do que tínhamos no dia em que tomámos posse quando vencemos as eleições
legislativas em 2011.
Isto é preciso dizer às pessoas. Não é só para valorizar
o nosso trabalho. Não é só para lhes pedir a elas – e eu também vos quero pedir
a vocês – para nos ajudarem a prosseguir este caminho. Não é só por isso. É
porque, de facto, este caminho é o caminho que serve o seu próprio interesse, o
interesse das pessoas que estão nessa situação. As pessoas que estão
desempregadas não querem ninguém a governar que lhes diga que vai decretar 207
mil novos postos de trabalho. O que as pessoas querem – creio eu – é alguém que
lhes diga que o país vai ser competitivo, vai ter investimento, vai fazer bem
aquilo que gera riqueza, vai gerar riqueza e com isso vai gerar emprego. É isso
que as pessoas querem.
E por isso eu acho que é meu dever pedir-vos aqui todo o
empenhamento para que nós possamos cumprir esse grande desígnio que é vencer as
próximas eleições legislativas. E deixem-me dizer o seguinte: nestas eleições
legislativas o país tem uma felicidade que se calhar não teve sempre com esta
clareza. Tem dois projetos verdadeiramente alternativos que são conhecidos, no
essencial. Eu não vou aqui dissertar sobre eles. O país conhece o projeto do
Partido Socialista e o país conhece o projeto da nossa coligação com o CDS/PP.
Conhece as principais orientações, conhece aquilo que são os resultados das
políticas que cada um defende.
O país e os portugueses devem ser esclarecidos neste
período de campanha eleitoral, com toda a serenidade, com toda a profundidade, mas
eu estou convencido que os portugueses, que são muito mais inteligentes do que
aquilo que muitos políticos acham, sabem, hoje, quais são os dois grandes
projetos de desenvolvimento do país que estão em cima da mesa.
E os portugueses também sabem outra coisa. Conhecem os
projetos, conhecem as equipas, porque dá-se a circunstância de nós sermos os
partidos que têm protagonizado a governação nos últimos anos – o PSD e o
CDS/PP. O nosso candidato a primeiro-ministro é conhecido dos portugueses.
Todos lhe conhecem as qualidades, os defeitos que lhe possam apontar, as
virtudes e os desígnios políticos.
E também conhecem do Partido Socialista, por uma razão
muito objetiva: é que eles são exatamente os mesmos que estiveram na governação
do Eng.º Sócrates de 2005 a 2011.
[APLAUSOS]
E conhecem os líderes. E esses são os três patamares,
creio eu, da maior ponderação que um eleitor pode fazer. Identificar o projeto,
identificar a equipa e identificar a liderança. E depois optar, com total
liberdade, como felizmente acontece em Portugal.
Eu ainda ouvi esta semana o Dr. António Costa dizer, numa
das suas aparições no seu reduto sempre de última hora quando se encontra em
dificuldades, em Lisboa. Não sei se já repararam, sempre que há qualquer crise,
qualquer momento menos bom, e tem havido vários, o Dr. António Costa vai sempre
acabar em Lisboa. Seja para escolher o diretor de campanha, seja para arranjar
pessoas para os cartazes, seja para fazer uma iniciativa de campanha, a coisa
acaba sempre em Lisboa, pronto. Ele foi Presidente da Camara até há pouco
tempo, e, portanto, presumo que se sente um pouco mais à vontade nesse
território. E não está nada de mal, porque os lisboetas merecem todo o
respeito. Apenas é preciso dizer ao Dr. António Costa que há mais país para além
de Lisboa, e que mesmo nos momentos de dificuldade é preciso ir a todo o lado,
é só preciso dizer isso.
[APLAUSOS]
Mas o Dr. António Costa diz "os portugueses conhecem-me,
sabem o que eu fiz. Eu fui deputado, eu fui ministro duas vezes, da Justiça e
da Administração Interna, eu fui deputado ao Parlamento Europeu, eu fui
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa”. E nós conhecemos. Por acaso, há
assim uma coisa que é mais ou menos comum a todas estas funções que o Dr.
António Costa desempenhou é que, em quase todas, saiu a meio do mandato. Enfim,
acontece. Razões ponderosas com certeza sucederam, mas não deixa de ser um
traço.
E esta última (já agora também um outro parêntesis, até
como uma certa autocrítica do PSD), esta última passou assim um bocadinho em
claro mas não é assim tão despicienda como isso do ponto de vista político. O
Dr. António Costa tem toda a legitimidade de concorrer e de ser secretário-geral
do Partido Socialista e de escolher o momento em que o deve fazer. Mas a grande
verdade é que houve eleições autárquicas em setembro de 2013, logo no início de
2014 se ventilou a hipótese de o Dr. António Costa sair da Câmara para ir para
líder do PS. Acabou por acontecer mais para o fim do ano, para os últimos
trimestres de 2014. E, pasme-se, o Dr. António Costa acabou mesmo por sair de
Presidente da Câmara (e aí entra a tal autocrítica -, sem que ninguém lhe
tivesse dito aquilo que eu acho que se lhe devia dizer) disse uma coisa muito
simples, com o seu sucessor ao lado, o Dr. Fernando Medina, isto estava
preparado com tempo, foi tudo feito, como percebem, com todas as precauções,
com toda a antecedência.
E eu pergunto: mas então o Dr. António Costa foi
candidato, disse aos lisboetas que queria governar o município em setembro de
2013, mas afinal já estava a preparar o não cumprimento do mandato para o qual
se candidatou?
Enfim, isto era só um parêntesis que tem um bocadinho a
ver com a tal história que ele quis recordar e que eu respeito. E devo dizer
que isto não é nenhum ataque pessoal ao Dr. António Costa, são considerações
políticas daquilo que ele andou a dizer até nos últimos dias.
Portanto, o percurso dele foi este. Não consta que
tivesse sido nada exuberante no exercício destas funções, também não foi mau, é
verdade, nós também temos que ter respeito e eu tenho muito respeito por ele. É
verdade que eu não guardo na minha memória nenhuma grande decisão do Dr.
António Costa como Ministro da Justiça ou como Ministro da Administração
Interna. Mas posso ser eu que estou mais esquecido e eu sou suspeito...
E mesmo em Lisboa também não guardo assim grandes obras,
ele diz que sim, tem lá muitas obras, com certeza, os lisboetas acreditaram
nele e votaram nele, e eu respeito isso. Eu, por acaso, como só estou em Lisboa
metade da semana acho que Lisboa tem buracos a mais, mas isso é uma opinião que
os lisboetas terão de aferir. Nem acho que haja ali nenhuma obra excecional.
Até aquela que havia, e que eu também lhe dou o mérito de ter aberto, parece
que já tem um problema naquela frente marítima da Ribeira das Naus. Mas, enfim,
tudo bem, eu não me quero estar agora a meter nisso.
A grande verdade é que - mesmo considerando que ele teve
este percurso e que esteve sempre num nível aceitável, não há dúvida de que ele
foi sempre um gestor político e da imagem dele com eficácia, não tenho nenhum
problema em admiti-lo -, a grande verdade é que um dia os socialistas
elegeram-no secretário-geral do PS. E aí é que foram elas. Aí é que foram elas
porque, primeiro, foi a forma como isso aconteceu. Todos conhecem, não vou
falar disso.
Depois foi aquela fase em que, ato imediato à eleição,
não havia bem programa mas prometia-se tudo. Ia-se aumentar o salário mínimo,
lá onde acabaram Juntas de Freguesia ia-se repor as Juntas de Freguesia, lá
onde mudaram as competências do tribunal ou o tribunal mudou de sítio ou a
competência mudou de sítio, ia-se tudo repor, ia tudo ficar exatamente como
estava. Foi aquela voragem de "eu vou chegar e vou modificar tudo”.
Depois, em janeiro, foi aquela esperança de mudar a
Europa com o Syriza, de braço dado com o senhor Tsipras. Depois foi aquela
célebre afirmação, realista, perante uma comunidade chinesa, de, ao fim e ao
cabo, afinal reconhecer que as coisas estavam muito melhores do que em 2011.
Depois foram algumas demonstrações de arrogância que não
podem passar em claro e que é preciso recordar, como, por exemplo, quando o Dr.
António Costa disse, se vencesse as eleições – ele agora já não diz isso, e
está bem, também está muito realista –, se vencesse as eleições iria desfazer
aquele negócio, dizia ele, da privatização da TAP, quando o concurso estava a
decorrer, quando os candidatos estavam a oferecer as suas propostas. Tem até a
ver com alguma coisa que está a acontecer agora por estes dias. Mas o Dr.
António Costa que, no seu histórico, fez parte de governos do Partido
Socialista que puseram lá a privatização da TAP, que era o número dois político
do Eng.º Sócrates quando ele negociou o memorando de entendimento onde estava a
privatização da TAP – "se eu for eleito primeiro-ministro vou desfazer esse
negócio”. E no fundo incumprir aquela que é a palavra do Estado dada por um
governo legítimo e apoiada por um Parlamento legitimamente eleito.
Depois foi aquele célebre episódio do SMS para o
jornalista que tinha escrito qualquer coisa de que ele não tinha gostado. Eu
nem me apercebi bem, porque até li o artigo e não tinha assim nada de especial.
Estou habituado até, às vezes, a críticas bem mais ferozes do que aquelas que
estavam nesse artigo.
Bem, então nestas últimas semanas tem sido um ver se te
avias, isto é questões quase todos os dias. Porque os cartazes parece que eram
uma aselhice, diz ele. Mas ele viu os cartazes antes e não detetou a aselhice
mais cedo. A questão da proximidade ideológica ou programática à Dra. Manuela
Ferreira Leite, enfim, numa semana onde nós aquilo que esperávamos era que ele
dissesse que era próximo, do ponto de vista programático, não de uma
ex-presidente do PSD, mas de uma ex-presidente do PS, a Dra. Maria de Belém,
com quem ele tinha ido até de braço dado apresentar a lista de Lisboa das
eleições legislativas.
E ontem mesmo, o novo diretor de campanha, vice-presidente
da Câmara de Lisboa, a propósito de uma declaração de inconstitucionalidade do
Tribunal Constitucional sobre uma iniciativa legislativa que foi aprovada no Parlamento,
veio dizer que o PSD e a coligação governavam contra a Constituição, como ainda
ontem se tinha visto com a decisão relativamente a uma norma do Serviço de
Informações da República. Esqueceu-se foi que essa legislação tinha sido
acordada com o Partido Socialista e o Partido Socialista também tinha votado
favoravelmente. Era um pequeno detalhe…
Nós afrontamos o Tribunal Constitucional, e ontem quem é
que afrontou o Tribunal Constitucional? No limite, seguindo esse raciocínio,
que não é o que eu sigo, porque estas matérias são muito mais profundas do que
aquilo que parecem. A fronteira é, de facto, uma fronteira ténue, muitas vezes,
entre aquilo que é a interpretação das normas e dos princípios constitucionais
e aquilo que são as opções legislativas. E tanto é assim que nós umas vezes
temos razão outras vezes não temos, de acordo com aquilo que os senhores juízes
decidem. E ontem eles decidiram que aquela norma era inconstitucional. Mas
aquela norma que tinha sido aprovada por nós e também pelo Partido Socialista,
que é bom não se esquecerem disso. Mas enfim, a desorientação tem sido muito
grande, não tem sido muito favorável àquilo que o Dr. António Costa tem andado
a dizer: olhem para aquilo que eu tenho feito, olhem para aquilo que é o meu
percurso. Eu acho que não é bem assim que ele pode valorizar a sua candidatura.
Eu numa palavra diria, para terminar, que… estamos até
numa semana de grande atividade futebolística, tivemos Liga dos Campeões e Liga
Europa. Eu, com todo o respeito, repito, pessoal, pelo Dr. António Costa, olho
para aquilo que tem sido a demonstração da sua inconsistência como líder da
oposição. Eu diria mesmo de alguma impreparação para o exercício dessa grande
responsabilidade que é conduzir a governação do país, mais ou menos como aqueles
jogadores de futebol, daquelas equipas assim intermédias, do meio da tabela, tipo
o Rio Ave ou o Nacional da Madeira… jogam bem, suportam a equipa, dão nas
vistas… E depois são contratados para os grandes, para o Benfica, para o Porto
e para o Sporting, e chegam lá e não conseguem afirmar-se na equipa. É um
bocadinho como o Dr. António Costa.
Ele pode ter sido lá muito bom Ministro da Justiça, da
Administração Interna, líder parlamentar, deputado europeu, Presidente da
Câmara de Lisboa, mas agora que foi para Secretário-Geral do Partido
Socialista, de facto, ele não conseguiu ser uma alternativa, ele não é uma
alternativa consistente para liderar o governo de Portugal e estas
demonstrações de ziguezague não lhe conferem a confiança que ele anda aí a pedir
nos cartazes.
É um bocadinho como, apesar de se ter aptidões e
habilitações, voltando ao futebol, é um bocadinho como jogar na Liga Europa ou
jogar na Champions League. E aquilo que me parece, politicamente falando, é que
o Dr. António Costa é muito bom a jogar na Liga Europa mas não tem jeito para
jogar na Champions League.
[APLAUSOS]
Minhas amigas e meus amigos, tudo isto para vos dizer
que, governando melhor do que o Partido Socialista, tendo um projeto mais
consistente, tendo uma equipa mais competente, tendo um líder mais preparado,
este partido e esta coligação que nós lideramos, também o disse no Congresso do
ano passado, não tem só o direito de ganhar as eleições, tem o dever de ganhar
as eleições. Nós temos a obrigação de ganhar as eleições. E quando digo nós,
somos nós todos. Nós todos temos essa obrigação.
Repito, se nós temos um projeto mais consistente, que
traz mais futuro, que traz mais riqueza, que traz mais capacidade de sustentar
o Estado Social, se nós temos uma equipa que mostrou ser mais competente, ser
mais firme, se nós temos um líder que está mais bem preparado do que o nosso
opositor, nós só podemos perder se não formos capazes de demonstrar isto aos
nossos eleitores. E essa é uma tarefa de todos. E eu digo-vos até mais: eu não
acredito que nós não sejamos capazes de na rua, em casa, na escola, na
universidade, no sítio onde trabalhamos, eu não acredito que nós não sejamos
capazes, não digo de convencer todos, porque isso é impossível, mas de
convencer a maioria de que Portugal está no caminho certo.
Isto é nossa responsabilidade e isto é aquilo que nós
todos temos de fazer até ao dia 4 de outubro.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Muito obrigado, vamos agora entrar no ciclo das
perguntas. Dou a palavra ao Américo Ribeiro Moreira, do Grupo Bege, e ao João
Silva, do Grupo Rosa.
Américo Ribeiro Moreira
Boa noite a todos. Caro Dr. Luís Montenegro, enquanto
líder parlamentar impecável do PSD, implacável do PSD, peço desculpa.
Duarte Marques
Mas também é impecável…
Américo Ribeiro Moreira
Implacável. Exatamente, exatamente.
[APLAUSOS]
Obrigado. Como é gerir as diferentes opiniões do grupo,
como, por exemplo, no tema da co-adoção que originou a saída da Teresa Leal
Coelho da vice-presidência. Em suma, quais as palavras-chave para manter um
grupo coeso até ao fim, como não se vê em alguns partidos. Obrigado.
[APLAUSOS]
João Silva
Boa noite a todos. Caro Dr. Luís Montenegro, recentemente
o Tribunal Constitucional chumbou o acesso a metadados pelos Serviços Secretos
portugueses. Foi este mesmo Tribunal Constitucional que não permitiu o governo
cumprir a totalidade das reformas que eram necessárias, nomeadamente em matéria
da despesa pública, transformando um clima de duríssima governação num clima de
quase impossibilidade de reformar. Neste momento, não considera o Tribunal
Constitucional mais uma força de retrocesso do que de evolução e mudança?
Luís Montenegro
Muito obrigado, quer ao Américo quer ao João.
Relativamente à primeira questão, eu até agradeço que ela seja colocada, porque
é mais uma oportunidade de eu poder dizer-vos aqui uma coisa muito
tranquilamente.
Não há, no parlamento, nenhum partido que tenha um nível
de democraticidade interno superior ao do PSD. Não há! Há regras diferentes e
eu respeito as regras dos outros, não me vou imiscuir nelas. Mas não há. E não
há porquê?
Porque os nossos deputados, os nossos eleitos, têm a
oportunidade, sempre, de emitir a sua opinião e de construir a opinião coletiva
do nosso partido. É evidente que nós temos algumas limitações. Temos o programa
que apresentámos às pessoas. A menos que estejam disponíveis para dizer: "olhe,
o programa não conta para nada, nós apresentamos o programa agora não conta
porque cada um tem a sua opinião”. Não! Os candidatos do PSD estão vinculados a
um programa que é o nosso contrato, o nosso compromisso com as pessoas.
E nós respeitamos isso, mas nós debatemos todas as
questões internamente. E é nesse plano que todos têm a liberdade de dizer
aquilo que entendem. Agora, nós funcionamos democraticamente. Quando nós
construímos uma posição, essa posição é assumida por todos, na diversidade, na
pluralidade das opiniões de todos nessa participação de construção.
Há apenas umas matérias onde nós não fazemos assim. São
as matérias que nós identificamos como eminentemente de consciência, aquelas
que nós não temos capacidade, não nos sentimos capazes de interpretar, no
mandato que nos foi conferido, qual era a vontade subjacente ao voto que nos
foi confiado.
Falou da co-adoção. É uma dessas matérias. A Teresa Leal
Coelho não saiu da direção do Grupo Parlamentar por causa da opinião dela sobre
a co-adoção. Nós aí tivemos liberdade de voto. E cada um votou exatamente como
a sua consciência mandava, porque nós não tínhamos esse mandato e porque
respeitamos a vontade individual de cada um. Já agora, aqueles que andaram para
aí a badalar sobre a nossa liberdade de voto, são aqueles onde nunca ninguém
vota de maneira diferente do chefe. E sobretudo na esquerda do Parlamento, no
Bloco de Esquerda e no Partido Comunista, os grandes paladinos da democracia,
aqueles que nos apontam o dedo: - hei! Os homens não respeitam a liberdade de
voto! Mas lá toda a gente vota sempre da mesma maneira. É uma coisa
extraordinária. Das duas uma: ou pensam todos sempre exatamente da mesma
maneira, ou então há qualquer regra que não é conhecida mas que vigora.
No PSD não. E portanto todos, incluindo a Teresa Leal Coelho,
votaram de acordo com a sua consciência. A votação que esteve na base de uma
divergência que nós assumimos, os dois, com toda a frontalidade, eu diria mesmo
até com companheirismo e amizade, foi relativamente a uma outra matéria – que
por acaso diz muito respeito à JSD –, que foi à realização de um referendo. Aí
é que ela considerava que aquilo era uma matéria de consciência e nós considerávamos
que era uma matéria política. Porque a de consciência era a opção legislativa
relativamente à adoção em si. Haver ou não haver referendo é uma opção
política, decidir ou não decidir por esse meio é uma opção política. Ela era
membro da direção, não votou de acordo com a orientação do grupo parlamentar,
orientação que, ainda por cima, foi decidida, não pela direção, foi pelo
próprio plenário de todos os deputados. E assumiu as consequências.
Devo dizer que nós convivemos, todos e os dois
particularmente, muito bem com isso. São as regras do jogo. E isto acontece no
PSD porque nós funcionamos mesmo democraticamente. Nós termos que nos habituar
a isto, porque é assim. Não há governo que resista à opinião individual, por
tudo e por nada, de toda a gente, expressa no momento da votação. Isso não
existe.
Quando os eleitores forem no dia 4 de outubro votar, vão
escolher deputados, mas vão escolher uma orientação de governo que esses
deputados devem subscrever, devem apoiar. Significa isso que são obrigados a
violentar-se? Não. Têm uma oportunidade interna de dizer: lá onde se diz que a
decisão deve ser "x” eu defendo que deve ser "y”. Tem é uma questão, tem que
convencer a maioria que aquela é a posição que o partido deve adotar. Porque se
a maioria pensar o contrário… É como no Parlamento, as leis são aprovadas, não
são todas por unanimidade. Mas são aprovadas. Porque há uma maioria que se
gera. É a lei da Democracia.
A lei da Democracia é o respeito pela vontade da maioria
e a compreensão pela vontade da minoria. É isto a lei da Democracia. Há quem
não entenda isto, mas não é no PSD.
Há muita gente no país que acha que a vontade da minoria
deve ter mais valor do que a vontade da maioria. Vocês vejam bem que nós
andamos quatro anos a ter partidos a pedir eleições antecipadas, isto é, a
arrogarem-se um sentimento de realização de uma eleição quando o povo tinha
decidido. Porque nós não estamos lá só porque queremos, por vontade própria,
estamos lá porque o povo votou em nós. E vamos lá continuar com a nossa maioria
a governar Portugal, porque o povo vai continuar a querer. É por isso que nós
estamos lá.
[APLAUSOS]
A segunda pergunta. Nós tivemos divergências grandes com
o Tribunal Constitucional. São divergências que têm a ver com a interpretação
jurídica de princípios. Aliás, dá-se até essa circunstância, foram quase sempre
princípios gerais de direitos, nem foram normas constitucionais concretas,
foram princípios que dimanam de normas constitucionais. Mas que têm valor
jurídico, não ponho isso eu causa.
Tivemos divergências, aliás, o direito é assim e o
direito constitucional por maioria de razão. Há uma coisa que nós podemos dizer
ao país. Não nos remetemos à posição de nos queixarmos das decisões do Tribunal
Constitucional, não nos remetemos à posição de dizer que estávamos bloqueados
por essas decisões, a cada decisão nós correspondemos com alternativas, com a
superação daquilo que eram as restrições que nos estavam a ser impostas, na
nossa margem de decisão.
E, portanto, nós respeitamos também aí a democracia.
Quando as pessoas dizem: este governo viola a Constituição, este governo
legisla contra a Constituição. Não, não, nós cumprimos a Constituição, mesmo na
parte em que a Constituição prescreve que uma decisão que é considerada
inconstitucional deixa de vigorar. Foi isso que nós fizemos. Nós achávamos que
era constitucional, o Tribunal achava que não era, e nós ultrapassámos mudando
as opções, mudando as medidas. Muitas vezes até com o ónus de as pessoas
pensarem que nós estávamos a fazer novas medidas e nós só estávamos a
substituir as anteriores.
Portanto, respondendo, João, de uma forma muito direta,
nós convivemos, apesar das nossas divergências, nós convivemos com a democracia
na sua plenitude e com as instituições constitucionais.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Segundo bloco de questões: dou a palavra ao André
Vicente, do Grupo Azul, e à Sofia Oliveira, do Grupo Amarelo.
André Vicente
Muito boa noite a todos e em especial ao nosso convidado.
Como viu, o Grupo Azul gosta de recordar o passado. Então, nesse sentido,
gastaríamos que partilhasse uma história engraçada ou um momento caricato, ou
então um momento mais marcante de quando foi Presidente da JSD de Espinho.
Muito obrigado.
Sofia Oliveira
Boa noite a todos. A pergunta que eu ia fazer um dos meus
colegas já fez, então eu pergunto-lhe qual é a estratégia da coligação para
convencer os indecisos a votar em nós em outubro porque, na verdade, vão ser
eles, provavelmente, que vão decidir as eleições. Obrigada.
Luís Montenegro
Muito obrigado pelas vossas questões. A primeira, do
André, não deixa de ser muito desafiante. Eu de facto tenho várias histórias,
mas aquilo que me ocorre com a questão, tal qual ela foi colocada, é o
seguinte: eu fui presidente da JSD de Espinho de, salvo erro, 1994 a 1996 – só
fui dois anos. Tinha 21 anos, fui dos 21 aos 23. Isso tem uma explicação, é que
eu com 24 anos fui eleito Presidente da Concelhia do PSD de Espinho.
E se calhar é olhando para essa transição que eu respondo
a essa pergunta, dizendo o seguinte. Para quem não conhece, Espinho é um
concelho pequeno que fica ali na extremidade do Distrito de Aveiro, muito próximo
do Porto, aliás de cuja área Metropolitana é fundador. E é um concelho muito
peculiar do ponto de vista político, porque tem zonas muito social-democratas e
zonas muito socialistas, nomeadamente a zona piscatória é muito socialista –
muito mesmo. E por isso nós tivemos durante muitos anos dificuldade em vencer
eleições e, nas eleições autárquicas, a Câmara oscilou sempre entre o PS e o
PSD.
Nós em 1993 perdemos a Câmara Municipal, e perdemos
copiosamente a Câmara Municipal. Mas em 97, então, levámos, desculpem-me a
expressão, uma pancada monumental. E o partido vinha de um tempo em que tinha havido
uma refiliação e nós passámos de 800 militantes, vejam bem, para 56 militantes.
E portanto ninguém queria liderar o PSD nessas circunstâncias – oposição na
Câmara, oposição no país (foi na altura em que o Eng.º Guterres ganhou o
governo) e o partido sem meios, sem meios humanos, inclusivamente, nem pessoas
tinha. E portanto lá teve que ser o presidente da JSD que assumiu o encargo de
reanimar o PSD e eu posso-vos dizer que é a coisa de que mais me orgulho na
minha vida política que é já – como aliás se nota – muito prolongada. Eu já
tenho mais anos de vida política – estava aqui a pensar - do que de vida não
política. Comecei na Assembleia Municipal aos 20, tenho 42, portanto tenho 22
de exercício de funções políticas e 20 de vida mais tranquila.
Mas é a coisa de que eu mais me orgulho. E para aqueles
que têm essa vocação de participar na vida da comunidade de uma forma mais
próxima eu sou o principal… eu incito-vos a seguirem esse impulso, porque é de
facto das coisas mais maravilhosas que há – e por isso eu gosto muito de
partilhar essa experiência – foi partir quase do zero. Eu fui candidato uma vez
à Câmara e perdi, fui candidato segunda vez e tornei a perder, à terceira não
fui eu, era o número dois que passou para primeiro e eu passei para a
Assembleia Municipal, e nós ganhámos. Nós durante doze anos fomos sempre os
mesmos, sempre a fazer o mesmo combate, até afirmarmos as nossas ideias.
Estivemos dezoito anos sem ganhar uma eleição naquele concelho e desde 2009 que
não nos lembramos de perder.
Portanto, se eu tiver de partilhar alguma coisa desse
momento que foi assim muito fugaz, eu diria que a JSD é sempre um reduto de
vontade, de afirmação e, às vezes, mesmo que seja com uma idade mais tenra não
deixa de ter um contributo, não por essa circunstância da idade, mas sobretudo
por aquilo que sejam os valores, as convicções, as crenças que nos animam. Nós
tínhamos ali uma equipa, escassas cinco dezenas de pessoas que acreditavam que
eramos capazes de fazer melhor. E fomos à procura disso. É mais ou menos o que
estamos a fazer hoje no país, noutra escala e noutra dimensão.
O que fazer para convencer os indecisos? Deixem-me
partilhar convosco aqui uma reflexão que me parece também importante para nós
nos mobilizarmos para esta eleição.
Eu há pouco falei, na intervenção, de alguns episódios,
daquilo que são as minhas opiniões sobre a realidade política e os
protagonistas políticos e os nossos opositores políticos. Aquilo que também são
os nossos principais motivos, valores que prosseguimos. Creio que nós todos
devemos ter em conta uma circunstância que é esta: em 2011, 50% dos eleitores
portugueses confiaram no PSD e no CSD/PP. E eu acho que nós temos que dizer às
pessoas, porque é verdade, que elas não se enganaram em 2011, quando votaram no
PSD e no CDS, para inverter o rumo da governação em Portugal.
É verdade que muitas dessas pessoas, com o tempo, com a
exigência das medidas que nós tomámos, com algumas falhas que também tivemos porque
nós não fizemos tudo bem (tivemos as nossas falhas e as nossas omissões), é
verdade que muitas pessoas, dessas, se afastaram de nós. Duvidaram que fossemos
capazes. Duvidaram do caminho que estava a ser seguido. Duvidaram da eficácia
desta medida, da necessidade daquela outra. Eu, aliás, acho que qualquer um de
nós teve essas dúvidas – qualquer um de nós. E é legítimo.
Mas eu pergunto: o que é que as pessoas quiseram quando
votaram em nós em 2011? O que quiseram? Quiseram mudar. Quiseram um país que se
endividasse menos. Quiseram um país que apostasse mais na inovação, na
capacidade de sermos competitivos. Que tivesse uma economia que se desenvolvesse
pela sua capacidade de produzir riqueza, e não só pelo consumo, que era muitas
vezes induzido, ou mesmo financiado para que pudesse ter momentaneamente a
economia a mexer.
Foi para isso que as pessoas votaram em nós. E votaram
também por outra razão. Porque nós estávamos de mão estendida a pedir que nos
emprestassem dinheiro para pagarmos as nossas principais despesas. Porque
tínhamos uma Troika em Portugal que tinha um programa de três anos no horizonte
e que as pessoas queriam que não fosse mais do que três anos, como é na Grécia,
por exemplo.
Foi para isso que as pessoas votaram em nós. E eu
pergunto: hoje, compreendendo que a meio do mandato houvesse muitas dúvidas,
houvesse algumas incertezas, e portanto muitas pessoas que se afastaram de nós,
eu pergunto se hoje há ou não há razões para que as pessoas que votaram nesta
coligação em 2011 concluam que tomaram a melhor opção, e muitas outras que o
não fizeram possam também concluir que, apesar de não terem acreditado em nós
naquela altura, nós fomos capazes de pôr o país a crescer economicamente, fomos
capazes de manter e salvaguardar o funcionamento dos principais sistemas
públicos, fomos capazes e estamos a ser capazes de gerar oportunidades de
emprego e de diminuir, portanto, a nossa taxa de desemprego.
A questão, portanto, que nós devemos colocar aos
indecisos é esta: àqueles que votaram em nós há quatro anos, é colocar-lhes a
questão se é o Partido Socialista que corresponde àquilo que era a sua
expectativa de mudança em 2011, ou não.
Àqueles que não acreditaram em nós e que não votaram em
nós, é perguntar-lhes, diretamente, se querem viver num país com défice, com
dívida, com despesa descontrolada, com PPPs, com Parques Escolares não
controladas, com rendimentos mínimos não controlados. Se querem viver nesse
país ou se querem viver num país onde o Estado dá as condições à sociedade,
para que a sociedade, ela própria, crie as oportunidades que possam favorecer o
cumprimento dos projetos que as pessoas e as famílias têm para as suas vidas.
Quem entender que a receita é a receita do Partido Socialista,
quem entender que o Estado deve financiar, endividando-se, o funcionamento da
economia, tem que votar no Partido Socialista. Mas sabe que, mais ano menos
ano, nós vamos ter contas públicas desequilibradas, vamos acabar por não ter
dinheiro para pagar os financiamentos que andamos a fazer e vamos acabar por ir
pedir, como pedimos três vezes desde o 25 de Abril, ajuda externa para
equilibrar a situação – esses votam no Partido Socialista.
Aqueles que acreditarem que nós temos capacidade em nós
próprios de termos uma sociedade próspera, simultaneamente solidária, como
somos felizmente, que dá as oportunidades a todos, independentemente do sítio
onde as pessoas nascem, ou da condição económica das famílias em que nascem,
oferece, o Estado oferece a todos as oportunidades de se poderem valorizar e de
poderem singrar – esses devem votar na coligação.
A questão é muito simples, e vamos reconduzir àquilo que
vos disse há pouco: nós temos que perguntar às pessoas que friamente,
objetivamente, decidam se o país estava melhor em 2011 ou está melhor em 2015.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Terceira ronda de perguntas. José Paulo Miller, do Grupo
Laranja, João Carlos Costa, do Grupo Castanho.
José Paulo Miler
Boa noite a todos. Em primeiro lugar queria saudar o Dr.
Luís Montenegro, cabeça de lista da Coligação Portugal à Frente do meu
distrito, que é o Distrito de Aveiro, certo de que conseguirá uma grande
vitória no dia 4 de outubro. Gostaria de saber como conseguiu conciliar a
função de líder parlamentar com a ligação ao distrito que o elegeu de forma a
poder continuar a ser um interlocutor presente. Muito obrigado.
João Carlos Costa
Boa noite, Dr. Luís Montenegro. Antes de mais, honra-nos
bastante a presença de V. Exa. na Universidade de Verão. Assistimos neste
momento à desorientação e até desespero do PS devido à perceção por parte do
seu Secretário-Geral da possibilidade remota da vitória nas próximas eleições
legislativas. Decorrente da afirmação do Dr. António Costa, a respeito da
ex-Presidente do PSD, dizendo que entre ele e a Dra. Manuela Ferreira Leite
existe, e passo a citar: "uma identidade de pontos de vista muito
significativa”, fim de citação, não pondo, portanto, de parte a sua
participação num eventual governo do PS. Não estará o Dr. António Costa a
tentar conquistar votos à direita? Obrigado.
Luís Montenegro
Muito obrigado pelas questões. Eu vou tentar, vão-me
desculpar, para não me repetir, poupar algum tempo agora nestas respostas,
porque já percebi que tenho excedido aqui um bocadinho o tempo que temos
disponível. Mas é assim… (percebi que esse sorriso foi de concordância,
resta-me respeitar esse sinal). Compreendem que nem sempre é fácil dizer muito
rapidamente, ou responder às questões tão pertinentes como aquelas que
suscitaram. Estas aqui permitem-me.
A primeira questão é muito simples. Eu creio que é função
de qualquer deputado, independentemente das outras funções que pode ter no
grupo parlamentar, respeitar o mandato que lhe é confiado pelos eleitores. E
esse mandato tem duas dimensões. Tem uma dimensão nacional, que é aquela que
está na Constituição, mas tem também uma dimensão de representação regional,
nomeadamente como veículo de transmissão superior, vamos chamar-lhe assim, de
tudo aquilo que são preocupações, anseios, necessidades que a população, e os
representantes também da população, nomeadamente os autarcas, lhe vão transmitindo,
e eu prezo muito que os deputados do PSD possam cumprir os seus mandatos dentro
desse quadro.
Quanto à segunda pergunta, eu já falei há pouco sobre
isso, vou apenas acrescentar o seguinte: só de facto alguma desorientação pode
explicar aquilo que foi a afirmação do Dr. António Costa. Porque, para quem já
se esqueceu – acho que ninguém se esqueceu -, a Dra. Manuela Ferreira Leite,
como Presidente do PSD, e antes mesmo até, noutras funções, evidenciou e pôs a
nu, muitas vezes, as insuficiências, os erros clamorosos que a governação do
Partido Socialista, dos governos de que o Dr. António Costa fez parte, e dos
governos que o Dr. António Costa apoiou como número dois do Partido Socialista
do Eng.º Sócrates, evidenciou, dizia eu, a Dra. Manuela Ferreira Leite, esses
erros de uma forma clara e evidente.
Ora, eu não sei exatamente que identidade programática é
que o D. António Costa vislumbra aqui, mas das duas uma: ou o Dr. António Costa
mudou radicalmente de opinião e, portanto, tudo aquilo que andou a defender
estes anos todos já não é aquilo que defende. E isso não consta, porque não bate
certo com o Programa Eleitoral que ele apresentou, que é, grosso modo , uma segunda versão daquilo que foram os governos de
2005 a 2011.
Ou o Dr. António Costa, pura e simplesmente, quis criar
um facto político para desviar a atenção daquela que tem sido a sua
incapacidade de gerir o Partido Socialista, as opiniões internas dentro do
Partido Socialista, e a sua aproximação aos partidos da esquerda mais radical.
Coisa que o Dr. António Costa fez, nomeadamente, quando em janeiro último se
colou, se acotovelou com o PCP e com o Bloco de Esquerda para poder dizer ao
país: eu, António Costa, sou mais syrizista do que qualquer bloquista ou
comunista.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Dou agora a palavra ao Joel Pinto, do Grupo Roxo, e
agradecendo ao Grupo Verde o convívio simpático desta noite, dou a palavra ao Alex
Morais Ramos.
Joel Pinto
Boa noite, Dr. Luís Montenegro. Numa altura em que Portugal
padece muito por causa do endividamento do Estado, que considerações lhe merece
a possibilidade de fazer uma reforma da Constituição que inclua um limite para
o défice. Obrigado.
Alex Morais Ramos
Muito boa noite a todos. Em primeiro lugar, em nome do
Grupo Verde, gostaria de agradecer ao Dr. Luís Montenegro por ter partilhado
este fantástico jantar connosco. É sempre uma honra e uma mais-valia conviver
com quem muito sabe e bem faz. Esperamos também, sinceramente, que em outubro o
PS faça uma excelente oposição, isto para que o Dr. Montenegro faça um ainda
melhor trabalho.
[APLAUSOS]
Passando agora à pergunta, o Grupo Verde gostaria de
saber qual é a sua opinião acerca dos círculos uninominais. Obrigado.
Luís Montenegro
Muito obrigado pelas vossas questões. Quanto à primeira
questão, a questão do limite do défice, a chamada regra de ouro, que nós
preconizamos possa ser inscrita na Constituição. É preciso que compreendam o
seguinte: os governos têm que ter a sua margem de manobra para governar, para
tomar as suas medidas, as suas iniciativas e adotar as suas políticas. Mas há
uma coisa que cada governo e cada governante deve ter em linha de conta. É que
o mundo não acaba no momento em que aquele governo e aquele governante exerce
funções. E as consequências das suas decisões muitas vezes prolongam-se por
muito anos, muitos mais anos do que aquele político, aquele governante esteve
em funções.
Aquilo que aconteceu em Portugal, por exemplo, ao nível
do endividamento, ao nível do défice também, mas sobretudo ao nível do
endividamento, foi gastar, foi fazer uma despesa e foi deixar uma fatura que
não é aquela geração que teve o retorno dessa despesa que vai pagar somente.
São as gerações seguintes, a vossa e a que vem a seguir a vós.
Nós quando defendemos limites ao endividamento e ao
défice é por uma razão acima de qualquer outra: justiça e solidariedade
inter-geracional. Nós não temos o direito, hoje, de castrar o desenvolvimento e
a prosperidade daqueles que virão a seguir a nós. Nós temos a obrigação de
cuidar daquilo que é a vida das pessoas hoje, mas de cuidar daqueles também que
vêm a seguir a nós.
Claro que quem tem problemas de consciência com este
princípio tem mais dificuldade em assumir colocar isto na nossa Lei
Fundamental, porque colocar isto na nossa Lei Fundamental significa que estamos
no domínio dos princípios essenciais da governação e estamos no domínio de uma
lei que é, por natureza, duradoira, e por natureza só alterável por uma maioria
qualificada. E esta regra não pode estar sujeita à conjuntura política do
momento.
Deixem-me dizer-vos uma outra coisa, já agora, para
compreenderem o alcance daquilo que foi também a nossa governação para o
futuro, uma das leis mais emblemáticas deste quadriénio, e que foi muito
criticada por muita gente, mesmo dentro dos nossos partidos. E às vezes nós
temos de compreender. As coisas antes de acontecerem são sempre suscetíveis de
poderem ser discutidas.
É a chamada Lei dos Compromissos e, relacionado com isso,
dos pagamentos em atraso. O que significa basicamente que os órgãos da
Administração só devem fazer uma despesa quando têm suporte financeiro para
poder comprometer aquele montante. É evidente que isto não pode ser uma coisa
rígida, tem que ter alguma flexibilidade, há despesas, há contextos em que isso
tem que ser feito. Mas vejam bem: aquilo que era uma catástrofe para o país,
hoje está assumida na Administração Central, está assumida na Administração
Local, é boa para a economia, porque as empresas recebem a tempo e horas quando
prestam um serviço a uma entidade pública.
E com isso o país não parou. A regra de ouro tem que ser
vista neste prisma. O país não vai parar se nós tivermos uma limitação àquilo
que é a nossa capacidade de endividamento, sobretudo em momentos onde a nossa
economia está a crescer e onde também é preciso criarmos as condições para
enfrentar aquilo que são os momentos mais adversos. Nós hoje, por exemplo,
podemos dizer ao país quando há alguma turbulência nos mercados – e houve,
recentemente, quer por causa da crise grega quer agora por causa das bolsas asiáticas
– nós podemos dizer ao país que estamos prevenidos. E estamos prevenidos
porquê? Porque tivemos limitações. Porque não nos deixámos levar por aquela que
era a cantiga socialista que era: sempre que a economia começa a crescer vamos
já desbaratar aquilo que são as mais-valias que estamos a conquistar. Foi nisso
que deu o período socialista, foi nesse desbaratar em que caímos e em que
chegámos a um défice, em 2010, de 10% - vejam bem - de 10%, quando tinha sido
estimado no Orçamento menos de 3%.
É isso que faz com que hoje Portugal pague sete mil e
quinhentos milhões de euros, só de juros, daquilo que foram as despesas que
foram feitas antes de nós. Mais do que aquilo que gastamos no Serviço Nacional
de Saúde.
Segunda questão. Estou absolutamente convicto que,
sabendo os portugueses aquilo que está em causa, e tendo nós a capacidade de
que vos pedi há pouco possam também ser participantes, nós temos o direito e
temos a obrigação de ganhar as eleições para não deixarmos que o país
desperdice todo o esforço e o sacrifício que fez nestes anos.
[APLAUSOS}
Dep.Carlos Coelho
Senhor Dr. Luís Montenegro, nós temos um princípio na
Universidade de Verão de dar, por razões de cortesia, a última palavra ao nosso
convidado. Portanto, eu não torno a usar este microfone. É este o momento para
lhe agradecer o facto de aqui ter vindo, ter respondido às nossas perguntas e responder
ainda às perguntas dos últimos Grupos.
Queria recordar-vos que amanhã a última aula da
Universidade de Verão começa às 10 horas. Sublinho isso pela circunstância de, à
medida que nos aproximamos do final da semana, o cansaço começar a imperar. E
depois à tarde teremos as simulações de assembleia e o último
jantar-conferência.
E dou a palavra ao Grupo Encarnado, através do Carlos
Pinho, e ao Grupo Cinzento, através do João Fortes.
Carlos Pinho
Boa noite, Sr. Deputado Luís Montenegro. Antes de
formular a questão queria citar uma frase. "Estão muito enganados se pensam que
depois do que fizeram ao país, vão atrelar o PS a este comboio do
empobrecimento e da austeridade.” Fim de citação. O Sr. Deputado deve
lembrar-se destas palavras proferidas pelo deputado Ferro Rodrigues no debate
quinzenal que se realizou a 10 de outubro de 2014.
Sr. Deputado, o Grupo Encarnado, depois de uma exaustiva
análise à citação referida, sente-se extremamente confuso. E pede-lhe ajuda
para que nos possa esclarecer quem, quem é que afinal diz a verdade aos
portugueses: o PS ou o PSD? Obrigado.
João Fortes
Antes de mais, boa noite, caros colegas, caras colegas,
Exmo. Senhor Deputado Luís Montenegro.
Ora, após a vigência do memorando de entendimento com a
Troika, que foi essencial para a reestruturação da dívida soberana, é sabido
que alguns setores de funcionamento do Estado foram afetados. Ora, o Ensino
Superior foi uma das áreas afetadas, com redução orçamental e subsequente
questão de financiamento. Para mim, e para a maioria de todos nós que aqui
estamos presentes, creio eu, o Ensino Superior representa uma instituição de
excelência na produção de conhecimento, na transferência de conhecimento nas
nossas empresas, na inovação, no fomento do empreendedorismo e na
internacionalização.
De que modo crê que uma reorganização da rede de
instituições de Ensino Superior, com consórcios, fusões ou mesmo parcerias,
ajudaria a um ensino superior de maior qualidade, com partilha de recursos, ao
mesmo tempo que poderia reduzir os custos associados. Muito obrigado.
Luís Montenegro
Muito obrigado também pelas vossas questões. Eu queria só
dizer que há pouco não respondi a uma questão, mas vou ter que pedir desculpa,
se responder a essa questão vou falar mais vinte minutos e não creio que
estejam interessados. Porque só essa dava para fazermos aqui uma conferência que
é a questão do sistema político e dos círculos uninominais.
Deixo só assim uma luz. Eu tenho uma posição minoritária
no PSD porque sou dos que, porventura, menos acredita que o sistema político
vai resolver o seu problema de mobilização dos eleitores com a alteração das
regras de eleição dos deputados.
É um assunto que é importante, eu creio que o nosso
Programa vai no caminho mais adequado, mas que… só para reflexão geral, eu
deixo aqui esta referência. Sempre que há eleições, há elevadas taxas de abstenção,
um pouco por toda a Europa, por todo o mundo até, mas sobretudo na Europa. E há
quem venha com essa proposta de modificar o nosso sistema político e querendo
com isso dizer que é isso que vai resolver o problema. Ora, vejam, por exemplo,
aquilo que sucede em sistemas políticos que têm sistemas eleitorais desses, e
onde os problemas de abstenção são igualmente muito delicados e com uma
dimensão parecida com a nossa.
Mas essa é uma matéria que, eu peço-vos desculpa,
demoraria objetivamente muito tempo a poder explanar o meu pensamento, e estou
disponível, sempre que isso for o vosso entendimento, a poder partilhar
convosco esse pensamento.
Sobre as questões que colocaram agora: a primeira que é,
de facto, uma questão muito relevante, porque eu acho que é a questão que as
pessoas colocam em casa. É a questão de saber quem é que tem razão, quem é que
não tem razão, onde é que está a verdade, onde é que não está a verdade?
Eu se calhar propunha-me fazermos aqui todos um
exercício. Eu sei que é difícil, e sei que somos altamente suspeitos para o
fazer, somos altamente suspeitos para o fazer. Mas para tentar responder à
questão que me foi colocada eu diria o seguinte: vamo-nos tentar abstrair que
somos todos do PSD. Sei que é difícil, mas vamos tentar. É um exercício eu nós
devemos fazer até, colocar-nos na situação daqueles que temos pela frente, na
rua. Também não vamos colocar-nos na situação de sermos dos outros partidos.
Vamos colocar-nos na situação de não termos partido, de não termos uma
preferência politico-ideológica marcada. Estamos absolutamente livres de poder
identificar aquilo que é melhor, que é pior, aquilo em que acreditamos ou
aquilo em que não acreditamos.
Imaginem uma pessoa em casa, uma amigo nosso, um familiar
nosso ou uma pessoa que não conhecemos, a fazer este exercício.
O Partido Socialista foi governo, as políticas são, mais
coisa menos coisa, aquelas que hoje constam do Programa Eleitoral do Partido
Socialista, as pessoas foram as mesmas que estiveram no governo, no parlamento,
nos institutos, mais coisa menos coisa. Claro, há sempre uma diferença, entrou
aquele, saiu aqueloutro, mas elas são as mesmas. O Dr. António Costa, aliás,
fez gala disso, esteve nos governos do Eng.º Guterres e do Eng.º Sócrates.
Pronto, está assumido. O Dr. Ferro Rodrigues que, aliás, proferiu a tal frase.
Vamo-nos abstrair e vamo-nos colocar na pele dessa
pessoa. As mesmas políticas, as mesmas pessoas, acham que alguém acredita que
vão produzir um resultado diferente? Francamente.
E façamos o mesmo exercício relativamente ao PSD e ao
CDS/PP. Isto chama-se previsibilidade. As pessoas sabem com o que contam do
nosso lado e também sabem com o que contam do lado do Partido Socialista.
Agora, a questão é esta: empobrece mais um país que tem
défices de 10%, que faz endividamentos superiores à sua capacidade de criar
riqueza, que não consegue ter empresas suficientemente competitivas para
absorverem aquilo que é a força de trabalho, a qualificação da força de
trabalho da sociedade? Empobrece mais isso o país ou empobrece um projeto em
que o endividamento é controlado, o défice é baixo, procuramos mesmo um
superavit das nossas contas, temos menos endividamento e, portanto, menos
encargos com a dívida? Damos mais oportunidades às empresas de inovarem,
criarem, captarem investimento para que haja criação de emprego e de riqueza,
havendo criação de emprego e de riqueza o Estado tem mais meios para poder
financiar os seus sistemas públicos, tendo mais meios precisa de cobrar menos
impostos do que aqueles que cobra numa situação de emergência.
Onde é que está o empobrecimento? É um país mais pobre
aquele que vai de mão estendida pedir ajuda externa, como foi o país dos
governos do Partido Socialista? Ou é um país mais pobre aquele que diz: eu crio
riqueza suficiente para as despesas que tenho de fazer e para a minha sociedade
poder financiar a vida quotidiana das pessoas, dos serviços públicos que servem
as pessoas?
A resposta é livre, nós não podemos obrigar as pessoas
todas a pensarem como nós. Mas eu não acredito que a maior parte dos
portugueses não tenha um entendimento mais próximo daquilo que é a nossa visão,
daquilo que são os nossos resultados, do que aquilo que é a visão e o resultado
do Partido Socialista. É porque há aqui uma questão que nós não podemos
escamotear. Está comprovado: as pessoas sabem quais são as consequências das
opções do projeto do Partido Socialista e das opções do projeto do PSD e do CDS/PP.
As pessoas sabem.
É evidente que nós, hoje, podemos dizer ao país que já
não temos de tomar as medidas de austeridade, de emergência, que fomos forçados
a tomar por causa da situação que herdamos, não foi daquilo que nós fizemos. Eu
já vos disse há pouco: quem, em Portugal, começou a reduzir os salários na
Administração Pública foi o Partido Socialista; quem, em Portugal, cortou nas
pensões e congelou mesmo as pensões mínimas, foi o Partido Socialista.
Agora há uma diferença: é que o Partido Socialista tomava
essas medidas nos famosos PECs a cada três meses, porque nos três meses
seguintes arrependia-se, não conseguia concretizar as medidas que tinha
acordado e, portanto, andava de PEC em PEC como, infelizmente, a nossa Grécia –
nossa, na Europa – anda de resgate em resgate. Essa é a visão socialista do
problema que nós temos.
A nossa visão foi a de: tivemos uma dificuldade, é
verdade, tivemos de ter medidas difíceis, chamem-lhe de austeridade – porque
elas são de austeridade, de facto –, de emergência. Mas hoje nós estamos a
removê-las, hoje estamos a devolver impostos, baixando a carga fiscal das
famílias e das empresas; hoje estamos a devolver rendimento aos funcionários
públicos, que têm um corte que é inferior ao corte que tinham em 2010; hoje nós
estamos com uma economia que exporta mais, estamos com uma economia que gera
mais emprego, estamos com uma economia que dá mais receita ao Estado para que o
Estado possa cumprir a sua missão.
Vejam bem: o Partido Socialista que acordou connosco a
reforma do IRC. Nós descemos a taxa de imposto sobre as empresas para que fosse
atrativo investir em Portugal, nomeadamente numa Europa que é também muito
competitiva. Apesar de termos um mercado único, há uma disparidade grande, que
é um dos desafios da Europa, a uniformização fiscal, a aproximação, que é uma
questão de justiça, é uma questão de concorrência também leal entre as
economias que fazem parte do grande mercado europeu.
Mas vejam bem: nós descemos, com o acordo com o Partido
Socialista, o IRC, para termos mais investimento. O Partido Socialista rompeu
esse acordo – como rompeu quase todos –, e hoje o Partido Socialista tem de
engolir – perdoe-se-me a expressão - o resultado que adveio dessa decisão. É
que nós, com menos taxa de imposto, conseguimos gerar mais receita para o
Estado.
[APLAUSOS]
É por essas e por outras que os pais da austeridade, os
verdadeiros pais, os progenitores da austeridade em Portugal, são os
socialistas. É o Partido Socialista. A génese da austeridade é a génese que
advém do desequilíbrio das contas públicas. É isso que traz a austeridade. Não
foi o percurso que nós percorremos nos últimos anos que traz a austeridade.
Esse traz a recuperação, traz a remoção da austeridade.
Essa conversa, eu respeito. A questão é bem colocada: há
muita gente em casa que se pergunta de que lado está a razão, de que lado está
a verdade? Eu se calhar - não queria dizer aconselho, mas enfim – sugiro que
nós possamos dizer às pessoas que nos questionam assim que se abstraiam e que,
individualmente, façam essa ponderação. Nós aceitaremos o veredito das pessoas.
Aliás, o nosso primeiro-ministro tem dito, e bem, nós
precisamos de estabilidade, de governabilidade em Portugal, e é bom que as
pessoas decidam exatamente o que querem. E se não concordarem connosco, então,
que decidam maioritariamente que a opção tem que ser outra. Mas é preciso
decidir de uma forma inequívoca, como ele disse.
Última questão, relativamente ao Ensino Superior. Só para
dar nota do seguinte: houve muitas medidas positivas tomadas no Ensino
Superior, porventura houve outras que não surtiram tanto efeito e houve até
algumas omissões. Eu não tenho problema em assumir que possa ter sido assim.
Não é uma das matérias que eu mais domino. É uma das matérias que a JSD mais
tem puxado, por que mais tem puxado no Parlamento. E tem conseguido. É um
trabalho às vezes invisível – também já alguém me perguntou pelo trabalho dos
deputados da JSD. Há um trabalho invisível, que não se vê, por trás da cortina.
Em que os deputados, nomeadamente da maioria, interagem com os membros do
governo. Eu lembro-me, por exemplo, quando foi das bolsas que isso aconteceu.
Como agora, relativamente aos estágios.
Enfim, há várias intervenções que não são conhecidas do
grande público, mas eu quero-vos dizer que, na parte que me diz respeito, com o
conhecimento que tenho da intervenção dos deputados da JSD, se podem orgulhar
também disso.
Mas relativamente ao Ensino Superior, eu acho que o
grande desafio - foi colocada aqui a questão da escala, da organização –, o
grande desafio que nós temos em Portugal está muito bem identificado e todos o
conhecemos. Nós temos de ter um ensino que seja adequado às necessidades da
nossa economia, que dirija as pessoas para aquilo que o país precisa de fazer.
Que requalifique muitas daquelas que foram enganadas nos últimos anos – e houve
vários milhares de portugueses e de portuguesas que foram enganados. Neste
sentido: porque adquiriram qualificações que estão em excesso, que não têm
saída profissional. E, portanto, nós temos que rapidamente corrigir esse tiro.
Nós não podemos ter os mesmos cursos em cada faculdade. É um erro.
Nós não podemos ter… – é a minha opinião, ou agora vou falar
mais a título pessoal – eu admiro-me como é que pode haver uma Faculdade de
Engenharia Civil em cada capital de distrito, que é basicamente o que acontece
em Portugal. Eu pergunto se é esse sentido, até de qualidade, de qualificação
das próprias universidades, que nós procuramos em Portugal. Ou se procuramos
quatro ou cinco polos, cada um com as suas especializações. Esse é que é o
desafio.
E é o desafio de nós termos uma relação direta entre
aquilo que é a nossa atividade económica, a organização do Estado, os desafios
da sociedade e aquilo que são as qualificações que nós damos aos nossos jovens.
E isso, infelizmente, foi tema durante muitos anos e é tema durante muitos anos
e não tem tido ainda a correção que é devida.
Mas creio que isso implica a coragem que este governo,
apesar de tudo, teve ao longo destes últimos anos de instar as próprias
instituições de ensino a caminharem, não para estar a pulverizar as ofertas de
ensino e a competir de uma forma desenfreada, oferecendo exatamente as mesmas
coisas, mas obtendo uma ligação maior à vida empresarial e podendo, com isso,
fazer aquilo que eu dizia na primeira intervenção – e com isto termino –, olhar
para vocês, olhar para quem tem vinte anos, para quem está na universidade,
para quem está a sair da universidade, e poder dizer, hoje, em 2015, temos um
país que está a construir as bases para que todos possam, aqui, oferecer à
sociedade a sua qualificação, com isso realizando o seu projeto de vida
pessoal, familiar e profissional. Isso é um valor intrínseco de um
social-democrata, isso é uma das razões pelas quais estamos aqui.